♪ Only love, only love can hurt like this
Only love can hurt like this
Must've been a deadly kiss
Only love can hurt like this ♪Antes dos médicos prepararem Maria para a ECMO, Natasha passou no quarto para deixar um beijo na esposa. E no fundo, mesmo que inconscientemente, para se despedir também... Ela estava se esforçando para ter esperança, mas a cada dia que passava e ela via Maria piorar, ficava mais difícil manter a fé de que as coisas dariam certo.
- Olá pra sempre! - Natasha falou próxima ao ouvido da esposa e deixou um beijo em sua bochecha. - Pouco depois que nos casamos, fomos morar em um sobrado que tinha um escritório no andar de cima e eu achava que era assombrado. - começou a contar para Clint, Carol e Steve enquanto fazia um carinho nos fios ralos do cabelo de Maria. - E toda vez que eu subia para trabalhar, a Maria dizia "Adeus pra sempre" - a imitou, tentando fazer uma voz fantasmagórica como a esposa costumava fazer. - Isso sempre me fez rir. Até o diagnóstico dela... Dali em diante eu disse pra ela que não queria mais ouvir isso, e de repente, ao invés de "adeus" ela disse "olá", e isso acabou se tornando uma coisa nossa.
Natasha deu um pequeno sorriso ao se lembrar, e então se levantou da beira da cama e olhou diretamente para Clint, que não vestia roupa cirúrgica, diferente dos outros médicos presentes no quarto.
- Eu estou pronta.
(...)
Mais uma vez, Natasha se viu sentada naquela sala de espera, sozinha e com medo. A incerteza começou a tomar conta da ruiva, que imaginava se havia feito realmente a escolha certa. Se fazer Maria passar por mais um procedimento invasivo só para lhe dar mais alguns dias, com sorte, algumas semanas, teria sido a escolha certa. Será que realmente valia a pena todo o sofrimento apenas para conhecer a filha?
- Você precisa comer alguma coisa. - falou Clint, se aproximando com um copo de café e um salgadinho que pegou na máquina do corredor.
- Eu sou egoísta? - ela perguntou, ignorando o comentário anterior do médico. - Fazendo ela passar por isso agora?
Houve um breve momento de silêncio, até que o moreno decidiu compartilhar uma experiência.
- O meu filho, a primeira vez que eu o vi, gritando a plenos pulmões, foi como se o meu coração tivesse saído do peito. - contou com um sorriso tímido. - O tanto de amor que eu experimentei naquele segundo... eu não me importava com o que acontecesse no resto da minha vida. Isso foi o bastante.
Natasha assentiu com um sorriso fraco, seu olhar marejado expressava gratidão pelas palavras do médico, que a tempos se tornara seu amigo, elas foram o suficiente para acalmar seu coração, pelo menos por aquele momento.
O sol já se punha no alto do morro quando Maria e Natasha chegaram à Boston. Um misto de alegria e frio na barriga tomava conta do casal naquele momento, elas finalmente deram o primeiro passo rumo a liberdade, rumo a reconstruir suas vidas longe das sombras de suas famílias problemáticas.
- O que foi? - perguntou Maria, enquanto tentava decifrar a expressão de Natasha, parada em frente a entrada de seu novo lar. A ruiva analisava cada centímetro da fachada do sobrado.
- Não sei, é que no anúncio do site as fotos não pareciam tanto com uma casa mal assombrada. - a ruiva torceu o nariz e Maria riu, a morena largou a mala, que havia acabado de tirar do carro, e envolveu por trás a cintura da ruiva com seus braços descansando seu queixo no ombro da mais baixa.
- Não é mal assombrada, só precisa de uma reforma. - afirmou analisando a casa, nas fotos o sobrado realmente parecia um pouco melhor, mas nada que uma boa pintura e uma limpeza no jardim não resolvesse. - Para um casal recém casado e que acabou de se formar na faculdade, acho que fizemos um bom negócio.
- Eu tenho certeza que sim. - outra voz se fez presente atrás delas fazendo com que dessem um pequeno salto para trás. - Oh, não queria assusta-las, perdoe-me. Sou a Rebeca, corretora de imóveis, vocês falaram comigo por telefone.
- Oh, sim, claro! - Maria sorriu gentilmente
- Eu vim lhes entregar as chaves da casa e colher as assinaturas para os documentos.
Ali mesmo na rua, sobre o capô do carro, elas assinaram todos os papéis que a corretora pediu. Agora, com as chaves em mãos, Natasha e Maria estavam radiantes, segurando as caixas com seus pertences enquanto caminhavam em direção à porta. A brisa suave do fim do dia brincava com seus cabelos, criando uma atmosfera ainda mais incrível e especial.
Ao pisarem na varanda, o casal deixou as caixas no chão e Maria colocou a chave na fechadura. Ela trocou um breve olhar, seguido de um sorriso com Natasha e então abriu a porta revelando o interior da casa. O rosto das duas se iluminaram com sorrisos ainda mais radiantes, enquanto elas olhavam ao redor, imaginando como seriam suas vidas nesse novo lar.
Logo após finalizarem de carregar as caixas e malas, que não eram muitas, do carro para dentro de casa, Maria pegou a mão de Natasha e a levou até a enorme janela que dava vista para outro jardim enorme nos fundos da casa.
- É lindo! - falou Natasha enquanto abraçava a esposa.
Esposa.
Ela sorriu com o pensamento, era tudo tão novo e inacreditável. Elas passaram os últimos quatro anos planejando isso e finalmente conseguiram. Se casaram em segredo no cartório, apenas elas, não precisavam de mais nada e nem ninguém. E agora, menos de uma semana depois, estavam do outro lado do país, em uma cidade nova, arrumando a mudança para o seu novo lar, prestes a começarem em ótimos empregos. Não poderiam pedir mais nada, tudo estava indo de acordo ao planejado.
- Natasha? - Clint a chamou baixo, ele não queria acordá-la, pela sua expressão suave e o sorriso fraco no lábios, o moreno sabia que aquela era primeira vez em dias que a mulher tinha um sono tranquilo.
- O que? Tá tudo bem com a Maria? - perguntou um pouco assustada.
- Sim, calma. - ele sorriu gentilmente colocando a mão sobre o ombro da ruiva com a intenção de lhe acalmar. - Só vim lhe avisar que deu tudo certo, Danvers e Rogers já finalizaram o procedimento, você já pode vê-la se quiser.
- Obrigada por me acordar.
- Eu quase não fiz isso, pensei em te deixar dormindo por mais um tempinho, você parecia estar em um sono bem tranquilo.
- Eu estava sonhando com a Maria, com o dia em que nos mudamos para nossa primeira casa, foi um dos dias mais felizes da minha vida. - contou com um sorriso fraco e uma lágrima solitária escapou.
Se apegar às lembranças tem sido o remédio mais eficaz para Natasha contra o medo, a incerteza, a insegurança, a ansiedade e claro, o seu coração partido.
- Maria! - Natasha exclamou entrando no quarto.
Naquele momento a morena sorriu aliviada, ela achou que não acordaria para ver Natasha outra vez e conhecer sua filha.
- Olá pra sempre! - falou vendo a esposa se aproximar.
Natasha caminhou até a beira da cama de Maria e deixou um beijo casto em seus lábios antes de começar um carinho lento em seu rosto pálido e um pouco gélido.
- Como está se sentindo?
- Melhor agora que você está aqui. E eu sonhei com um nome pra nossa bebê. - contou com um sorriso e Natasha a olhou com expectativa. - Bella!
- Eu amei.
- É por você. Quer dizer beleza.
Um sorriso ainda maior se iluminou no rosto de Natasha. Com os olhos cheios de lágrimas outra vez, ela se debruçou sobre Maria e deixou um beijo longo em sua testa. A morena fechou os olhos apreciando o contato e mesmo com dificuldade, esticou o braço para puxar a esposa para um abraço.
O amor é lindo, mas também é doloroso. Amar pode doer, e Natasha sabia disso. Ela aceitou essa possibilidade no momento em que amou Maria pela primeira vez, só não imaginou que doeria tanto assim. Que seria como arrancar uma parte de seu coração sem anestesia.
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Olá Pra Sempre | Blackhill
FanficNatasha e Maria, duas mulheres corajosas e apaixonadas que enfrentam uma série de desafios em seu casamento. Natasha, grávida de sua primeira filha, vive uma felicidade abafada pela triste notícia de que Maria está lutando contra o câncer. Enquanto...