08h19.
Miller me acena assim que paro a bike na vaga em frente à cafeteria. Pego o celular para checar às horas.
Ótimo. Sem grandes atrasos.
Abro a porta, ela tinha um sino que tocava quando a porta era aberta. Mas ele caiu faz uns dois meses e Miller ainda não mandou consertar.
Comecei a trabalhar no café faz meio ano. Estava passando de carro com meus irmãos quando vi uma placa de vaga de emprego. Vim aqui no fim das aulas no outro dia. Miller, o dono, foi super legal e me contratou rápido. Ele tem 34 anos, e é casado com a melhor confeiteira do mundo, a Janet.
- Você está... - Miller olha o relógio da Cassio cinza que tem no pulso direito - dessenove minutos atrasada.
Largo a mocilha no cabide. Passo por baixo do balcão.
- Desculpa. Eu perdi a hora. - Dou um beijo no rosto de Janet. Ela está fazendo uma massa com canela. Acho que talvez seja Strudell. Olho para Janet. Seu cabelo naturalmente ruivo parece que está mais desbotado. A pele branca ficou ainda mais pálida, e ela tem profundas olheiras embaixo dos olhos castanhos.
- O bebê tá dando trabalho? - Janet assente com um sorriso fraco e cansado. Ela e o marido tiveram a pouco tempo a segunda filha, a Cassie. Ela é um amor, mas pelo jeito está sendo difícil de cuidar.
- Ah, nem me fale. Ela não dorme Skye, nem por um segundo sequer. Ontem eu coloquei ela no berço e adivinha quem acordou a bebê batendo o dedo na poltrona do quarto. - Solto uma risada. Miller sai do caixa vindo até a cozinha.
- Em minha defesa... não tem defesa mesmo. Mas eu te disse que era melhor ficar de licença em casa. - Miller diz a esposa que dispensa o comentário com um aceno.
Prendo o cabelo num rabo de cavalo e me preparo. No período de férias, quando todo mundo fica fora da escola, com isso os clientes aparecem até o pescoço no café.
O estilo anos quarenta, meio cult e nerd é prato cheio para a clientela.
Miller abre a porta e uma multidão de adolescentes entra, parece mais uma Black Friday do que o primeiro dia de férias.
Entro em ação pegando os pedidos e levando para a cozinha. Dolly, a ajudante de Janet entra no café e passa por mim voando para a cozinha. Ela é dois anos mais velha que eu, loira, baixa, porém bem brava. Acho que não sobrou espaço para a paciência. Passo para uma das mesas ao fundo do salão perto da jukbox. Estão sentados duas meninas e dois garotos. Me aproximo com o caderno na mão.
- Gostariam de fazer os pedidos agora ou depois? - O garoto mais gordinho faz que sim. Mas quem responde é a garota de cabelos cachados sentada na ponta da mesa.
- Vamos pedir agora. Eu quero um milk-shake, e batata frita, e você Loreena? - Loreena olha para a amiga sentada na sua frente com uma calma, mais uma calma, que já gostei dela.
- Acho que, um hambúrguer de frango, e, tem suco de acerola?
Nossa. Ela é tão calma e sorridente e tão diferente da amiga.
- Deixa de ser idiota Loreena. Claro que não tem. Pede um suco normal.
Um clima constrangido faz todos na mesa ficarem em silêncio inclusive eu. Essa garota precisa de uma terapia urgente. Decido amenizar o clima estranho.
- Olha, não temos suco de acerola - A cacheada solta um sorrisinho presunçoso para a amiga envergonhada
- Mas temos de kiwi se quiser. - Completo percebendo Loreena dar um discreto sorriso agradecido.
- Pode ser então o de kiwi.
Sorrio anotando os pedidos.
- E para vocês dois...
O gordinho de cabelo castanho imediatamente se anima e desata a falar.
- Finalmente. Eu quero um refrigerante, um hambúrguer triplo, e depois uma taça de sorvete, e para finalizar uma bala de menta e uma água com gás.
Meu pai amado esse garoto praticamente pediu o cardápio todo.
- Para que tanta coisa! A gente veio lanchar não fazer as refeições do dia Vincezo.
Estou começando a detestar essa menina. Vincezo fica vermelho parecendo uma pimenta.
- Certo... E ele vai querer o que? - Aponto para o garoto sentado na janela. Ele está com o olhar vidrado em outro lugar que não é aqui.
