Capítulo 11
Quarta-feira. Como o Estevão tinha me explicado no dia anterior, ele dessa vez não podia enforcar o trabalho.
- Me ligaram da Vinícola, Mel. – ele disse, na terça-feira a noite, depois da gente ter voltado do passeio da cachoeira, ter ido cada um para sua casa, apenas com tempo suficiente para tomarmos banho e nos arrumarmos, e ter saído novamente juntos. Dessa vez, para jantar na cidade – Amanhã eu terei que trabalhar.
Nós caminhávamos pela praça, a mesma na qual eu tinha encontrado a Jana no sábado, comendo casquinha de sorvete de sobremesa.
- Ah... - eu falei, tentando não parecer tão desanimada como eu me sentia. Será que eu não o veria no dia seguinte? Algo em mim já sentia essa perda – Tudo bem. Eu também vou trabalhar amanhã de tarde.
- É mesmo?
- É sim. Esqueci de te falar, eu acho – Eu não contei porque eu não quis falar de trabalho com ele. Sempre tínhamos coisas mais interessantes para dizer – Ontem eu liguei para a Fabiana, que é a aquela dentista que a Jana tinha me dado o telefone. Ficamos conversando um tempão. Ela perguntou onde eu me formei, onde eu fiz especialização, porque eu larguei a minha clínica, essas coisas. Mas é claro que eu não entrei em detalhes, apenas falei que eu tinha me mudado, e vendido tudo, porque eu tinha me separado. E daí nós descobrimos que temos uma amiga em comum. O mundo dos dentistas é meio pequeno, já que parece que todo mundo se conhece. E daí a Fabi, eu imagino que tenha conversado com essa nossa amiga para pedir referências minhas, me ligou um pouco mais tarde, e disse que tinha dois pacientes para me passar. Então, eu vou ao consultório dela amanhã de tarde para atendê-los.
- Que legal, Mel. – ele disse, me olhando de canto de olho – Vamos sentar ali? – ele apontou para um banco da praça.
- Vamos.
E ele parecia que não tinha pressa para ir para casa. Como eu também não tinha.
- Eu estava pensando – ele disse – que a gente poderia jantar juntos amanhã. Só que eu só chego em casa tarde, talvez depois das oito.
- Tudo bem. – eu disse, e dei uma super lambida no meu sorvete que começava a derreter e escorrer pelos meus dedos.
É claro que eu queria jantar com ele! Nada nesse mundo, aliás, me impediria de jantar com ele. E eu me sentia bem mais animada agora. Afinal de contas, eu o veria no dia seguinte também!
- Talvez eu esteja um pouco cansado para sair – ele continuou, comendo o sorvete dele que não tinha nenhum pingo fora do lugar. Mesmo quando éramos criança, ele sempre foi bem mais bem sucedido do que eu no ato de tomar um sorvete. – A gente podia jantar lá em casa, isso se você não se importar em comer uma pizza congelada, ou algo assim.
- Qual é a tua comida preferida, Estevão?
- Minha comida preferida? – mesmo na escuridão, eu pude ver sua testa franzida. Ele estava sentado um pouco na penumbra, e isso fazia com o que os cabelos dele estivessem ainda mais negros. Deixando seu rosto com ar perigoso, e bem atraente – É lasanha. Por quê?
- Aquela lasanha que a tua mãe fazia para a gente?
- É. Por quê?
- Eu vou cozinhar para você.
- Ah. Legal. Eu posso deixar a chave da minha casa contigo.
Chave da casa? Uau! Se estivéssemos num relacionamento, isso seria um grande progresso.
Mas nós éramos apenas amigos... E não seriamos mais do que isso. Nunca. Eu não iria permitir. Nós tínhamos interesses diferentes. E ele, segundo me disse, faria uma vasectomia ainda nessa semana. E isso... Era algo grande demais para ser ignorado. Algo que ia totalmente contra com os meus desejos. E eu não mudaria de ideia por causa de um homem. Nem mesmo por ele. Nunca mais.
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Flor de Mel (completa)
ChickLitSinopse: Quando a nossa vida desmorona, é inevitável parar para pensar: "E se eu tivesse feito outras escolhas...?" "Eu se eu tivesse agido diferente..?" "E se eu não tivesse sido, por exemplo, tão impulsiva?" Há coisas que realmente não podemos mud...