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Las Vegas, 1990.
Há quem diga que os anos 70 era a década da "Música Boa". Bem, eu não discordava, mas aquela melodia que preenchia meus ouvidos era tão... Maravilhosa! Cara, eu era mesmo generoso, quando distribui minhas bençãos por ai, eu não imaginava que fosse gostar tanto de uma música desde Crazy for You, da Madonna.
— Quem que canta essa música? — eu perguntei para o balconista.
— Um banda nova, Pearl Jam, Lorde Apolo. — ele me respondeu, empurrando um filé de peixe muito bem assado para mim.
— Não pedi isso.
— Eu pedi. — ouvi uma voz atrás de mim, e me virei para ver.
Senti o típico cheiro e o frescor da maresia, mesmo eu estando longe o suficiente do mar.
Me virei e abri um sorriso para o homem à minha frente, estiquei a mão para que ele apertasse, mas fui completamente ignorado. Argh! Esse velho rabugento.
— Tudo bem, sem apertos de mão!
Meu tio balançou a cabeça para o balconista, o dispensando, o rapaz fez uma reverência e partiu para atender outros clientes.
— Curtindo Las Vegas? — ele me perguntou com ironia, se sentando ao meu lado. Ele pegou talheres e passou a cortar o filé de peixe em pequenos pedaços. — Não vai se servir?
— Sim, na verdade — respondi sua primeira pergunta — E, hm, não, obrigada, não sou muito fã de peixes.
Ele me lançou um olhar ríspido.
— O que faz aqui, tio? Certeza que não é de seu feitio curtir uma noite no Cassino Lótus.
Percebi que já não tocava mais a bela música de antes, e fiquei meio decepcionado! Enfim, Pearl Jam, vocês tem minha admiração!
— Você deveria esconder melhor as coisas, se quer que elas sejam um segredo.
Bufei.
— Ok, eu sabia que você ia ficar sabendo, mais cedo ou mais tarde, — balancei a cabeça levemente para que os fios saíssem da frente de meus olhos, aquele corte de cabelo era tendência entre os mortais naquele ano — Mas eu esperava que fosse tarde. Quem te contou?
— Isso não interessa, Apolo. — ele fez uma pausa para mastigar — Os mortais daqui cozinham bem.
Eu franzi as sobrancelhas.
— Isso não devia irritar você? Tipo, cara, eles estão fritando os seus súditos.
— Eu tenho muitos súditos.
Fiz uma careta, e olhei para frente no exato momento em que um cara lindo — nem perto de como sou, claro — piscou para mim enquanto dançava. Sorri de volta para ele.
— Apolo. — meu tio me censurou e eu o encarei de novo — Você sabe o quão perigoso pode ser isso? Já não bastava sua profecia sobre o Fim dos Deuses, que pode ser sobre um filho meu, você ainda me faz outra, que diz que nossos sangues vão se juntar e fazerem sabe-se lá o que com o Olimpo?
Cara, Poseidon era meu tio menos descolado. Quem fica de carranca em um lugar tão legal como o Cassino Lótus?
— Olhe, eu bem que sou o deus das profecias, sinto cada uma delas e sou mesmo o Guardião do Oráculo — eu comecei, tentando suavizar minha voz — Mas não sou eu quem as faço, sabe? Ou você acha que eu gosto da ideia de um filho meu nadando por ai de mãos dadas com um filho seu?
— Sua criança insolente....
Eu estiquei as mãos em um PARA TUDO, e chamei o rapaz balconista novamente.
— Mais um filé daquele peixe, por favor, por minha conta! — o rapaz reverenciou, e saiu com o pedido, eu me virei para Poseidon — Veja só, tio, você precisa se acalmar, sim?
Poseidon se ajeitou no banco, não tão raivoso quanto antes.
— Não há mesmo nenhuma forma de evitar isso? Zeus já não está muito das boas graças comigo desde a antiga profecia, que aliás pode ter a ver com ele também...
Eu neguei prontamente.
— Não tem como evitar que uma profecia se cumpra.
Como deus das profecias, isso era algo do qual eu já havia aprendido à Eras. Você pode tentar de tudo, tudo mesmo, mas de alguma forma, a profecia sempre ia se cumprir. Não era como pragas jogadas, era simplesmente o destino nú e cru.
O deus do mar suspirou, frustrado. Pensei como realmente devia ser meio difícil para ele, com meu pai em cima há milênios. Mas antes ele, do que eu! Já era ruim de mais para mim lidar com o fato da arte dos anos 90 ser tão escassa.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo e ter dado mais alguns aninhos de glamour e benção aos pintores renascentistas...
— Desde quando essa profecia foi feita? — meu tio me perguntou.
— An... desde 1977!
Esqueci de acrescentar "Eu acho". Veja só, quando se é um deus milenar, você acaba perdendo a noção do tempo, e cai entre nós, eu ainda não entendia muito de calendários modernos.
Poseidon deu um pulo do banco que até mesmo eu me assustei.
— Já faz quase 14 anos, Apolo! Você não pensava em contar? Se não fosse por um discuido de Quíron...
— Ahá! Então foi esse pônei fofoqueiro quem me dedurou!
— Você não consegue agir com seriedade mesmo depois de Eras, Apolo. Sua irmã é tão madura, como você não aprende com ela?
Agora eu estava mesmo começando a me irritar com aquele cara.
— Estamos em perigo, não entende? Você só sabe se jogar em futilidades, o que vai fazer depois que sair daqui, ir ao camarim de uma Estrela Pop?
Uma dica se você não quer me ver REALMENTE bravo: não fale algo que meu pai falaria, e muito menos pense que pode falar comigo como meu pai falaria. Eu já odiava o bastante quando saia da boca dele.
Ao nosso redor, todas as pessoas passaram a se abanar ao mesmo tempo, como faziam quando estavam sentindo calor. Percebi que havia me descontrolado.
Pisquei, fazendo aquilo parar. O ambiente tornou-se agradável novamente.
Levei as mãos ao meu bolso, e retirei alguns dracmas de ouro e os coloquei no balcão. Quando me virei para partir, decidido a encerrar aquela conversa nada agradável com meu titio divino, Poseidon reapareceu na minha frente.
— Ao menos me conte como é a profecia. — ele pediu.
E então eu o contei.
Meu velho tio — não ironicamente falando — cerrou os punhos, mas nada falou. Não sei se aquilo era um bom ou mal sinal, mas imaginei que ele estava bem preocupado.
Às vezes ser o deus das profecias te metia em maus bocados.
Concordamos em manter aquele segredo de Zeus, até que fosse inevitável que ele descobrisse.
Bem, se nossos filhos estavam mesmo destinados a se amarem e a talvez destruirem o Olimpo, eu esperava que isso demorasse alguns outros milênios.
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𝗗𝗘𝗦𝗧𝗜𝗡𝗬 ✓ percy jackson
Fantasía𝗗𝗘𝗦𝗧𝗜𝗡𝗢 ✧ Há uma lenda antiga em que diz que "Almas gêmeas é quando uma mesma alma habita em dois corpos", onde pessoas que dividem essa alma tem o mais puro amor verdadeiro entre eles. No entanto, isso pode ser tanto um castigo, quanto algo...