5 - O Coração Do Nosso Bebê

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♪ You drew stars
around my scars ♪

"Qual a sensação de carregar uma outra vida dentro de você?"

Com certeza uma pergunta complexa para a maioria das pessoas. Natasha se pegou pensando sobre isso há alguns meses quando ela e a esposa decidiram iniciar o processo de fertilização in vitro. Como seria essa sensação? Além das mudanças físicas óbvias, mudaria mais alguma coisa nela? Carregar um outro ser dentro de si é tão realizador e mágico como dizem? Eram tantas perguntas, mas nenhuma resposta. Para tê-las, ela teria que vivenciar essa situação, e isso a assustava um pouco.

- Se não sairmos agora vamos nos atrasar. - avisou Maria, adentrando o quarto. Natasha terminava de pentear o cabelo em frente ao espelho enorme que ficava dentro do closet. - Meu Deus! - exclamou ao entrar no closet - Quando me perguntarem qual é a oitava maravilha do mundo, eu vou dizer seu nome. - falou abraçando a cintura da ruiva por trás.

Natasha sorriu deixando a escova de cabelo de lado e colocando suas mãos sobre as de Maria que agora estavam repousadas sobre sua barriga, ainda sem nenhum volume.

- Acha que é menino ou menina?

- Não sei, o que você quer que seja? - Natasha devolveu a pergunta.

- Não tenho preferência, mas acho que é menina.

- E o que te faz ter tanta certeza? - perguntou olhando nos olhos de Maria através do espelho.

- Não sei, eu só sei que é. - falou e Natasha acabou rindo.

- Não faz muito sentido.

- Nem tudo nessa vida faz sentido, querida. Há coisas que não foram feitas para serem compreendidas.

- Você seria uma ótima filósofa, sabia? - disse após se virar e dessa vez foi Maria quem riu. - De qualquer maneira, só vamos saber o sexo daqui alguns meses.

- É, eu sei. Mas eu já estou ansiosa.

- Nós percebemos. - Natasha sorriu caminhando para fora do closet.

- Apostei com o Tony que seria menina. Ele acha que é menino.

- E essa aposta ta valendo o que? - Natasha arqueou a sobrancelha

- Se ele ganhar vai ser o padrinho.

- Mas nós já iríamos convidá-lo pra ser padrinho de qualquer forma.

- Eu sei, mas a aposta deixa as coisas mais emocionantes, principalmente quando se trata do Tony e seu ego gigante. - Maria riu.

Faz alguns dias que Natasha completou um mês de gestação, e nessa tarde estava marcada a primeira consulta à obstetra para que elas dessem início ao pré-natal.

- Tá tudo bem, amor? - Natasha perguntou ao ver Maria se apoiar em um móvel da sala logo após descer as escadas.

- Sim, foi só uma tontura, já passou.

- Tem certeza que quer ir? Podemos remarcar ou eu posso ir sozinha.

- Já tivemos que remarcar no início da semana por causa da químio, não vamos fazer isso de novo, e eu também não vou deixar você ir sozinha. É a primeira ultrassom do nosso bebê, eu quero estar lá para segurar a sua mão. - falou de forma terna e confiante. - Eu estou bem, não se preocupe.

Natasha respirou fundo e assentiu.

- Ok, mas me fale imediatamente se sentir qualquer coisa diferente.

- Sim senhora. - disse com um sorriso de lado e acabou recebendo um tapa leve no braço. - Ei, isso dói.

- É pra ver se você toma jeito... Eu te amo. - disse olhando em seus olhos.

- Eu também te amo, ruiva.

(...)

Já deitada na maca, Natasha sentiu o gel frio entrar em contato com a sua pele, que se arrepiou um pouco enquanto a médica o espalhava por sua barriga. Ela suspirou, estava nervosa e Maria percebeu isso. A morena tocou a mão da esposa com ternura e a tomou para si logo após deixar um beijo ali. Elas olhavam com expectativa para a tela do monitor fetal esperando o primeiro sinal do bebê delas.

A médica a princípio ficou em silêncio, deslizava com cuidado o aparelho sobre a barriga de Natasha, parecia procurar o bebê lá dentro. Foram poucos segundos, mas o suficiente para aumentar a ansiedade das duas mamães. Incomodada com a situação, Maria iria perguntar se estava tudo bem, mas não o fez ao ver um sorriso fraco brotar nos lábios da médica.

- Olha ele aqui. - Dra Cho apontou para tela do equipamento de ultrassom.

Para os olhos leigos do casal, o que viam era apenas um borrão, mas era o borrão mais bonito que já haviam visto.

- Querem ouvir o coraçãozinho do bebê?

Sem hesitar, ambas balançam a cabeça positivamente. A médica sorri e volta a ajustar a máquina, ainda mais nervosas elas assistem a doutora apertar alguns botões com a mão esquerda, enquanto com a direita, continua a segurar o aparelho sobre a barriga de Natasha. De repente, um som suave e rítmico preenche a sala. Naquele momento, Natasha teve uma de suas dúvidas sanadas, realmente era mágico e realizador. O som da vida de seu bebê lhe trazia uma sensação de conexão profunda e reforçava um vínculo que ela nem havia se dado conta de quando havia sido formado. Imediatamente, com um sorriso enorme no rosto, a ruiva busca o olhar da esposa, que está com lágrimas nos olhos.

- É o som do coração do nosso bebê. Nosso pequeno milagre. - falou Maria, sua voz falha saiu quase como um sussurro. Ela sorriu enxugando as lágrimas e se inclinou para deixar um beijo casto nos lábios de Natasha. - Obrigada por isso, meu amor.

O som suave dos batimentos cardíacos do bebê era facilmente o som mais bonito que Maria já havia escutado. Era como ser tomada por uma onda de felicidade, que a derrubava, mas também a fazia se sentir viva outra vez. Uma sensação que ela jamais conseguiria definir em palavras, era extraordinário, estava testemunhando a vida em sua forma mais pura. Durante todo aquele momento ela foi capaz de esquecer a dor física e emocional que sentia, os problemas e medos não existiam ali. E por um segundo ela chegou a se questionar como seria possível um ser do tamanho de um grão de arroz ser capaz de curar todas as suas cicatrizes.

Olá Pra Sempre | BlackhillOnde histórias criam vida. Descubra agora