[ONE SHOT] La chica perfecta

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Eles estavam em completo silêncio.

O único som dentro do banheiro vinha das roupas que deslizavam pela pele dela.

À medida que as peças iam caindo no chão de azulejos frios, Fernando sentia o peito cada vez mais quente. Era algo estranho, mas, ao mesmo tempo, familiar. Uma sensação que fazia ele querer rir e chorar ao mesmo tempo. Uma coisa que ele não sentia há muito tempo.

— Vai ficar parado aí? — a voz de Charlie questionou, trazendo-o de volta para a realidade. Com as mãos na cintura, a engenheira o encarava com um certo ceticismo, que contrastava fortemente com o fato dela estar seminua na frente dele. Colocando as mãos no bolso da calça, ele sorriu.

— Bem, o seu show tá bem interessante — Fernando respondeu, se recostando na parede. A afirmação fez com que ela revirasse os olhos.

— Idiota — ela murmurou, levando as mãos até as costas para abrir o sutiã cor de lavanda que estava usando. Deslizando as alças pelos braços, Charlie largou a peça no chão antes de levar as mãos até o cabelo para prendê-lo. Depois de juntar os fios num rabo de cavalo, ela torceu o cabelo e o enrolou num coque, finalizando com o elástico de cabelo que tinha no pulso.

— Você ainda faz igual — o piloto disse em voz baixa.

Os olhos de Charlie encontraram os dele.

— Do que você tá falando?

— O seu cabelo. Você ainda amarra ele do mesmo jeito que fazia na McLaren.

Ela piscou, um pouco desconcertada.

— Como você sabe disso?

— Gosto de pensar que sou um grande observador.

— Você observou o jeito que eu amarro o meu cabelo?

Fernando sorriu.

— Sim. Você junta tudo, torce e gira no sentido horário antes de amarrar.

O silêncio se estendeu dentro do banheiro. Com os olhos fixos nos dela, o piloto percebeu o calor estranho se espalhando novamente pelo peito dele. Como ele tinha conseguido ignorar aquilo por tanto tempo?

— Você é estranho — ela finalmente falou.

— Como eu disse, sou um grande observador.

— Você podia observar coisas mais interessantes do que o jeito que eu amarro o cabelo.

— Como o jeito que você toma seu café? — ele perguntou.

— Você sabe como eu tomo meu café?

— Sem leite ou açúcar — Fernando disse — Uma vez você definiu como "preto e amargo como a minha alma", o que achei bem coerente na época.

Charlie sorriu, um tanto sem graça.

— Bem, é verdade.

— Não acho.

— Não?

— Você não é amarga — o piloto respondeu — Na verdade é bem mais doce do que eu imaginava.

Eles se encararam por alguns segundos antes que Fernando desse um sorriso. E ele bastou para que Charlie balançasse a cabeça.

— Você é um idiota mesmo — ela murmurou, se virando para entrar no box e ligar o chuveiro, em silêncio.

Fernando tomou alguns segundos para começar a se despir, enquanto o ambiente se enchia de vapor quente. Depois de colocar as peças no cesto de roupa suja e o relógio em cima da pia, ele se juntou a Charlie, que parecia tentar se entender com os registros na parede.

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