[ONE SHOT] Agua

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Era uma manhã de quarta-feira perfeita em Lugano. Charlie tinha aceitado o convite de Fernando para passar a semana entre Monza e Singapura com ele na Suíça sem hesitar e estava se divertindo muito. Naquela manhã, ela acordou um pouco mais cedo que o piloto e decidiu aproveitar o sol da manhã na varanda do andar de cima antes que ele se levantasse. A temperatura estava agradável e o sol brilhava com força, fazendo as águas do lago cintilarem com a luz.

Recostada contra o parapeito da sacada, olhando para as casas espalhadas pela encosta na margem oposta, Charlie estava perdida nos próprios pensamentos. Ela não conseguia parar de pensar nos acontecimentos do domingo anterior, quando Fernando buscou o apoio dela depois daquela corrida frustrante. Eles não conversaram muito mais depois que ela garantiu que jamais esqueceria dele, se limitando a trocar um beijo antes de adormecerem abraçados, mas isso não significava que Charlie não tinha nenhuma dúvida pairando na cabeça desde então.

Ela ainda não conseguia compreender a razão pela qual Fernando tinha ido até o quarto dela. Desde os tempos de McLaren, o padrão do piloto era, depois dos debriefs, se retirar para o quarto do hotel para refletir sozinho, isso quando não pegava um voo de volta para casa. Mas, naquela noite, ele tinha procurado por ela, pedido para que ficasse com ele, como se apenas a presença dela pudesse ajudar a dissipar a frustração que ele sentia.

"Talvez ele confie mesmo em mim", Charlie disse para si mesma mentalmente, enquanto observava o traço de espuma branca que um barco deixava na superfície do lago. A ideia de ser alguém que ele confiava era estranha para ela, especialmente levando em conta que, até pouco tempo atrás, ela achava que Fernando a odiava.

Na realidade, Charlie se perguntava às vezes se ainda não era o caso. Havia evidências que apontavam o contrário, como o relacionamento sexual deles, mas ainda havia uma parte dela que pensava que aquilo poderia ser apenas puramente fisiológico. Fernando buscava prazer, assim como ela. Não era necessário haver nenhum compromisso emocional além disso, o que tornava fácil se deixar levar no calor do momento, pelo menos de acordo com um artigo que ela leu sobre pessoas que tinham relações sexuais com pessoas de quem não gostavam.

Atrás dela, os passos suaves fizeram com que Charlie sentisse os ombros tensos em antecipação. Porém, ao contrário do que esperava, ela sentiu uma mão escorregar pela barriga dela, puxando-a para perto, bem como um peitoral contra as costas dela.

— Tá tudo bem, nena? — Fernando perguntou, afastando o cabelo dela do rosto.

— Sim. Só tava pensando — ela murmurou em resposta, sentindo os lábios dele contra o ombro, pousando beijos suaves na pele.

— No quê?

Charlie apertou a mandíbula, tensa. Definitivamente aquele não era o tipo de assunto que ela queria discutir, especialmente quando ela se sentia tão confortável naquela posição, a cabeça inclinada contra Fernando enquanto ele acariciava a pele exposta — cortesia da regata que ela tinha escolhido para dormir — com os lábios.

— Nada demais — ela se limitou a dizer, colocando as mãos sobre as dele.

— Certeza? Você sabe que pode confiar em mim.

Confiar. Ouvir aquela palavra vindo dele fez o coração dela saltar.

— Você não entenderia — Charlie disse.

— Claro que entenderia.

Ela virou o rosto ligeiramente para ele.

— Achei que você tinha dito que não entendia os ingleses, já que não temos o mesmo caráter e a mesma energia dos latinos...

O piloto deu um sorrisinho.

— Não ligo em fazer um pouco mais de esforço pra te entender, nena — Fernando falou, dando um novo beijo — Me fala, o que você tava pensando?

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