- Ei, Lucas, o pedido...?
Lucas volta a si. Ele me olha e seu rosto me parece familiar. De onde eu conheço ele...?
- Pra mim, uma torrada francesa e milk-shake de morango. - término de anotar os pedidos e saio da mesa. É cada louco que aparece.
10h45.
- Ela devolveu de novo.
Uma garota na mesa 08 está dando uma tremenda dor de cabeça. Ela pediu para devolver as batatas fritas pela terceira vez. Que culpa eu tenho se o namorado dela ficou dando em cima de mim?
- Skye, avisa para essa piranha de jardim que se ela devolver essas batatas mais uma vez, ela vai conhecer uma mãe de um bebê de dois meses que não dorme a quatro e que ainda tem outro filho de dois anos! - Arregalo os olhos só de ouvir o tom de voz da Janet.
- Acho que fica mais assustador se ela ouvir de você. Me lembra de nunca te deixar brava comigo Jane. - Ela ri.
BPego as batatas e levo até a mesa.
- Um conselho, a chefe é mãe de duas crianças pequena. Não abusa, se você devolver ela provavelmente vai vir aqui.
A loira oxigenada arregala os olhos surpresa.
Saio da mesa dela sorrindo. Vou para o fundo do café para limpar as mesas. Estou passando o pano úmido na penúltima quando avisto o garoto distraído da mesa perto da Jukbox, o tal Lucas. Ele está agachado no chão em baixo da mesa.
- Está procurando alguma coisa Ou só contando os chicletes aí em baixo? - Ele levanta a cabeça mas bate no tampo da mesa de madeira. Vou depressa até ele.
- Você tá bem? - Ele assente.
- A minha amiga... perdeu um anel, e insistiu para eu voltar aqui para procurar.
A essa hora ele já deve ter virado coleção de alguém. Mas quem sou eu pra dizer isso?
- Qual delas? Aquela chata? - Tampo a boca no mesmo instante que cometo a gafe. Belo timing. Boca grande.
- Desculpa, eu não quis dizer isso...
Eu quis. E muito.
- Tá tudo bem, a Ellen pode ser uma chata as vezes. - Lucas diz enquanto volta a se abaixar. Ainda bem que ele sabe.
- Quer ajuda pra procurar o anel? - Pergunto ainda envergonhada. Preciso a prender a calar a boca. Olho para o rosto dele e mais uma vez me parece familiar.
- Seria bom.
Começamos a procura do anel. Olho em baixo das mesas, nas cadeiras, olho perto da janela. Nada. Um reflexo do sol perto da jukbox chama atenção. Olho em volta e acho o anel prata com uma pedra roxa redonda.
- Achei! -Grito empolgada.
O garoto vem meio correndo com as longas pernas.
- Obrigado. Estava planejando comprar outro anel igual. - Dou risada. Entrego o Anel, e nossos dedos se tocam por pouco tempo.
- Bom, aí está o seu anel. - Ele assente.
- Qual é o seu nome? Só pra eu saber pra qual santa rezar a noite. - Ele sorri mostrando os belos dentes.
- Skyler Collins. - Ele fica calado mas se recupera depressa. Maldito sobrenome.
- Lucas Jeffrey. - Ficamos parados por alguns segundos até que ouço Janet me chamar da cozinha.
- Skye. Aonde está a paprica doce? É a última vez que você arruma a minha cozinha por que... - Ela para olhando para nós dois. Lucas tira os olhos de mim.
- Obrigado de novo pela ajuda com o anel Skyler. - Balanço a cabeça. Lucas sai. Janet fica sorrindo como uma mãe orgulhosa. Ah. não.
- QUEM ERA AQUELE GAROTO! - Coloco instintivamente o dedo no ouvido.
- Um cliente. Ele veio procurar o anel da amiga e eu ajudei ele. - Ela parece decepcionada.
- Eu não sei aonde está a paprica. Não mexi no armário de temperos. - Me defendo e Janet me olha com a mão na cintura.
- Sei.
Entramos na cozinha. Até fechar o café já esqueci de Lucas.
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Mais uma vez
RomanceCrescer rodeada por 3 irmãos superprotores foi uma grande chatice, mas agora que vou para o ultimo ano do ensino médio tenho um bom pressentimento de que isso vai mudar. E não serei conhecida só por ser a irmã dos Collins e sim por ser Skyler apenas.