178. infinita | HAILEY

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O capítulo a seguir contém cenas explícitas.

•••

Passei as quatro horas seguintes escondida debaixo de uma pilha de cobertores, imaginando se, talvez, de alguma forma sobrenatural, eles poderiam me absorver e fazer da minha existência miserável apenas uma lembrança. Não aconteceu. No meio de toda confusão e toda dor física que aquele maldito dia me proporcionou, eu consegui dormir. Era noite quando acordei, soterrada entre quilos de angústia e nervosismo.

E, como se minha mente quisesse me sabotar, percebi que era exatamente dessa forma como me sentia enquanto morava com Adam e meu pai. E então, aconteceu a coisa mais estranha. Uma sensação de alívio esmagadora e quase sufocante me atingiu. Eu conhecia aquele lugar. O ar de familiaridade me consumiu. Sabia como viver debaixo das normas do meu pai, sabia como contornar as coisas quando ele estava estressado, então se eu voltasse...

Se eu fugisse. Se eu me escondesse.

Eu parei. 

Tudo parou.

Aquela não era mais eu. Eu não desistiria e cedia só porque era mais fácil.

Obriguei meu corpo a funcionar e sair da cama. Meus olhos estavam inchados e havia rímel por todo o meu rosto. Olhei para o meu reflexo no espelho do banheiro e odiei o que vi. Não esteticamente, mas o que realmente vi. Eu vi a garota que fugiu quando as coisas se tornaram difíceis demais, vi a garota que cedeu muito fácil ao que não queria, vi a garota quebrada que ficou órfã no momento em que meu pai despedaçou o seu coração.

Eu não queria mais ser aquela garota.

Tirei a roupa do meu corpo e deixei que a água levasse embora todos os resquícios daquele dia. Quando terminei, sabia que precisava fazer algo a respeito, precisava dar um passo além.

Por isso, abri a porta do corredor e pedia a Rafe que entrasse. Mesmo que já tivéssemos compartilhado uma vida inteira, fiquei nervosa. Comecei a cutucar os próprio dedos enquanto o observava tomar o seu lugar na minha cama.

Ele se curvou, apoiando os cotovelos em seus joelhos.

- O que você... O que você veio fazer aqui? - comecei, brincando com a manga do robe de ceda que cobria o meu corpo.

Meu coração batia tão rápido que, por um momento, achei que minhas costelas fossem quebrar. Rafe me olhou fixamente, com aquele olhar intenso e profundo que fez meu estômago revirar.

- Não quis deixar você sozinha. - respondeu.

 Sua voz me fez aquecer por dentro.

- Se eu tivesse avisado, você teria me convencido a ficar em casa, mas...

- Obrigada, Rafe. - sussurrei, pressionando a mão contra os lábios na tentativa de impedir que as lembranças daquele dia voltassem em forma de lágrimas mais uma vez.

De cima, eu vi quando Rafe sorriu de canto. Ninguém disse nada por alguns minutos. Enquanto reunia todos os resquícios de coragem do meu corpo, ele me analisava. Não me incomodei ou fiquei envergonhada com o seu olhar. Na verdade, eu gostei.

- Eu sinto muito por ter ido embora, Rafe. - engoli em seco, tentada a desistir, mas obriguei minha língua a prosseguir. - Eu sinto muito por... Por não ter avisado. Achei que, se eu simplesmente sumisse, seria mais fácil...

- Hails, pare. - interrompeu.

- Não. - sussurrei, dando um passo para perto. - Eu preciso fazer isso.

Respirei profundamente e sentia sua mão encontrar a minha. Seus dedos calejados e grossos enlaçaram-se nos meus da forma mais desajeitada possível, mas foi só nesse momento que o nó na minha garganta afrouxou e a cortina de lágrimas nos meus olhos se desfez. Havia algo grandioso por trás desse gesto sutil e simples.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora