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08h09.
  Pela primeira vez em dois anos me acordei depois das 06h. Esse é um fato a se comemorar.
   Me sento na cama ainda crogue de sono. Pego meu livro da cabeceira e abro na página marcada. Esse livro é minha nova paixão. Preciso comprar o segundo, tipo o quanto antes.
  Um cheiro de Bacon passa por baixo da minha porta. Que estranho, quem cozinha aqui em casa sou eu e o Matt. Largo o livro de volta na cabeceira. Levanto da cama a contra gosto. Visto a camiseta que roubei do Matt, trocando o pijama de ursinhos. A camiseta é  muito maior que eu, então serve de vestido para usar em casa.
   Abro a porta do meu quarto saindo para o corredor. A porta do quarto de hospedes está fechada assim como a dos gêmeos. O cheiro de comida está muito bom, o que faz meu estômago roncar alto. Acho que jantar salgadinhos de queijo não é uma idéia muito boa.
  Desço as escadas, indo para a cozinha. Uma música, eletrônica, toca antes que eu passe pela porta. O que não faz sentido, Matt ama música clássica.  É, ele é esquisito mesmo.
  - Só para a avisar não tem nenhum ladrão aqui, pode guardar a sua arma mortal. - Harry avisa assim que ponho meus pés na cozinha. Eu ruburizo, ainda não acredito que dei uma vassourada na cabeça dele.
- Obrigada por me  avisar disso. Só pra esclarecer, dessa vez eu ia usar uma cadeira, sabe, mais mortal. - Harry ri, mas não diz nada. Ele está vestindo uma camiseta do Sethgold, ele disse que jogou com o Dylan, vai ver a camisa é dele. A música eletrônica acaba e  Shake It Of da Taylor Swift começa a tocar. Levanto uma sobrancelha para Harry.
- Como você conseguiu conectar o seu celular nas caixas de som? - Harry tira um Bacon saboroso da Frigideira.
- Acho que  " Matt é um puto" não foi difícil de adivinhar na verdade. - Dou risada. Como não tinha pensado nisso antes.
- Certo, mas isso não explica a Taylor Swift.
- Qual o problema? Machos alfas também escutam Taylor Swift. - Dou de ombros.
- Se você diz, mas "Machos alfas" não tem morrem para zumbis comuns. Eles choram vendo o final de Friends.
   Vou para o armário pegar meus cereais  Froot Loops, o melhor sabor.  Abro a geladeira para pegar o leite. Sem perceber começo a cantar Elétric da Katy Perry. Só percebo quando Harry assobia a melodia.
- Você sempre canta ou é só por esporte? Se for por esporte, que voz. - Ruburizo. Melhor mudar de assunto.
- Seu Bacon está com um cheiro ótimo. - Harry percebe, mas deixa passar.
- Receita da minha vó, não é você claro.  -
Reviro os olhos. Ele nunca vai parar com isso.
- Preciso de alguém para provar uma coisa que testei com as coisas da sua dispensa. É meio louco, mas talvez fique bom.  -  Harry me aparece com um coisa rosa em forma de creme. O cheiro não é dos melhores. Prefiro o Bacon. Pego um pedaço do Bacon do papel toalha. Humm. Que delícia. Ele cozinha bem pra caramba.
- Nem pensar que vou comer essa coisa rosa. Vai que a cor é do veneno de rato?  - Pego mais um pedaço de Bacon. Preciso descobrir o que tem esse tempero. Harry começa a abrir os armários em baixo da ilha enquanto fala comigo.
- Bem que eu poderia ter feito isso, mas você é a única alma viva acordada. Então pelo bem da culinária...você pode provar. 
- E o que eu ganho com isso? - Harry passa a mão pelos cabelos castanhos claros.
- O que você quer em troca? - Isso é facil...
- O tempero do Bacon. - Pra dar um toque dramático, como um pedaço da delícia suína. 
- Feito. Agora, aonde ficam as tigelas de doce? - Me levanto da banqueta e vou até o armário. Entrego a Harry o pote.
- Aqui. Pode ser sincera. - Ele me serviu com  uma pequena quantidade. Pego com a colher só um pouco. Seja que Deus quiser.
- O que tem aqui? - Como e nem escuto mais o que Harry está falando.
- Achei Creme de leite fresco, daí fiz um merengue com raspas de um limão velho, depois uma uma calda de morango em conserva quase vencida, e uns pedaços de chocolate picado. Vocês precisam limpar essa dispensa...
- Harry.  - Chamo. Mas Ele continua falando.
- Tinha um monte de coisa estragada, tem até uma batata com um fungo zumbi...e... - Dou um tapa no braço dele o fazendo parar de falar.
- Isso está uma delícia! Tipo, a melhor sobremesa que eu já comi. - Assim que digo  Harry abre um sorriso orgulhoso.
- Sério? Eu vi um ramo de hortelã, não quis colocar. Quem sabe ia ficar melhor.
- Isso tá incrível assim, se colocasse a hortelã iria matar o sabor do morango.  - Dito isso, encho a boca de doce, então gesticulo em direção ao Bacon.
