Capítulo 18

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– Mel? – eu vi que o Estevão se mexeu para se afastar de mim. – Que filho?

– Não. – eu pedi para que ele ficasse e o puxei de volta para mim. Eu o abracei apertado e escondi, de novo, a cabeça em seu peito agora úmido pelas minhas lágrimas. – Eu fiquei grávida... Naquela vez, no natal.

– Mel? – eu vi que ele estava respirando com mais força, como se estivesse nervoso – E o que houve com o nosso filho?

– Ele morreu! E... – funguei – Na época eu não me importei, sabe? Eu me senti até aliviada, porque eu não queria ter aquele filho. Ia complicar toda a minha vida, eu estava na faculdade, e a gente... Eu odiava você, Estevão. Então eu não queria ter um filho seu. Eu até pesquisei no Google algo que eu poderia usar para perder o bebê, mas eu não tive coragem, eu nunca teria coragem. Mas eu desejei tanto isso! Eu desejei tanto perder o bebê! Que foi por isso que aconteceu, foi minha culpa, minha culpa!

– Shiii, Mel. – ele disse, bem mais gentil – Calma.

– Eu já estava com quatorze semanas de gestação, e não tinha contado para ninguém! Eu não queria contar, para não ter que falar sobre o pai dele. Eu até tinha decido que eu iria inventar uma história, para você nunca saber que ele era o teu filho. Mas daí, ele morreu... Eu estava na faculdade, e comecei a sentir dores, que foram ficando cada vez mais fortes. E eu fui ao banheiro, e estava sangrando um pouco. Então eu fui a pé até o hospital de clínicas que é do lado do prédio da Odonto, e lá eles me examinaram e me disseram que eu tinha sofrido um aborto. E o pior não foi isso... Como eu não tinha expelido todo o material, o material! Porque era assim que eles chamavam o resto do nosso filho! E como eu não tinha expelido todo material, eu tive que fazer uma curetagem alguns dias depois. E foi horrível... Eu me senti péssima.

– E foi sozinha?

– Fui com uma colega, mais ninguém sabia, e eu não iria contar. Eu não fiquei muito triste na época. Na verdade, eu nunca tinha chorado a perda do nosso filho, até hoje. Só que quando a gente se reencontrou, eu comecei a pensar nele todos os dias. Em como ele seria se não tivesse morrido. Ele já estaria com quatorze anos, e eu comecei a pensar se ele faria as menininhas sentirem o que você me fazia sentir. E eu fiquei imaginando se ele teria o gênio forte como nós dois tínhamos na idade dele. E se ele seria parecido comigo, ou com você.

– Ele era um menino? O nosso filho? – ele perguntou, parecendo triste e emocionado também.

– Eu nunca soube. Mas sempre achei que ele fosse. E agora, quando eu vi o Ivan, eu imaginei se o nosso filho não teria sido como ele, na idade dele... E me sinto tão culpada! Acho que ele não nasceu, porque eu não o quis! Mas, na época, eu achava que era jovem e que na hora certa eu engravidaria de novo, e teria outros filhos. Só que agora eu acho que eu perdi a minha única chance! E quanto mais os anos passam, mais eu penso no meu bebê perdido! E por isso eu quero tanto ser mãe! Mas sei que não será possível, porque eu não quero outro homem além de você, e você fez cirurgia de vasectomia. A não ser que você reverta a cirurgia, só que eu sei que você não quer ter filhos...

– Mel? – ele me interrompeu e se afastou um pouco para me olhar, ainda com os braços ao meu redor – Sobre o que você está falando? Eu não fiz a cirurgia.

– Não? – eu o encarei com os meus olhos vermelhos de tanto chorar. Só que eu não havia mais lágrimas neles.

– Não, eu cancelei.

– Mas... você sumiu aqueles dias! Para onde você foi? Por que você sumiu?

– Por dois motivos. – ele disse, sorrindo de leve para mim, e pegando minha mão para beijá-la rapidamente – Primeiro, porque se eu ficasse aqui, eu ficaria louco. Desde o primeiro dia, quando você foi lá em casa, eu percebi que sentia a mesma coisa de sempre, algo que eu só senti por você. Aquele sentimento louco de posse, junto com um ciúme imenso. Lembra lá no coquetel, quando você estava conversando com o Lucas, e ele tocando nos teus cabelos?

Flor de Mel (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora