Capítulo 3

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Embora duas semanas tivessem se passado desde aquela noite de desgraça, a sensação torturante de humilhação continuava latente nas entranhas de Riki. Sem lugar para se expressar, a fúria incurável irrompeu por dentro. Toda a vergonha ficou presa a ele.

Não era surpresa que desde aquele dia Riki não voltou a pisar nas ruas de Midas. Não queria nem ouvir falar sobre sexo casual, na verdade, ele mal conseguia fazer a primeira sílaba da palavra sair da sua boca. Em vez disso, mordeu a língua mal-humorado. Dia após dia, a ruga franzida em suas sobrancelhas ficava mais profunda.

Se ele ao menos pudesse tirar aquele acontecimento abominável de sua mente, ele viveria como um homem feliz. Mas sempre que fechava os olhos, o rosto frio e belo do homem voltava a sua cabeça, como se estivesse marcado em seus sentidos.

"Quando você erra o alvo, costuma pegar alguém e ganhar dinheiro dessa maneira?"

Com seu tom arrogante cheio de intimidação, sua voz excepcionalmente fria se agarrava a Riki como um zumbido incessante em seus ouvidos.

Merda!

E ainda permanecia a dolorosa miséria de não poder fazer nada além de gemer. O que realmente o irritou não foi a ridicularização de Iason, embora ridicularizar a vida sexual de um homem fosse uma flagrante violação dos costumes de bom senso nas favelas.

Mesmo em um motel na periferia da cidade, Iason não havia perdido um pingo de sua dignidade e majestade. Longe disso, para o Loiro de Tanagura que tinha tudo o que queria e mais um pouco, Riki nunca seria nada além de uma prostituta que tinha o hábito de dar em cima de homens e se vender por trocados.

Esta constatação foi mortificante.

Não havia nenhuma dúvida sobre isso. Em primeiro lugar, fora ele quem havia argumentado com força e o irritado até conseguir o que queria.

Sua teimosia e orgulho eram aos olhos de Iason o mero reflexo de seu caráter egoísta e mimado.

Só o pensamento fez sua garganta arder.

"Não entenda mal, mestiço. Você é o suborno tão desajeitadamente imposto a mim em troca do meu silêncio. Então faça o que eu digo e gema pra mim, então ficaremos quites. Nada mais."

A observação fria e calculista, que não poderia ser tomada como outra coisa senão a linguagem abusiva que era, apunhalando sua massa cinzenta. O veneno purulento às vezes brotava e escaldava seu orgulho.

Ele cerrou os dentes. Suas têmporas latejavam. Ele não tinha experimentado tais sentimentos de repulsa desde que deixou o Guardian. E, no entanto, ele sabia em seu coração que não havia cura fácil para a coisa febril latejando dentro de seu corpo.

Dentro dos limites restritos de um mundo infantil, ele sempre podia tapar os ouvidos e fechar os olhos para o que era doloroso. No Guardian, esse era o único "direito" permitido a uma criança imatura.

Mas agora as coisas eram diferentes.

Independentemente da maturidade ou imaturidade de um homem, todas as lamentações e reclamações do mundo não fariam diferença. Nas favelas, onde imperava a lei da selva, as palavras e ações de um homem sempre voltavam para mordê-lo.

Riki também conhecia essa realidade — a realidade de que ele não poderia fazer o que havia acontecido simplesmente desaparecer. Isso pesava muito sobre ele.

Ele estava em um lugar feio. Não havia horas suficientes no dia para transferir todas as memórias para algum esquecimento fora da rotina diária. Mas ele não tinha outro caminho a seguir senão persuadir a si mesmo. Isso o tornava insuportavelmente miserável.

Ai No Kusabi - The Space Between by Rieko YoshiharaOnde histórias criam vida. Descubra agora