065. homens com pé grande | HAILEY

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- Está confortável aí? - a voz grave e viril de Rafe reverberou pelo quarto escuro.

Pendurada nos seus ombros feito um macaco prego, eu aconcheguei mais a minha cabeça em seu peito, ouvindo as batidas ordenadas do seu coração. Ri fraco, porque sabia que era uma provocação, mas ainda assim não me importei. Gostava de estar ali.

- Bastante. - murmurei em resposta, com a voz abafada pelos cobertores.

Eu ainda encarava a televisão, extasiada pela cena do episódio passado, quando Chuck - o irmão do Jimmy - bateu a cabeça na bancada de mármore da lavanderia. Meus braços encolheram quando Rafe me puxou para mais perto e minhas pernas se enrolaram nas suas de um jeito meio fofo. Passamos horas ali, daquele jeito, e enquanto toda a trama se desenrolava diante dos nosso olhos mal percebi que Rafe havia encontrado uma forma de levar a mão até o meio dos meus cabelos. O polegar passou pela minha nuca e subiu em um caminho contínuo.

Era a terceira ou a quarta vez no mês que acabávamos assim, enrolados no meio do lençóis depois de alguns episódios de Better Call Saul. Nas outras, só ficamos jogados no tapete da república, às vezes no sofá do alojamento.

Eu gostava disso, dessa sensação de que as coisas estava voltando ao normal. E quando digo normal, me refiro às coisas de antes, quando éramos dois adolescentes estúpidos que tomavam decisões estúpidas, quando meus medos eram resumidos em não deixar meus pais ou Adam flagrarem Rafe escalando a árvore do quintal para invadir o meu quarto de madrugada.

Fechei os olhos, aspirando o cheiro doce e refrescante de pós-barba de menta misturado com o perfume forte.

- Seu pé é tão pequeno. - ele disse de repente, esfregando as pernas contra as minhas meias antes de agarrar o meu pé com a mão.

- Não é. - rebati imediatamente, segurando uma risada quando o toque me fez cócegas. - Você que tem um pé monstruosamente grande. Sério, quanto você calça?

Ele analisava o meu pé coberto pela meia de lhama como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Achei graça.

- Eu calço 42. - respondeu. - Sabe o que dizem sobre homens com pé grande, né?

Não, eu não fazia ideia. Pelo menos não até ver o sorriso malicioso se formando nos seus lábios e o olhar sugestivo erguer uma sobrancelha. Fiquei toda vermelha e me perguntei que barulho faria se eu batesse com o controle da TV na sua cabeça.

- Você é ridículo. - resmunguei, dando um soquinho no seu peito, mas ele foi muito mais rápido.

Sua mão agarrou o meu pulso e ele me girou na cama como se eu não pesasse muito mais do que uma folha de papel. O quadril se arrastou contra o meu quando Rafe se pôs entre as minhas pernas. Foi acidental, óbvio que foi, mas meus impulsos não ouviam o meu cérebro.

Nem percebi que estava de olhos fechados até sua mão agarrar o meu outro pulso.

Santo Deus.

- E agora, Hails? O que vai fazer? - pergunto com a voz meio brincalhona e rouca.

Certo. Uma coisa era ter Rafe brincando de lutinha comigo quando tínhamos 16 anos. Outra coisa era tê-lo agarrando os meus pulsos com o rosto há poucos centímetros do meu quando eu estava prestes a fazer 21 anos.

Achei que fosse derreter. Não consegui pronunciar uma só palavra e me senti patética ao ver o seu sorriso se alargar.

- As mulheres com que eu normalmente saio não têm muitas reclamações a fazer sobre... O tamanho do meu pé. - e deu uma piscadela.

Uma maldita piscadela.

Meu coração parou de bater. Eu sabia que esse era apenas um traço da personalidade narcisista e excessivamente confiante de Rafe, mas não podia deixar de pensar na possibilidade de que ele estaria flertando comigo.

- Não que você saiba. - provoquei, tentando soltar minhas mãos.

Quando ele tinha ficado tão forte?

- Ah, acredite em mim, eu sei quando uma garota fica insatisfeita e, no geral, esse nunca é o caso.

Eu devia mudar de assunto, sabia que deveria.

- Ou talvez seu ego só seja muito grande.

Rafe passou a língua pelo lábio inferior.

- Quer experimentar? Assim você pode tirar suas própria conclusões.

Meu rosto esquentou violentamente e ele gargalhou, se divertindo demais com o meu constrangimento.

- Eu vou matar você. - resmunguei, brava.

- Você não seria capaz, Hails. - disse, finalmente me libertando ao ficar de pé ao lado da cama. - Vou pedir pizza. Frango e cream cheese?

Ainda estava meio desnorteada quando assenti com a cabeça. Ele alcançou o celular em cima da estante e saiu do quarto, me deixando a sós com um constrangimento devastador e um desejo desenfreado.

Fiz uma péssima decisão quando escolhi um cafajeste para preencher o meu cargo de melhor amigo.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora