007. epifania | RAFE

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Meu sangue ferveu e a bile subiu até a minha garganta. Quis acreditar que eu estivesse alucinando por causa do álcool, mas eu tinha bebido menos da metade da garrafa. Depois, tentei me convencer de que não era ela, mas... Cacete, eu reconheceria aquele rosto fodidamente angelical mesmo depois de três décadas.

Ela desceu as escadas e, mesmo antes que eu pudesse raciocinar, minhas pernas me levaram na sua direção. Minha cabeça latejando e a mão apertada ao lado do corpo para controlar a tensão que fechava minha traqueia.

Nem fodendo. Hailey Leblanc não podia entrar e sair da minha vida quando fosse conveniente e ela, definitivamente, não deveria estar ali.

Me perguntei se ela havia recebido a minha carta porque, se recebeu, talvez não tivesse entendido a raiva e a frustração por trás de cada palavra.

Entrei na cozinha e passei pela sua frente, com os sentidos alterados ao servir um copo com whisky quente, sem gelo. Encostei o corpo no balcão de mármore branco, encarando a movimentação das pessoas através da janela de vidro. Hailey me reconheceu no instante que botou os olhos em mim - ou melhor, nas minhas costas. Pelo reflexo da janela, vi quando ela arrastou os pés preguiçosamente em direção à saída, tentando não ser notada. Lembrei das manhãs de sábado, quando eu precisava sair às pressas pela sua janela antes que fôssemos pegos pelos seus pais - eles me odiavam pra cacete.

A nostalgia fez meu estômago revirar.

E também lembrei de como ela me deixou.

- É como se fosse uma epifania. - limpei a garganta e Hailey paralisou. - Fugir assim sempre foi a sua especialidade, né?!

Dei as costas para a janela e, finalmente, eu a vi, de perto, depois dos 2 anos mais dolorosos da minha vida. Os olhos esverdeados, meio dourados, encontraram os meus.

- Rafe... - disse, pálida. - Eu não esperava ver você aqui.

- Coincidência, não acha? - ri com escárnio. - Eu também não esperava ver você aqui... Ah, na verdade, eu não esperava ver você nunca mais, desde... Você sabe. aquela noite fatídica. - ironizei, dando de ombros antes de empurrar o whisky pela goela.

Hailey permaneceu em silêncio, abraçando o próprio corpo enquanto encarava o chão. Eu sentiria pena dela, se não estivesse tão puto. As frases saíram sem que eu pudesse me ligar e, honestamente, estava pouco me fodendo para filtrar minhas palavras. Não depois do que ela fez comigo.

- Mas não esquenta... - emendei. - Já me acostumei em assistir você fugindo e, se é isso que quer fazer, vá em frente. - estendi o copo em direção à saída. - Isso já não me afeta mais.

Não me importei quando ela recuou como se estivesse levado um tapa.

- Eu sinto muito.

- É bom que sinta. - murmurei, dando um passo na sua direção.

Pousei o copo de vidro na mesa e o empurrei para longe.

- Agora tenho que me despedir. - disse. - Porque ao contrário do que muita gente acha, eu não sou um canalha sem sentimentos. E também não sou um fugitivo. Então, tenho permissão para sair? - perguntei, os olhos fixos no seu rosto.

Hailey inspirou fortemente, tensionando os ombros magros e acenou com a cabeça.

- À vontade.

E essa foi a minha deixa.

Tomei o meu caminho em direção à festa, mais irritado do que nunca e apalpei o sofá violentamente, procurando pelo meu celular.

Maya e uma garota - Jenni? Diana? Sei lá - estavam enlaçadas em um beijo muito mais erótico do que o local permitia, mas nem isso foi capaz de mudar minha decisão.

Merda, precisava sair dali.

Guardei o aparelho no bolso, sentindo a mandíbula doer com um aperto doloroso.

- Não vai se juntar à nossa festa? - Maya perguntou, passando os dedos ao redor da boca para limpar o batom ao mesmo tempo que rebolava no colo da outra garota.

Balancei a cabeça.

- Divirtam-se.

E saí.

Acendi um baseado na esperança de que fosse acalmar os nós no meu peito e a tensão nos meus ombros, mas nada aconteceu.

Esse era o efeito de Hailey Leblanc na minha vida.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora