092. confissão | RAFE

155 5 0
                                    

Desde que as coisas voltaram ao "normal" entre nós, precisei aprender a suprimir os meus pensamentos. Hailey era minha melhor amiga. Ponto. Eu não me atreveria pensar que em algum momento fôssemos acabar enrolados nos lençóis ou com a língua dentro da boca um do outro, nem em um milhão de anos.

Até agora.

Durante todo o caminho até o topo da montanha de asfalto, o silêncio foi preenchido por músicas, mas eu não ouvia realmente nada. Estava muito ocupado mergulhado nas lembranças do que costumávamos fazer antes.

Poucas situações eram capazes de me convencer a dirigir por 30 quilômetros em direção ao topo de uma cidade numa sexta-feira à noite - e depois de ter jogado três períodos frenéticos de hóquei. Uma delas era um apocalipse zumbi. A outra era porque minha melhor amiga estava muito interessada em ficar chapada. O lugar ficava cheio durante a tarde, mas às 21h estava deserto.

Quando desliguei a kombi, saltamos para a parte de trás, onde havia dois colchões gastos, alguns cobertores e travesseiros. Fiz força para abrir a porta, revelando as inúmeras luzes da pequena cidade de Munsen.

- Você trouxe...? - Hailey perguntou, meio incerta e eu soltei uma risada.

- Você sabe...

Revirei os olhos, achando graça quando suas bochechas ficaram vermelhas de vergonha. Quando não estava bêbada, ela era um grande exemplo de bom comportamento.

- Sua nobreza me irrita. - respondi, tirando o estojo de metal do bolso.

Seus olhos me analisaram, curiosos. De perto, conseguia sentir o cheiro doce de orquídeas, groselha e ameixa que Hailey exalava. Era engraçado como tudo nela era meio exclusivo. Seus olhos eram algo entre cinza, o azul e o verde. O esquerdo tinha uma manchinha dourada, quase imperceptível, mas depois de ter passado tanto tempo com ela aprendi a notar mais os detalhes das coisas, como a forma que cutucava os dedos quando estava nervosa.

E era exatamente isso que estava fazendo quando ergui o baseado na sua direção.

- E se eu tiver uma crise alérgica? Você vai me levar para o hospital? - perguntou com a voz carregada de pavor. - Meu Deus, eu nem falei com a minha mãe, se eu...

Gargalhei.

- Cacete, relaxa. - girando a fagulha do isqueiro, acendi a ponta do cigarro. - Não vai acontecer nada e eu nem vou deixar você fumar muito. Só experimenta. Se você não gostar, podemos ir para algum cinema no Munsen, tudo bem?

A expressão contraída se suavizou aos poucos e encostou os dedos gelados na minha mão quando tomou o baseado de mim.

- Eu vou ser a última pessoa a te forçar a fazer algo, lembra? - disse, encostando a mão carinhosamente no seu joelho. - E isso nem é a experiência mais necessária do mundo, então se você não quiser... Eu não ligo.

- Eu vou tentar...

E levou até os lábios. Precisei de um dom dramático muito grande para ensiná-la a tragar e um maior ainda para convencê-la de que era absolutamente normal tossir depois de ingerir fumaça.

Não demorou muito para que ela ficasse meio fora de si.

•••

Hailey ria todas as vezes que eu abria a boca. E também encontrou uma forma de enroscar os braços e as pernas em mim. Cerca de uma hora havia se passado desde que estacionamos ali e, naquele momento, estávamos enlaçados sob os lençóis. Sua cabeça apoiada em meu peito e meus dedos brincando com os seus cabelos. Nem debaixo da espessa fumaça de maconha o seu cheiro se perdia. Eu gostava disso.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora