Charlie dirigiu o carro pelas ruas familiares de Far Cotton, as casas de tijolos vermelhos passando pela janela. Ela ia regularmente lá nos fins de semana, quando não estava trabalhando em circuitos e pistas de corrida ao redor do mundo. E, depois de quase um mês ausente nas rondas, ela estava ansiosa para ver os avós novamente.
As rodadas triplas eram as piores para Charlie. Voltar todos os dias dos circuitos para dormir numa cama desconhecida era extremamente desgastante, para não dizer melancólico. No entanto, ela havia encontrado algo que fazia aqueles quartos de hotel distantes parecerem mais confortáveis. Ela não se arrependia de trocar as suítes frias pelos braços de Fernando, principalmente quando eles assistiam a um filme juntos, ou quando analisavam vídeos de bordo juntos, ou se faziam um ao outro gozar.
Porém, aquilo tinha acabado há semanas.
Desde a noite em que ela tinha fugido do quarto do piloto em Suzuka, a relação deles entrou num território desconhecido. Fernando até tentou falar com ela após o ocorrido, mandando inúmeras mensagens e ligando várias vezes. Ele inclusive chegou a deixar um bilhete na mesa dela na fábrica, um pedido para que ela o telefonasse, assinado com um simples 'Fer'.
Com o pedacinho de papel na mão, ela refletiu por longos segundos se aquela era a melhor coisa a se fazer — se ela devia finalmente ceder ao próprio coração e conversar com Fernando. Mas, quando ela olhou para a porta do escritório de engenharia e o viu, olhando para ela ansiosamente, capacete e balaclava na mão e cabelo despenteado depois de outra sessão de simulador, Charlie teve certeza.
Eles precisavam ser profissionais.
Deixando a rodovia, Charlie conduziu o carro pela rua estreita numa velocidade menor, os olhos buscando a fachada coberta pela planta trepadeira que subia pelos tijolos vermelhos e tornava o lugar único. Geralmente ela se localizava pelas hortênsias que floresciam toda primavera graças ao zelo da avó.
Pensar nas flores fez com que algo doesse dentro do peito dela, a mente transportando-a para uma manhã ensolarada na Suíça. Usando um dos moletons de Fernando, os dois caminhavam juntos perto do lago Lugano quando ele parou e foi até um canteiro, colhendo um amor-perfeito roxo que estava plantado ali.
— Fer — ela disse, tentando entender o que ele queria fazer. Depois de encurtar um pouco a haste, o piloto ajustou o cabelo dela antes de colocar a flor atrás da orelha dela com um sorrisinho.
— Uma flor pra uma flor.
Charlie revirou os olhos.
— Eu não sou uma flor.
— Você é sim. Uma rosa inglesa.
— Eu achava que aquela história de você gostar de plantas era bobagem.
— Mas eu gosto de plantas. Tanto que tenho certeza que você é uma rosa inglesa.
— Por quê?
— Porque você é linda — ele disse, passando uma mão pela cintura dela — E cheia de espinhos.
Ela deu um tapinha no peito dele, antes de soltar uma risadinha.
— Você é um idiota.
— Olha só, você acabou de mostrar seus espinhos — Fernando disse, fazendo com que ela risse ainda mais, enquanto ele a abraçava, pousando um beijo carinhoso na bochecha dela.
Charlie não conseguiu afastar a sensação de que tinha mostrado os próprios espinhos para Fernando naquela noite em Suzuka. Pior, ela tinha permitido que ele se ferisse com eles.
"Eu sou uma desgraça", ela pensou consigo, enquanto estacionava na frente da casa dos avós.
Ao tocar a campainha, Charlie escutou a voz do avô ecoando pelo pequeno hall, falando algo sobre aprender francês num tom de voz animado. Quando ele abriu a porta, ela não resistiu a dar um sorriso.
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Lo Hecho Esta Hecho
FanfictionCharlie Whitlam está começando a gostar de seu trabalho novamente. Depois de toda uma carreira construída na McLaren, a engenheira aceita um novo desafio na Aston Martin, como engenheira de corrida de Sebastian Vettel. Tudo parece perfeito, até que...