072. TPM | HAILEY

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Certo.

Eu estava vendada - literalmente vendada - e no banco de carona do carro do meu melhor amigo. Quis socá-lo quando insistiu que eu cobrisse os olhos e se recusou a sair do lugar enquanto eu não estivesse "pronta" - e por pronta eu quero dizer "no melhor estilo Anastasia Grey".

Depois de 10 minutos exigindo uma resposta, desisti. Rafe me dava respostas de pai do tipo "vamos demorar tempo suficiente", ou "se você parar de perguntar o trajeto vai ser menor", mas ele dirigia tão devagar que imaginei que também estivesse vendado.

- Se o seu plano era me fazer parecer com uma personagem de um romance erótico, acho que você está se saindo muito bem. - minha voz saiu em um murmuro meio irritado e meio divertido.

Ele riu.

- Acha que pode começar a me chamar de Sr. Grey agora?

- Nem pensar.

A sua risada esquisita cortou o ar e eu fiquei feliz.

- Sabe que essa é a maior prova de confiança que eu poderia dar a alguém, não sabe? - perguntei, começando a cutucar o canto dos dedos.

- Me sinto lisonjeado. - embora estivesse vendada, quase pude vê-lo sorrindo. - E para de fazer isso, você vai acabar se machucando.

Senti um toque firme cobrir uma das minhas mãos e puxá-la para si. Um grunhido insatisfeito rompeu a minha garganta, mas ele nem ligou. Rafe pousou a minha mão em cima da sua coxa dura feito aço, mas não a soltou, nem aliviou o aperto. E eu gostei.

A palma calejada fazia cócegas no meu dorso e eu conseguia sentir uma onda de calor se alojar no meu peito, intensa e fulminante. Rafe Cameron era um desses caras que, com apenas um toque, era capaz de incinerar uma garota dos pés à cabeça. Engoli em seco quando seus dedos se moveram, enlaçando-se aos meus delicadamente. Precisei afrouxar o nó na minha mão.

- Você sabe que eu não machucaria você, né? - sua voz saiu meio rouca e ele pigarreou baixinho em seguida.

A pergunta me acertou em cheio.

- Por que isso agora? - rebati e nosso dedos se apertaram um pouco.

- Por nada. Só pensei que... Não sei. Quer saber? Esquece isso, é bobagem.

Ficamos em silêncio. Não quis pressioná-lo apesar de sentir o clima tenso sobre nós. Deixei que o momento passasse e, então, respondi:

- Eu sei que você não me machucaria. - saiu com um fio de voz. - Eu confio em você.

Senti uma queimadura de gelo percorrer a minha coluna e se alojar no meu estômago quando Rafe tomou a minha mão e a beijou. Os lábios descansavam no dorso demoradamente e, depois de alguns segundos, ele a devolveu ao meu colo e voltou a manter as duas mãos no volante. Quase reclamei porque gostava do calor da sua pele, mas não quis parecer boba.

Uns 2 minutos depois, o carro girou em 90º e eu me agarrei ao cinto.

- Caramba, você...

- Chegamos.

Arranquei a venda dos olhos com um desespero tão palpável que Rafe riu. Quando vi onde estávamos, quis chorar. As lágrimas começaram a despontar sob os meus cílios e embaçaram minha vista das luzes coloridas, da roda gigante e das montanhas russas.

Deus, eu odiava a TPM.

Me senti uma idiota e prendi a respiração para evitar o choro.

- Não acredito. - minha voz saiu meio trêmula.

- Você está chorando?

Neguei com a cabeça, mas a primeira lágrima escorreu antes que eu pudesse conter. A gargalhada de Rafe preencheu o carro.

- Eu estou de TPM, tá bom?! - exclamei, rindo da situação deplorável que eu me encontrava. - Você não pode fazer esse tipo de coisa com uma mulher de TPM.

- É só um parque de diversões, Hailey. - disse como se não significasse nada, me encarando com aqueles olhos azuis vibrantes e divertidos.

Mas significava. Havia algo de reconfortante em saber que Rafe dava real atenção às minhas reclamações cotidianas. Inspirei fortemente, limpando a maquiagem borrada embaixo dos olhos. Foi o tempo que ele tomou para descer do carro, contorná-lo e abrir a minha porta.

- Isso deve ser uma merda. - a voz soou solidária quando Rafe ofereceu a mão para me ajudar a descer da picape. - Graças a Deus, não nasci com um útero. Eu provavelmente já teria encontrado alguma forma de arrancá-lo.

Andamos lado a lado em direção à bilheteria. Ele parecia realmente interessado em ouvir todo o meu conhecimento sobre TPM, hormônios e cólicas - ou pelo menos fingia muito bem. Tentei explicar, o mais breve e simples possível, como, do ponto de vista médico, o ciclo menstrual funciona.

- Você é uma nerd completa, sabe disso, né?

Fingi estar ofendida, mas era impossível. Eu não conseguia ficar genuinamente irritada com Rafe. Pelo menos não quando ele erguia aquele sorriso de canto e beijava minha testa depois de desviar de um dos meus socos ridículos.

Eu gostava disso... De saber que estávamos bem e que ainda éramos as mesmas pessoas de 5 anos atrás. Talvez com mais traumas, mais segredos e mais medos, mas ainda éramos nós dois.

E isso era o bastante para mim.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora