162. dia de ação de graças | RAFE

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Podia parecer estupidez, mas Hailey Leblanc era a única coisa que rondava a minha mente desde o momento que entrei no rinque até o som do apito final, anunciando que Briar estava classificada para a final do Frozen Four. Marquei três gols de doze. Todos para Hailey.

Quando saí do vestiário, com os cabelos molhados, uma calça jeans e uma camiseta surrada, ela foi a primeira coisa que eu vi, mas foi como um vulto, porque no segundo seguinte ela pulou no meu colo e se agarrou a mim com tanta força que fico difícil respirar. Rodeei a sua cintura minúscula com um braço, enterrando o meu rosto em seu pescoço. Aspirei o seu cheiro, guardando a memória gostosa no fundo da minha mente - de onde ela não poderia ser arrancada.

Esse abraço tinha um ar de triunfo e realização. A certeza de que Hailey se importava tanto com a minha desenvoltura no rinque quanto eu era reconfortante. Hailey me apoiava de verdade. Nunca tinha tido isso na vida.

- Eu disse que você ia conseguir! - exclamou e eu continuei andando pelo corredor, com ela nos meus braços.

Encontrei uma posição confortável para segurar o seu corpo com um braço e o patins e o taco com a mão livre. Soltei uma risada e, quando chegamos no estacionamento, perto da minha caminhonete, a deixei no chão. Mesmo assim, Hailey não me soltou.

- Hails... - sussurrei, bem humorado. - Obrigado.

Nos afastamos aos poucos, mas seus olhos continuavam fixos nos meus, como se estivesse me vendo, realmente me vendo. Era intenso e bom. Meu corpo reagiu quando seus lábios se ergueram em um sorriso que mal cabia no seu rosto.

Cacete. Estava mais feliz pelo seu apoio do que por estar na final do Frozen Four.

- Não precisa agradecer. - respondeu ela, olhando ao redor antes de subir as mãos pelo meu peito carinhosamente.

Meu corpo pressionava o seu contra a caminhonete, sem segundas intenções. Desde o primeiro beijo, devia ter desenvolvido algum tipo de necessidade física que exigia tocar a sua pele o máximo de tempo possível.

Aquilo me lembrou da vida antes.

- O que você vai fazer no dia de ação de graças? - perguntei, passando o dedo carinhosamente pela sua bochecha vermelha e quente.

O sorriso diminuiu alguns centímetros.

O feriado começaria em uma semana e meia. A cada esquina um estudante falava sobre o quão empolgado estava para visitar a família e esse tipo de coisa.

- Ahm... Nada.

Franzi as sobrancelhas.

- Você não vai para casa?

- Não. E você? Vai para casa?

- Estou pensando. - respondi. - Está falando sério sobre não ir para casa? São nove dias de feriado. É muito tempo.

Hailey balançou a cabeça, claramente desconfortável. Pensei no que ela faria. Em todos os dias de ação de graças desde que cheguei ao campus, acompanhei Sarah de volta a Outer Banks. Não era exatamente a recepção mais calorosa do mundo, mas quando não estava devorando o banquete exagerado dos Camerons, podia ficar dentro do meu quarto maratonando filmes da Barbie com a Wheezie - não que isso fosse um programa muito másculo, mas era bem mais divertido do que ficar encarando as paredes mofadas da fraternidade.

- Eu estou falando sério. Meu pai vai estar trabalhando e minha mãe... Faz tempo que não falo com ela. - deu de ombros e eu meio que vi um brilho de decepção nos seus olhos.

Quis saber o que aquilo significava, mas não forçaria a barra. Ao invés de perguntar, me contentei em baixar o rosto para perto do seu e tocar no canto da sua boca com os lábios.

- Tudo bem. - disse contra sua bochecha.

Hailey subiu no suporte da caminhonete, ficando com o rosto à altura do meu e me abraçou com força. Ficamos em silêncio pelos próximos segundos, mas não era bem um silêncio reconfortante. Era um daqueles barulhentos, com palavras não ditas. Forcei os músculos da minha costa a relaxarem.

- Valeu por ter vindo hoje. - continuei falando.

Ela se afastou por alguns centímetros, grudando a testa na minha.

- Vai só ficar falando ou vai me dar um beijo em agradecimento?

Abri um sorriso.

- Quando você ficou tão atirada? - perguntei, rindo, e antes que pudesse levar um soco, grudei os lábios nos seus.

Porra.

Apertei os dedos na sua cintura e Hailey pressionou a minha nuca com as mãos, me puxando para perto. Nossas línguas se tocaram lentamente, de um jeito calmo e reconfortante. Às vezes era difícil acreditar que nós dois éramos Rafe e Hailey do início do semestre. Era inacreditável, para falar a verdade. Os sorrisos do começo do beijo foram sumindo aos poucos, dando lugar a um ruído meio sedento, mas ele não vinha de mim. Vinha dela.

Seus dedos subiram para os meus cabelos carinhosamente, mas sua perna se enroscou no meu quadril com tanta força que precisei de muito esforço para me controlar.

- Merda. - sussurrei, ofegante. - Precisamos ir com calma. Você sabe.

Nenhum de nós queria que as coisas acabassem como da última vez, no hotel. Eu estava decidido a construir uma fortaleza de confiança entre nós antes de dar qualquer outro passo.

- Eu sei. - respondeu com a voz fraca. - Desculpe, eu só...

- Hails, pare de pedir desculpas.

- Certo. - esfregou as mãos em meu peito. - Desc...

- Hails.

Ela tombou a cabeça para trás, rindo, e eu beijei o seu pescoço rapidamente, sem qualquer segunda intenção. O som da sua risada me preencheu.

- Au, au, au, au. - ouvi o som de longe, franzindo o cenho.

- Mas que...

Hailey se inclinou para enxergar por cima do meu ombro.

- Au, au, au, au. - outra voz repetiu e JJ saiu por trás da caminhonete, rindo tanto quanto John B e Pope. - Agora dê a patinha, meu amor. Apostei 5 pratas que você ia latir no meio do primeiro beijo.

Hailey colocou a mão na boca para conter a risada. Peguei uma garrafa de plástico cheia de água e atirei com tanta força que JJ se jogou no asfalto.

- Eu já fui mais amado! - dramatizou.

Eu ri.

- Temos que ir para a comemoração, Troy Bolton. - John B deu um tapinha no meu ombro e piscou um olho para Hailey. - E aí, Gizele?

- Gizele? - Hailey franziu o cenho.

- Não é o nome da namorada do Troy? - eles literalmente invadiram a minha picape, tomando os assentos no banco de trás.

Revirei os olhos, rindo quando a discussão sobre High School Musical se prolongou dentro do carro. Hailey me deu um último beijo, mas ele foi curto demais. Resmunguei baixinho ao me afastar.

Entrei atrás do volante e dirigir rumo à comemoração que, honestamente, nós merecíamos.

•••

au original da @rafefode no twitter.

Running Away [parte 1] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora