Capítulo 6

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Capítulo 6

Em quarenta minutos eu iria encontrar a Lorena no restaurante. Então aproveitei a ida até a cidade (caso você não saiba, eu moro no vale dos vinhedos, que é do outro lado da rodovia) para passar na costureira. Ela fazia muitas roupas lindas, essa costureira, e eu adorava encomendar roupas bem femininas e exclusivas. Roupas que ela fazia sobre medida para mim.

Dessa vez, como era verão, eu pegaria três vestidos novos. Nada melhor para levantar a autoestima que um marido gay derrubou, do que roupas novas maravilhosas.

- Uau! Adorei esse! - eu estava provando um vestido marrom, que sentou muito bem com a minha sandália de salto alto também marrom. - Acho que vou ficar com ele para o almoço.

- Ficou ótimo em você. Você tem um encontro? - a costureira de meia idade perguntou, com um sorrisinho no canto dos lábios com batom vermelho.

- Tenho. Mas com uma amiga. Infelizmente. - eu acrescentei em tom de brincadeira. Quero dizer, mais ou menos. Porque seria bom eu ter um encontro de verdade. E melhor ainda se eu me interessasse de novo por alguém.

-Ah. Bom almoço então. - ela disse, depois que eu paguei e comecei a me dirigir para a porta.

Estacionei meu carro na frente de uma praça, perto do restaurante, e comecei a caminhar no sol. Não fazia muito calor e o clima estava agradável para o meu vestido sem mangas, na altura do joelho. Muitas crianças brincavam por lá, na parte de recreação da praça. E eu me dirigi para onde elas estavam. Ainda faltavam vinte minutos para o horário do almoço, e eu tinha tempo para ficar por ali, olhando ao redor e aproveitando o sol. Com nostalgia, eu me lembrei das muitas vezes em que andei naqueles balanços. Em que eu brinquei naqueles escorregadores. Quase sempre com o Estevão. E depois, quando mais velha, das vezes em que eu vinha para acompanhar a minha irmãzinha oito anos mais nova. Quando eu sentava no mesmo banco da praça que eu estava agora, e ficava olhando a Bianca brincar. Do mesmo jeito que eu estava olhando agora para essas crianças pequenas.

- Mel! Eu não acredito! É você?

Eu me virei para o lado, para ver quem me chamava.

- Jana! Não acredito! - eu exclamei e me levantei para abraçar a mulher morena que empurrava um carrinho de bebê, minha antiga amiga de escola. - Nossa, quanto tempo!

- Quando você voltou?

- Nessa semana. - eu me abaixei na frente no carrinho - Nossa, que lindinha a tua filha. Qual é o nome dela?

- Valentina. - Jana mexeu no seu rabo de cavalo, para ajeitá-lo, e sorriu, parecendo toda orgulhosa da filha. Sim, eu também estaria toda orgulhosa se tivesse uma filha gracinha como a dela. - Ela é a minha caçula. E aquele lá, escalando aquela árvore, é o meu primogênito, o Cauã.

- Que bonitinhos. Quantos anos eles têm?

Os dois eram muito fofinhos. A Valentina tinha umas bochechas rosadas e gordinhas, que dava vontade de morder. E ela estava muito bonita toda vestida de lilás. Na cabeça dela, vários fios de cabelo castanho estavam crescendo e se emaranhando. E ela era muito adorável mesmo, porque, mesmo sem me conhecer, abriu um sorrisão desdentado para mim, quando eu me inclinei para ela. E o Cauã tinha os cabelos mais claros do que a mãe e a irmã, e estava vestido com um mini homenzinho: com uma miniatura engraçadinha de calça jeans e algo parecido com uma camisa social, com botões. Muito, mas muito fofinho mesmo.

Tentei me sentir totalmente feliz por ela. Mas foi impossível dominar uma pontinha de inveja.

E um pensamento. Se eu tivesse me casado com o Flávio, meu namoradinho quando eu tinha dezesseis anos, ao invés de ter terminado com ele depois de... Bom, não vamos falar sobre isso agora. Mas se eu não tivesse terminado com o Flávio, eu poderia ter me casado com ele no lugar da Jana, e podia ter uns filhos tão fofos como os dela.

Flor de Mel (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora