Capítulo 12

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Capítulo 12

Dia seguinte, quinta-feira... De manhã, não vi o Estevão. De tarde, a casa dele continuava fechada. Toda fechada. O carro, fora da garagem. E de noite, eu olhei várias vezes pela janela do meu quarto, e nada.

Sexta-feira, ainda nenhum sinal dele. Era como se a casa do lado estivesse abandonada, com ninguém morando ali. Como se o dono da casa, o Estevão, tivesse tomado chá de sumiço. Ou...

Oh, não! Ele estava no hospital! Ele tinha feito a cirurgia de vasectomia! Oh, não! E ele devia estar sozinho agora, precisando de alguém ao seu lado!

Aquele idiota! Ele devia ter me pedido para que eu acompanhasse! Ou pelo menos, podia ter dado um telefonema para me dizer que estava tudo bem! Aquele idiota! Será que ele não podia ter um pouquinho de consideração por mim?

E quer saber? Idiota sou eu! Porque eu sequer tenho o número do celular dele, mesmo depois dos últimos dias que passamos juntos! E eu também sou idiota porque estou aqui, morrendo de preocupação, enquanto ele está pouco se lixando para mim!

E eu... Estou começando a ficar com raiva. Aquele idiota sem consideração! E eu pensei que nós fossemos amigos!

Preciso de algo para relaxar. Mas me nego a marcar uma consulta com a terapeuta cara de fuinha. Isso seria muito recaída! E agora, eu não ando mais para trás, só para frente! Preciso de outra coisa... Alguma coisa que não seja cravar as unhas nas mãos... Minha pele está quase curada... Outra coisa? Já sei!

Ainda são nove da manhã, e eu pego meu carro e vou até a cidade em busca de uma loja de artigos de pintura. Vou comprar uma tela bem grande, e pintar atrás da casa do Estevão, embaixo do toldo da garagem. E não vou me dar o trabalho de proteger o chão dele com lona ou jornal dos eventuais pingos de tinta. Para que? Se ele não teve a menor consideração por mim, eu também não terei a menor consideração pelo chão dele!

Fui até a cidade. Não tinha quase nada do que eu precisava na única lojinha com materiais para artesanato que eu encontrei. E eu já estava estressada, então precisava comprar tudo o que eu estava acostumada a usar para pintar, e não me contentar com materiais inferiores.

Materiais inferiores só aumentariam a minha raiva e eu provavelmente me revoltaria e começaria a pintar a parede da garagem do Estevão. Só de birra.

Então, peguei o carro e rodei vários quilômetros até uma loja numa cidade vizinha. Ainda assim, não encontrei tudo. Da lista de cores que eu queria, só encontrei a metade, por exemplo. E eu estava determinada a ter tudo do bom e do melhor. E eu iria até Porto Alegre para isso, caso fosse necessário. Mas, felizmente, não foi.

Após rodar muito, descendo a serra quase até São Leopoldo, após andar muito também a pé, eu afinal me dei por satisfeita. Já tinha o suficiente para fazer um quadro pelo menos decente.

Só que já eram quase 15 horas quando eu acabei retornando para casa. Almocei um lanchinho rápido perto do meio dia, em Portão. E lá, sentada num banco de uma lanchonete, eu vi uma mulher caminhando apressada pela rua que me lembrou muito da Deise, a ex do Estevão. Só que ela tinha cabelos vermelhos, então não devia ser ela. E eu meio que acabei me esquecendo disso. Até porque eu também já tinha visto muitos clones do Estevão naquele dia.

Era como se ele estivesse em todos os lugares. Por que eu não conseguia tirá-lo da cabeça? Por que eu ficava procurando-o em todos os lugares? E por que eu sentia tanta raiva dele agora?

Quer saber? Ele que se f...! Ele não é meu amigo! Se fosse meu amigo, não teria sumido assim!

Desgraçado! E eu não iria chorar por causa dele. Não de novo! Eu, na minha vida, já gastei todo o estoque de lágrimas a que ele tinha direito. E eu não iria chorar, e nem explodir de raiva. Nada disso. Ao invés disso, eu iria apenas pintar um quadro, caprichando para respingar bem a garagem dele.

Flor de Mel (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora