[EXTRA] Que me pasó?

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Encarando o vazio, as palavras se repetiam dentro da cabeça de Fernando.

— Fomos longe demais — Charlie balbuciou, os olhos cheios de lágrimas e o cabelo molhado caindo sobre o uniforme verde.

"Mas, o que é longe demais?", ele se perguntava, enquanto a mente reproduzia o momento em que ele assistiu, paralisado, a mulher que ele amava escorregar pelos dedos dele e desaparecer da suíte.

Ele não se lembrava de sentir tamanha dor na vida. Por mais que ele tivesse sofrido mais decepções e lesões que podia contar nos dedos da mão, aquela parecia diferente. Fernando não entendia como ou o porquê, mas, o que tinha acontecido no Japão tinha o ferido de forma mais profunda do que qualquer outra.

Talvez fosse o fato dele ter dito aquelas três palavras com total convicção de que seria correspondido. Talvez fosse o fato dele ter visto amor naqueles olhos azuis lindos. Talvez fosse o fato deles terem percorrido aquele caminho tão longo e cheio de dor para encontrarem apenas mais tristeza e frustração.

Nas mãos dele, a tela do celular se iluminou com uma notificação. Porém, o simples movimento de olhos fez o coração de Fernando doer de novo. Não era uma mensagem da mulher que sorria, abraçada ao gato dela, no plano de fundo do aparelho. E, se não era ela, não importava. Nada importava.

— Fer?

Ele ergueu o rosto, encontrando Alberto sentado logo ao lado dele, encarando-o com um olhar preocupado.

— O que? — Fernando murmurou, desligando a tela do celular.

— Tá pensando nela de novo, não é? — o amigo perguntou, baixinho.

Ele bufou, se sentindo derrotado. Não adiantava negar, Alberto o conhecia como ninguém. Não era à toa que o número dele no telefone de Fernando não estava registrado com o seu nome, muito menos o apelido, mas sim, hermano. Ele era o irmão que a vida tinha dado a ele.

— Eu tô.

O amigo franziu os lábios.

— Ela não te respondeu mais?

— Não — Fernando murmurou.

— Nem o bilhete na fábrica?

— Ela leu, me viu na porta da sala e jogou o papel no lixo.

— Oh — Alberto disse baixinho, parecendo absorver o impacto da atitude de Charlie. Algo que Fernando ainda tentava fazer, mesmo que aquilo enchesse o peito de uma angústia inexplicável — Então, você não acha que tá...

— Não — o piloto disse, sem esperar que ele terminasse a pergunta. Ele já sabia o que Alberto iria questioná-lo e Fernando tinha a mais absoluta certeza da resposta — Eu não vou desistir dela.

— Fer, a Charlie não...

— Ela vai falar comigo, eu sei que ela vai — ele respondeu — Eu vou conseguir convencer ela a falar comigo.

— E como você pretende fazer isso?

— Eu — Fernando começou, antes de ser interrompido pela porta da sala de espera em que estavam. Por ela, entrou Sara, a produtora do programa, com os cabelos cacheados presos no alto da cabeça e uma expressão simpática no rosto.

— Poderia me acompanhar, Fernando?

Forçando um sorriso, o piloto se levantou, passando por Alberto em silêncio e seguindo a mulher para fora da sala. Enquanto ela falava algo sobre os blocos que seriam gravados naquela tarde, eles passaram por uma janela, onde a paisagem de Madrid se estendia cinzenta e melancólica.

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