Olá Pra Sempre | Blackhill

1 - Um Passo de Cada Vez

♪ 'Cause I don't wanna lose you now
I'm lookin' right at the other half of me
The vacancy that sat in my heart
Is a space that now you hold ♪

Maria estava ansiosa pela chegada de sua primeira filha. Depois de quase um ano tentando, sua esposa, Natasha, havia conseguido engravidar. A ruiva estava quase entrando no oitavo mês, o quarto estava praticamente pronto para a chegada da bebê. Com exceção do mais importante, o berço. Maria não havia deixado que Natasha contratasse ninguém para montar, nem mesmo que chamasse alguém da família, ela mesma queria fazer isso.

Maria sempre sonhou em ser mãe. Mas ela não queria ser a que gesta. Ela queria ser a que acompanha esse processo. Ela queria poder ver a esposa linda com um barrigão. Queria ser a pessoa que acordaria no meio da madrugada para comprar alguma comida maluca só porque Natasha está com desejo. Queria poder cuidar da esposa e conversar com o bebê em sua barriga. Queria segurar a mão dela e estar presente em todas as consultas ao médico.

E no início ela conseguiu, mas desde que as doses de remédio e quimioterapia aumentaram, tem ficado cada vez mais difícil. Às vezes ela mal tem forças para se levantar da cama, a quimioterapia tem a consumido mais e mais a cada dia. Hoje ela acordou melhor, era por volta das oito quando levantou da cama. Se sentia mais forte, com mais ânimo e vigor. Maria tomou seu café, ou pelo menos tentou colocar algo em seu estômago, as perdas de apetite tem se tornado cada vez mais constantes. E então seguiu até o quartinho branco, com decoração de lua e estrelas, ela estava decidida a montar o berço de sua filha naquela manhã.

O primeiro susto veio há dois anos, Maria descobriu um sarcoma sinovial nos ossos. Seria algo simples a ser resolvido com cirurgia e talvez um pouco de quimioterapia. Mas nem tudo saiu como planejado, o câncer já havia chegado até o pulmão, formando metástases. Maria convive com elas desde então, a quimioterapia fez efeito nesses dois anos, as metástases diminuíram bastante e ela pode viver bem na medida do possível e foi então que elas decidiram dar início ao sonho de aumentar a família. Mas nos últimos meses a situação de Maria tem piorado.

O segundo susto veio quando Natasha estava saindo do terceiro mês de gravidez, Maria teve uma crise que a levou a desmaiar e cair da escada, a situação estava piorando outra vez, mas ainda havia uma chance com a quimioterapia. E é essa chance somada a felicidade de finalmente estarem esperando um bebê que as mantém fortes e esperançosas.

Natasha já estava há algum tempo em seu escritório quando decidiu fazer uma pausa para esticar as pernas e ver como sua esposa estava. Ela tem trabalhado de casa para conseguir cuidar de Maria desde então.

- Querida, o que está fazendo? - Natasha perguntou entrando no quarto infantil.

- Nossa filha não pode nascer sem um berço.

- Maria... Não deveria estar fazendo tanto esforço assim.

- Eu estou bem, amor. - sorriu fraco - Não se preocupe.

- Eu sempre me preocupo. Vou preparar uma vitamina pra você tomar junto com os remédios, já está quase na hora.

- Obrigada, amor!

Natasha saiu deixando a esposa sentada no chão enquanto parafusava a grade lateral do berço. Maria suspirou pensando na quantidade de comprimidos que teria que ingerir dali à alguns minutos. Ela estava tão cansada de tudo isso.

- Amor, eu já...

O copo na mão de Natasha caiu se espatifando no chão e espalhando a vitamina banana e abacate por todo o carpete rosa.