Capítulo 3 - Intempéries.

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A líder da Fogo Vivo (Seele) via seus esforços serem cada vez maiores em trazer conforto aquele povo. Estava acostumada ao povo do Mundo Debaixo sofrer necessidades, afinal era como as coisas eram desde a cisão de Belobog... Mas agora a promessa era que isso deveria mudar e com essa promessa vinha uma esperança. Mas hoje a esperança tinha se esvaído. Era uma população mais carente essa que via agora. Uma gente que em seus dias normais já tinham dificuldades e agora com o frio intenso que se aproximava podia sentir em seus olhos o medo.
Fazia o que era necessário, alimentava fogueiras, reunia os soldados, distribuía os mantimentos. Amaldiçoava o regime opressivo que viveu e ainda vive, as desigualdades, a falta de oportunidade para este mundo. Fechou sua mente, não era hora para sentimentos, tinha um dever, continuou distribuindo sopa para os presentes.

O caminho para Bronya era longo para o vilarejo e o frio aumentava. Senhora Rand seguia com os seus quando um oficial da Fogo Vivo veio em sua direção:
- Senhora! As notícias meteorológicas não são boas. A possibilidade de nevasca está aumentando. Temo que não teremos tempo de terminar nossa missão. Fora isso, se ficarmos presos no vilarejo não poderia precisar quanto tempo ficaremos... E nosso povo precisa da senhora por perto.
- Entendo sua aflição, Roger! Mas agora não podemos nem pensar em voltar e não acabar de abastecer o vilarejo! - Então Bronya se dirigiu aos seus: - Seguimos e com convicção.
- Positivo, comandante Suprema!
Depois de mais quatro horas de missão, o reforço chegou ao destino.

Seele olhava a entrada da vila esperando seus reforços. As fogueiras estavam minguando e a sopa acabando. Será que ainda daria tempo de a missão não falhar? Quando o céu parecia que ia desabar junto à esperança ouviu-se o barulho de pessoas se aproximando. Largou suas atribuições e quase correu para receber os reforços.
Sentiu seu coração parar quando viu de quem era seu reforço. Não conseguiu conter seu sorriso quando viu Bronya. Seu ímpeto foi mais forte que sua razão, apressou-se em abraçar sua amada. Pôde sentir sua pele do rosto fria.
- Que bom que veio, Bronya.
- A certeza não tem que ser só minha de que você virá ao meu encontro se eu precisar.
Bronya se afastou de Seele gentilmente, feliz com o abraço. As borboletas de sua amiga pareciam ter se alojado em seu estômago também. Mas aquele não era o momento para isso. Aproximou-se da multidão de pessoas que tanto precisava deles.
- Estamos para guardá-lo e defendê-lo, povo de Belobog. Não existem mais diferenças entre nós. Meu compromisso como nova Guardiã Suprema é estreitar nossos laços. Vocês podem contar com a gente...
A multidão melhorou seu ânimo. Naquele momento, Bronya sentiu que fez uma boa escolha em ir ao encontro de seu povo. Logo organizou sua equipe a obedecer a Fogo Vivo, organizando os estoques, alimentando as fogueiras, trazendo sua equipe médica aos necessitados. Aquela missão lhe custou o final da tarde toda até o começo da madrugada.

Quando sentiu a estabilidade, Bronya se permitiu sentar ao redor da fogueira e tomar sua sopa. Seele a olhava de longe, atrás daquela fogueira que iluminava seus cabelos prateados tornando-os quase que dourados. Sua vontade de se unir a outra fazia doer seu coração. Puxou uma manta para cima de si e foi andando em sua direção.
- A princesa de Belobog está apreciando sua refeição?
Bronya olhou-a com seus olhos acinzentados e um sorriso delicado apareceu depois de sorver a sopa. Suas bochechas e seu nariz tinham um tom rosado tão bonito. Naquele momento, a chama não era a única capaz de aquecer Seele; sentou-se ao seu lado.
- Amando. Estava com muita fome. - Pegou o pão que estava em sua mão e molhou na sopa. - Não vai comer também?
- Sim, sim. - Um dos guardas trouxe para ela também sopa e pão.
Começou a tomar sopa e comer pão como uma boa refeição.
- Obrigada por ter vindo, Bron. Já estávamos com os estoques críticos e a nevasca se aproxima.
- Sempre faço o meu melhor pelo meu povo, See.
- Eu sei.
A comandante de Belobog terminou a sopa que aqueceu seu corpo e se deixou olhar a amiga que comia sem refinamentos. Eram diferentes nisso, Bronya desde cedo foi criada para assumir seu lugar como Guardiã Suprema, mas tinha beleza no jeito cru de Seele. Era divertido como ela fazia barulhos ao sorver a sopa e que seus lábios se deixavam sujar. Seus lábios tão rosados. Quando se deu conta que estava a fita-la, mudou a direção de seu olhar para as chamas.
Um arrepio de frio estendeu pelo seu corpo, o frio aumentava. As mantas estavam racionadas e as pessoas teriam de dividi-las. Sua manta estava com um de seus comandados que estava guardando a entrada do vilarejo. Antes que dera conta por si estava encolhida, mas isso mudou quando, de repente, a mulher ao seu lado estendeu sua manta por cima de si e se aproximou.
- Não precisa sentir frio, Bron. Minha manta pode ficar com você.
Com a aproximação da outra sentiu um calor além do da coberta.
- Obrigada, Seel, mas não é certo você ficar descoberta, podemos dividir como todos os outros.
- Não seria uma boa ideia... - disse com um sorriso triste que Bronya não pôde entender.
- Não somos amigas?
- É complicado.
Seele então terminou sua comida, limpando sua boca com as costas da mão. Levantou-se do banco improvisado e falou:
- Já está na hora de eu ir dormir. Durma bem, querida.
- Mas eu não entendo porque não podemos ficar juntas. Posso dormir com você? Eu vou ter que dividir barraca com alguém mesmo.
- Melhor não. - Disse Seele e sem olhar para trás se direcionou a sua estadia.
Quando estava em frente a sua barraca, abaixando-se para entrar sentiu uma mão sobre seu ombro.
- Eu senti sua falta. Sempre sinto. Me deixe dormir aqui.
Seele sentiu um baque em seu estômago, suas borboletas que eram tão suas estavam se revirando em seu estômago.
- Se você dormir perto de mim, temo que não poderei me conter, Brony. Não deixe as coisas mais difíceis. - Então entrou na barraca, mas a amiga teimosa entrou junto, puxando-a para si.
- O que você quer dizer com essas coisas? Não gosta mais de mim? Não me tem mais como sua amiga? Não pode ficar perto de mim... - Muitas perguntas invadiam a cabeça de Bronya enquanto sua voz tornava-se mais gritada. Olhou a amiga a sua frente. - Me responde, por favor.
Então Seele não teve como se conter, inicialmente colocou sua mão sobre os lábios da outra para abafar a voz, mas sentiu o vapor quente de sua boca e abaixou delicadamente seus dedos até seu queixo e depois contornou seu rosto. Bronya se assustou inicialmente, mas com a aproximação da amiga aceitou seus lábios, fechando seus olhos.
Bronya sentiu o avanço daquela que era sua melhor amiga e a tomou em seus braços. De repente, tudo aquilo era tão certo. Tomava por si que sua afeição não era tão de irmandade quanto achou antes... Que seus pensamentos na outra mulher também transcendiam a amizade. Deixou-se tomar pelo beijo. Quando terminou sentiu que não precisaria mais de fogueiras naquele lugar. Distanciou ternamente seus lábios dos dela e a abraçou.
- Não parece difícil... Não precisa ser. Posso dormir com você?
- Pode, claro - Seele apressou-se a dizer e Bronya deitou-se ao seu lado. O mundo parecia melhor e mais alegre naquela noite.

Fanfic: Sob Seus Olhos - Bronseele (HSR)Onde histórias criam vida. Descubra agora