Mienteme

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O onboard não tinha qualquer visibilidade, então, a transmissão geral e os dados na tela eram a única forma que Charlie tinha de acompanhar o que estava acontecendo na pista. A chuva que caia em Suzuka tinha diminuído drasticamente, mas o asfalto continuava extremamente molhado, a fila de carros atrás do safety car levantando uma espécie de névoa espessa ao passar pelas poças.

— Largada lançada? — Fernando perguntou, a voz abafada pelo som do motor e da água sendo escoada pelos pneus enquanto ele fazia a curva Spoon, com a Mercedes de Lewis Hamilton atrás e a Ferrari de Charles Leclerc na frente dele.

Os olhos de Charlie procuraram a janela que continha a comunicação da direção de prova na tela, confirmando a informação.

— Sim, largada lançada ao fim dessa volta, Fer.

— Entendido.

A tensão crescia nos ombros de Charlie à medida que o safety car passava pela ponte. Eles estavam na 33ª volta e, pelo que indicava, a prova não terminaria nas 53 voltas esperadas, especialmente depois da longa bandeira vermelha por conta da tempestade que caiu sobre o circuito pelo segundo ano seguido.

— Quantas voltas? — o piloto questionou.

— Cerca de 10 a 12, pelo menos — ela respondeu, apertando os lábios ao ver o carro de segurança contornar as últimas curvas antes de entrar na pit lane — Bandeira verde.

Com o aval dela, Fernando disparou em busca de Leclerc, que tinha tentado controlar o ritmo do pelotão até os últimos segundos para, então, acelerar na reta principal. Com os olhos na diferença entre eles, Charlie não conseguiu deixar de sentir uma certa ansiedade ao ver a diferença entre eles crescendo de forma rápida à medida que eles contornavam as curvas molhadas do circuito.

— Leclerc um segundo a frente — ela disse — Hamilton 1.4 atrás.

— Chuva?

— Radar indicando que vai seguir assim pelos próximos dez minutos.

— Entendido.

À medida que as voltas se acumulavam, um cenário interessante começava a se desenhar. Charles tinha começado a reclamar do aquecimento dos pneus, afirmando que eles estavam se degradando rapidamente e fazendo com que ele escorregasse nas curvas de baixa velocidade. Ao ver Fernando passar pelo hairpin e a diferença entre os dois cair em alguns décimos, Charlie tinha certeza do que fazer.

Então, ela apertou o botão ao lado da palavra estratégia.

— Charles tá com problemas nos pneus. Libero o Fernando pra atacar?

— Os nossos pneus tão estáveis? — Peter, o chefe de estratégia, que estava sentado perto de Charlie na pit wall, perguntou.

— Temperatura estável, degradação também — Raúl disse ao lado dela — O carro tá respondendo bem, acredito que podemos pressionar.

— Temos um segundo lugar tranquilo no momento, vale a pena arriscar? — Charlie ouviu Mike dizer. Na mente dela, ela conseguia ouvir Fernando dizer que era capaz de fazer aquela ultrapassagem, que sabia exatamente o que fazer contra Charles, que só precisava do sinal dela.

— Não é um risco, Mike. É a nossa chance — ela disse, enquanto via Leclerc contornar o hairpin com dificuldade.

Peter deliberou por mais algum tempo com Mike, afirmando que a diferença e as condições tornavam o piloto capaz de alcançar a Ferrari na frente dele. Com o dedo sobre o botão que abria a comunicação com Fernando, Charlie se sentia completamente inquieta, enquanto o tempo passava.

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