126. companhia não desejada | HAILEY

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A caixa de pizza parecia grande demais para a minha mão magricela quando desci do carro, tentando me equilibrar sobre as botas de salto que calcei antes de sair de casa. Ok, pode parecer meio ridículo, mas Sarah disse que era sexy, então eu calcei. Queria parecer sexy para ele. Decidi trocar as mochilas surradas por uma bolsa pequena e os vestidos floridos por um preto, decotado. Talvez não fôssemos acabar na cama naquela noite, mas eu quis estar preparada. Encontrei uma lingerie nova, preta e rendada no fundo da minha gaveta. Devo ter passado uma hora na frente do espelho decidindo se usaria ela ou uma vermelha. O vento frio do inverno soprava incessantemente, jogando o meu cabelo para a minha cara. Os fios grudavam no gloss que passei antes de sair do carro. Agradeci aos céus por ter vestido um sobretudo preto.

Minha mão tremia quando agarrei a maçaneta e girei. O cheiro de temperos e massa invadiu as minhas narinas. Meu Deus. Rafe tinha cozinhado? Tinha cozinhando para nós?

 Meu coração batia disparado, cheio de expectativas e quente.

- Uau, com quem você... - comecei, mas as palavras sumiram quando o vi, sentado no sofá.

Rafe estava sem camisa, o peito escultural à mostra e os bíceps contraído. Com os cabelos molhados ele parecia ainda mais atraente - como se isso fosse possível. Deus, ele estava perfeito. Mas não estava sozinho. Eu reconheci os cabelos loiros - ainda que molhados - de longe, as coxas cobertas por uma calça de moletom antiga e uma camiseta que eu jurei ter visto no guarda-roupas de Rafe duas noites atrás. Maya estava lá.

Não só estava lá como estava sentada no colo dele, enrolando o macarrão em um garfo e levando até a sua boca.

- Eu liguei para você. - Rafe disse, limpando o canto da boca. - Você não atendeu, o que aconteceu?

Eu estava atônita demais para responder. Decepcionada demais. Cacete, eu era mesmo uma burra. Estava certa na noite passada quando disse que ele me descartaria. Ou talvez não. Ele nem tinha me beijado de verdade.

- Tem mais macarrão na panela, se você quiser. - Maya disse com um sorriso meio cínico. - Mas se quiser comer essa coisa gordurosa, vá em frente. Só achei que não fosse bom para ele se alimentar com essas besteiras quando está doente, não é, benzinho? - ela passou as unhas grandes pela nuca de Rafe, grudando os lábios à sua bochecha.

Benzinho. Uau.

Precisei de muito esforço para engolir a resposta mal criada que se formou na minha língua. As lágrimas abriram caminho na minha garganta.

- Quer saber? Eu vou embora. - disse, largando a pizza em cima da mesinha. - Coma, se quiser.

No mesmo momento em que pisei firme no chão, Rafe soltou do sofá, caminhando atrás de mim. Eu não queria vê-lo. Nunca mais. Minhas expectativas foram do céu ao fundo do poço em menos de 5 minutos.

- Espera, para onde você vai? - perguntou, andando sobre o asfalto. - Porra, espera, Hails. Fala comigo.

Nem me dei o trabalho de olhá-lo. Ainda bem que estacionei o carro bem perto da república, caso contrário, estaria inundada por lágrimas antes que pudesse fugir.

- Kiara teve uma emergência. - resmunguei a mentira com a voz embargada.

- O que aconteceu? - continuou perguntando, mesmo quando eu entrei no carro e bati a porta com força.

- Nada demais, não se preocupe.

Girei a chave, colocando a minha bolsa no banco de passageiro.

- Mas que porra?! Dá para você falar comigo direito?

Nem respondi. Apenas arranquei com o carro em direção ao bar mais próximo.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora