Capítulo 3

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Capítulo 3

A batalha com os humanos foi inevitável. Não houve muitas mortes, mas o suficiente para forçar um recuo de seus atacantes. Atheya estava nervosa e desconsolada com o ocorrido. Ela informou que veio em missão de paz, mas, infelizmente, não foi ouvida, o que a obrigou a eliminar vidas preciosas. Vidas que, com a tecnologia de seu planeta, seriam restauradas.

— Humanos, eu já disse que vim em paz. Não voltem a nos atacar.

— VÁ EMBORA! — gritou um soldado com raiva.

Atheya suspirou com pesar. Infelizmente, terá que levar os humanos para seu planeta, mesmo sem consentimento. Não via outra alternativa no momento.

— Está bem, iremos embora. Mas levarei comigo os soldados mortos em combate e os que estão presos e amordaçados.

— NÃO SE ATREVA! — disse, cuspindo as palavras.

Nervosa com o soldado que só sabia gritar, ela se aproximou dele, que se afastou com agilidade. Sentiu o cheiro do medo dele à distância.

— AFASTE-SE DE MIM!

— Levarei os humanos. Eles podem permanecer em meu planeta se desejarem. Quero ver quem vai me impedir. Será você? Venha tentar — disse com voz calma, aguardando a reação do humano, que não se mexeu. — Eu já sabia.

Ela se virou de costas para o humano, fez um sinal com a mão para que seus soldados pegassem todos e voltassem para a nave.

O humano atrás dela pegou um fio de nylon e tentou envolvê-lo em seu pescoço, mas algo o surpreendeu. Ao puxar o fio com força, quase rasgando seus dedos, ele estourou em sua mão.

Atheya olhou para ele balançando a cabeça de forma negativa. O soldado viu desaprovação em seu olhar.

— Não sei o que pretendia com isso, mas nada do que fizer vai me machucar gravemente. — Ela se virou para seus soldados e disse: — Vamos.

Os soldados entraram na nave com os humanos vivos, enquanto os outros já estavam sendo cuidados para evitar que seus corpos começassem a se decompor.

A rainha foi a última a entrar na nave, não se importou muito em olhar para trás, como havia dito para os humanos, eles só permaneceriam em seu planeta se assim desejassem. Não era a favor de manter ninguém ao seu lado sem vontade.

Ela andou calmamente pela nave até o ambulatório onde estavam os corpos sem vida. O barulho dos saltos de sua bota ecoou por todo o corredor.

Chegando em frente à porta, esta se abriu ao sentir sua presença. Ela entrou no cômodo demonstrando toda sua preocupação com os humanos em seu semblante fechado.

— Como estão todos?

— Os humanos vivos estão bem e soltos das amarras, mas, infelizmente, tivemos que deixá-los presos em uma sala com uma porta de campo magnético para evitar que tentassem fugir.

— Entendo. Conversarei com eles quando estiverem mais calmos e devidamente instalados. E os outros?

— Quase todos estão com o corpo intacto, vossa graça. O mais afetado foi o soldado que tentou salvá-la. Estamos intrigados tentando descobrir o que se passou na mente daquele homem para defender uma espécie que para ele o atacava. Isso é um mistério para mim. Espero ouvir a resposta da boca dele em breve. Aqui está ele — disse, conduzindo-a até uma cápsula onde o corpo do rapaz estava sendo conservado por um líquido quase transparente.

Atheya se aproximou e observou o rosto do humano. Lembrou-se do exato momento em que seus olhos se encontraram, os dele pareciam da cor do oceano, um tom de azul intenso.

Havia algo diferente nesse humano. Ele não era como os outros. Ela ainda descobriria por que o achava tão especial, mesmo que todos parecessem iguais.

— Está tudo bem, senhora? — perguntou Randon ao ver a rainha olhar com tanta intensidade para o humano.

— Sim, estava pensando... Além de ser um guerreiro, ele poderá ser o primeiro doador. Temos que encontrar a parceira perfeita para ele — disse as últimas palavras, sentindo um gosto amargo na boca.

— Não sabemos se ele aceitará ficar conosco, senhora.

— Vou persuadi-lo.

— Você planeja aumentar a natalidade da forma tradicional? Não seria melhor criar bebês in vitro? Poderíamos aprimorar nossa genética, mas se optarmos pelo método natural, existe a possibilidade das crianças não herdarem nossos poderes.

— Tenho certeza de que cuidará para que isso não aconteça.

— Certo. Farei uma ampla pesquisa.

— Ótimo — disse, lançando um último olhar ao seu salvador antes de ir até a sala de comando da nave. — Capitão, força total!

— Sim, vossa graça.

Atheya permaneceu sentada na cadeira vermelha enquanto observava um ponto fixo no céu. Sua mente estava em órbita, incapaz de parar de pensar nem por um segundo no humano. Em suas pesquisas, já havia ressuscitado algumas espécies de seu planeta, mas nenhuma tão delicada quanto os humanos. Esperava que isso não se tornasse um obstáculo. Ela estava imersa em seus pensamentos por tanto tempo que não percebeu quando a nave chegou e começou a pousar.

Rapidamente, ela se levantou e limpou suavemente a garganta, sentindo um pouco de vergonha por ter passado tanto tempo pensando no humano.

Ilsa achou que a rainha voltaria para o castelo, ficou impressionada ao vê-la entrar no centro de pesquisas mais avançado de Sharon. Atheya se virou, pedindo delicadamente que Ilsa voltasse sozinha para o castelo e descansasse, pois ficaria no centro científico até ter certeza de que tudo estava ocorrendo bem. Ilsa obedeceu à ordem com um aceno de cabeça, e Atheya seguiu Randon até a sala onde se encontravam os humanos vivos. Pelo olhar deles, não pareciam estar muito contentes, mas isso mudaria se eles aceitassem o que ela tinha a oferecer.

Pensando assim, ela entrou na sala e ficou em pé em frente aos cinquenta homens, enquanto seus soldados montavam guarda para garantir que nada saísse conforme o planejado.

— Caros humanos, sou Atheya, a rainha de Sharon. Temos uma proposta a fazer. Se a aceitarem, serão tratados como um de nós e serão os primeiros humanos a fazerem parte de nossas vidas. No início, tudo será estranho para todos, tanto para vocês como para nós. Se não aceitarem, serão levados de volta para a Terra. Se aceitarem ficar, serão soldados guerreiros e nos ajudarão a aumentar a taxa de natalidade de Sharon, contraindo matrimônio.

A maioria permaneceu em silêncio, alguns riram da proposta.

— O que há de tão engraçado?

— Senhora, deu a impressão de que nos está oferecendo o paraíso. Casa, comida, vestes e nossa própria família — disse um soldado depois de parar de rir.

— Eu entendo. O único problema é que não somos como vocês. Não sabemos o que é o amor ou amar. Talvez possam ensinar a nossas mulheres.

— Tô fora! — disse um soldado, sentando-se no chão encostado na parede que se adaptava ao seu corpo, deixando-o um pouco assustado.

— Algo não o agradou? — perguntou a rainha.

— Não sou chegado em mulheres.

Atheya ficou preocupada, pensou um pouco e sorriu antes de dizer o que veio à mente.

— Tem casais que poderiam gostar de ter você com eles. Talvez isso o instigue a nos ajudar a engravidar a sua futura parceira.

O homem ponderou um pouco sobre o assunto, fez uma careta pensando nos prós e contras, mas em seguida aceitou a proposta.

— Está bem, acredito que será interessante.

— Ótimo, mais alguém quer fazer alguma mudança?

Como ninguém disse nada, ela encerrou a reunião. Foi mais fácil do que imaginara. Cada soldado deve ter sua história, e acredita que não era das melhores para aceitarem de tão bom grado largarem tudo para morar em outro sistema solar.

Atheya: A rainha de SharonOnde histórias criam vida. Descubra agora