6 - Então Esse Pode Ser O Fim De Tudo?

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I'm getting tired, and I need somewhere to begin
And if you have a minute, why don't we go
Talk about it somewhere only we know?
This could be the end of everything
So, why don't we go?
So, why don't we go? ♪

Já haviam se passado quase três semanas desde que Maria deu entrada no hospital, nada de diferente havia acontecido, era do quarto de UTI para a sala onde recebia as sessões de quimioterapia e vice e versa. Ela ainda estava se recuperando da última cirurgia. Sentia seu corpo cada vez mais debilitado, estava cansada. Mas aliviada, sabia que já não tinha mais muito tempo e logo aquela dor acabaria.

Parece egoísta pensar dessa forma, desejar que a morte, já próxima, chegasse ainda mais rápido. Mas a dor física e emocional já estava grande demais para que a morena pudesse suportar. Ela não queria deixar a esposa, mas sabia que Natasha não estaria sozinha.

- Então você derrubou os seus óculos em um paciente e deixou o fio guia em outro? - perguntou Natasha, rindo da história que Peter Parker, um dos internos, contou.

Maria sorriu feliz, fazia um tempo que não via esposa dar uma gargalhada tão sincera.

- Bom, eu tive muitos dias legais também, eu juro. - o jovem se defendeu enquanto seus colegas também riam ao se recordarem do acontecido.

- É, mas não são tão engraçados quando a gente conta. - Kate Bishop falou.

- Você é muito desastrado, parece alguém que eu conheço - Maria falou e deu uma risadinha fraca - Amor, ele facilmente poderia ser seu filho.

Natasha colocou a mão no peito e fingiu estar ofendida enquanto Peter e os outros riam.

- Talvez em outro universo. - a ruiva respondeu se rendendo a piada.

Após verem Clint se aproximar, Peter, Kate e mais outros dois internos que estavam no quarto de Maria se afastaram abrindo espaço para o médico.

- E então, como se sente Maria? - Dr Barton perguntou.

- Excepcional, eu poderia pular naquele triatlo em Washington no sábado. - respondeu com uma risadinha fraca. - A menos que minha filha apareça, mas ela tá demorando.

O médico sorriu negando com a cabeça, já estava acostumado com as piadas e respostas irônicas de Maria. Era assim que ela lidava com tudo isso.

- Vejam seus e-mails. Muitas cirurgias eletivas foram adiadas devido à escassez de sangue. Estamos montando um centro de doações no andar de baixo. - Barton comunicou aos internos e se retirou do quarto.

- Eu vou doar, me inscreva. - Maria pediu para Peter. Natasha a olhou surpresa e o jovem médico ficou em silêncio sem saber o que responder já que ela só poderia estar apta a doar se estivesse saudável. - Ah, qual é, eu tô morrendo, alguém tem que rir das minhas piadas.

Natasha balançou a cabeça negativamente e soltou um riso nasal, ela já deveria esperar que Maria faria uma piada assim outra vez. Peter riu aliviado e Maria se divertiu ao ver a rápida mudança de expressão no rosto dele.

(...)

- Me ajudem! Me ajudem!

Clint estava no corredor dando instruções para sua interna, Kate, quando escutou os gritos desesperados de Natasha e viu os enfermeiros correrem para o quarto de Maria. Os aparelhos apitavam sem parar e Natasha estava assustada sem saber o que fazer, então correu para fora do quarto chamando por ajuda.

- Dr Barton, rápido! - ela pediu ao ver o médico correr em sua direção.

- O que aconteceu?

- É a Maria, ela não tá respirando. - disse afoita. - Tenho medo de que esteja morrendo. - sua voz falhava enquanto as lágrimas escorriam sem parar.

- Danvers. - ele chamou pela médica que estava do outro lado do corredor.

No quarto ele e Carol se depararam com Maria tremendo e tentando respirar pela boca. Barton logo deduziu que as vias aéreas pudessem estar obstruídas.

- Fluxo alto, mas a saturação está despencando. - Carol falou checando o peito de Maria com o estetoscópio.

- Pressão caindo. - Bishop avisou.

- Vamos ter que entubar você, Maria. - disse Clint, enquanto se apressava para colocar as luvas.

Maria balançou a cabeça freneticamente negando o procedimento. Ela sabia que esse poderia ser um caminho sem volta, estava fraca demais.

- Não e-eu... Eu tô bem, só me dê um... - sua voz ficava cada vez mais falha, quase inaudível.

- Não fala querida, poupa energia. - Natasha pediu.

- Se puserem o tubo tal... Talvez eu nunca acorde. A nossa filha... - tentou continuar, mas começou a tossir, sua garganta estava seca demais e o ar já não chegava aos seus pulmões, ela desmaiou antes de poder terminar de dizer que tinha medo de não conseguir voltar para conhecer a filha.

- Saturação em oitenta. - Bishop alertou.

- Oxigênio tá no máximo, o que quer fazer? - Carol perguntou para Natasha.

Ela estava assustada, seu peito subia e descia em uma velocidade preocupante, não tinha certeza do que deveria fazer.

- Natasha? - Clint chamou esperando pela resposta. - Estamos ficando sem tempo.

- Entubem.

Natasha sentiu a cabeça girar e sua visão escureceu, nem percebeu quando uma das enfermeiras a retirou do quarto. A ruiva sentiu o chão abrir sob seus pés.

Do lado de fora da porta de vidro do quarto da UTI, Natasha observa os médicos lutando para salvar a vida de Maria, seu coração se despedaça em agonia. Ela sente uma mistura avassaladora de desespero, medo e impotência. É como se o mundo ao seu redor parasse. Cada segundo parece uma eternidade, sua mente está em um turbilhão de pensamentos e emoções. Ela observa Maria deitada no leito, tão frágil e indefesa, e sente um aperto no peito ao vê-la lutando para respirar.

A sensação de ver o amor da sua vida à beira da morte e não poder fazer nada para ajudar era dilacerante. Era como um buraco negro enorme a puxando para a escuridão, para um buraco tão fundo que ela não seria capaz de sair. Lágrimas escorrem pelo rosto de Natasha enquanto ela toca o vidro frio, desejando estar segurando a mão da esposa e poder transferir sua própria força para ela. Mesmo que naquele momento se sinta fisicamente fraca e sua mente esteja mergulhada em um estado de pânico.

A sensação de impotência é avassaladora, mas Natasha se agarra à esperança de que, de alguma maneira, Maria vai superar esse momento crítico. Enquanto os médicos trabalham freneticamente, Natasha luta internamente para manter a fé de que, no final, o amor vencerá. De que Deus terá um pingo de misericórdia e deixará que Maria pelo menos conheça a filha antes de partir. Afinal, o cara lá em cima deve isso a elas.

Olá Pra Sempre | BlackhillOnde histórias criam vida. Descubra agora