- Você me deve uma receita. - Harry assente.
- Justo. O segredo é... - Harry nunca terminou de me contar a receita do seu maravilhoso Bacon. Uma pedra bateu de leve no vidro da cozinha. Caminho até a janela, e para minha surpresa, Charlotte está do lado de fora. Rapidamente saio para fora abrindo a porta dos fundos para ela.
08h27.
  Charlotte fica tensa quando me vê. Ela está vestindo uma camiseta do Rammonas preta e sua jaqueta de couro descascado lilás. Seus cabelos ruivos estão presos num coque alto, e a maquiagem está toda borrada em volta dos olhos.
- Quem é aquele garoto na sua cozinha?! Pretendente novo?! E você nem para me contar! - Sorri, mas a tensão entre nós duas é palpável. Me aproximo dela devagar.
- Ele...é só um amigo dos meninos. - Charlotte assente e um silêncio desconfortável nos atinge.
- Olha...Me desculpa por ontem. Eu devia ter te contado sobre mim e o Chade antes, mas, mas é muito...difícil não ter apoio de ninguém. - Me sento nos degraus da escada. Ela não faz idéia de que eu não sei o que dizer.
- Charlie, me perdoa também, por ter dito que você não me culpasse por nada que acontecece com você. Foi muito idiota te  dizer isso. - Charlotte me abraça forte, seus cabelos estão bem na minha cara mais eu não ligo.
- Muito Obrigada por me apoiar, sabe o Chade me disse que não ia ser fácil, mas eu tenho você, quem precisa da careta da minha mãe? - Solto os braços dela. Ela acha que vou apoiar o relacionamento dela com o Chade?  E ver minha melhor amiga se afundar na lama? Nunca.
- Charlotte, eu não apóio os seu namoro com o Chade, e nunca vou. - Charlotte dá um passo pra trás como se tivesse tomado um tapa na cara.
- Mas...eu pensei que...você pediu desculpas...  - Me aproximo dela.
- Pedi desculpas por que disse que você não podia me culpar se algo de ruim acontecece com você. Você precisa me escutar Charlotte...
- Você é igual a minha mãe! Vocês estão pensando que eu não sei o que estou fazendo caralho?!  Que sou uma criança! - Algumas pessoas que passam na rua encaram curiosas a cena, mas não ligo para elas.
- Ninguém pensa isso de você Charlotte! - Ela ri feito uma maluca, isso não é coisa boa...
- Ah claro, a Charlotte rebelde só quer incomodar, ela só quer atenção, mas quer saber? Que se foda! Que se foda você, a minha mãe, tudo! - Abro a boca para retrucar mas ela volta a falar.
- Nada que você diga vai me fazer mudar de idéia. Então se vai ser a minha a amiga vai ter que aceitar, se não então nunca mais fala comigo Skye. 
Fico em silêncio. Não posso fazer isso. Charlotte interpreta meu silêncio, ela se vira em direção a rua e com a voz fria se despede.
- Eu tomei a minha decisão. E pelo jeito você tomou a sua.
Choro, sentada na escada, soluçando alto.
Quem sabe eu devia ter aceitado, ficado quieta. Mas agora é tarde, perdi minha melhor amiga. Pra sempre.
    09h09.
Depois de ficar por vários minutos na escada chorando, finalme me levantei e tirei a terra da camiseta. Entrei em casa desolada. Perdi a Charlotte, talvez a nossa amizade nunca volte a se recuperar.
  Conheci a Charlotte em um dia de muito calor, meus pais levaram eu e meus irmãos a praça da cidade. Lá tinha uma espécie de Park aquático público. Eu tinha 7 anos, a Charlotte 9 anos. Na época eu não sabia fazer amizades lá muito bem, na verdade até hoje não sei direito. Fui brincar com um grupo de crianças mais velhas de pega-pega, mas eu não conseguia pegar elas, sempre fui terrível em esportes. Elas riam de mim, até que um garoto forte me empurrou no chão. Charlotte veio como uma heroína e deu um soco na cara dele.
"Seu idiota! Se bater nela de novo, vai ganhar um novo pesadelo garoto." Ela gritou pra ele tão assustadora que até eu fiquei com medo. Ela com o corpo franzino, as roupas quase masculinas e o cabelo preso em um rabo de cavalo se virou para o resto do grupo.
"Isso vale para o resto de vocês!" Ela pegou na minha mão e me levou até um dos balanços. Estendeu a mão esquerda para mim que ainda estava surpresa.
"Meu nome é Charlotte Simns, e o seu?" Apertei a mão dela e disse meu nome sorrindo.
"Skyler Collins. Mas pode me chamar de Skye." Ela sorriu com dois dentes faltando.
" Nossa você botou medo neles! Foi demais."  Ela riu. Então se sentou no balanço vermelho.
"É, eles vão ir mijados para casa hoje." Desde desse dia, somos inseparáveis. Quer dizer, éramos  inseparáveis.
  Assim que pus os pês dentro de casa não queria ver ninguém, e quando disse ninguém era ninguém mesmo. Passei pela cozinha aliviada por Harry não estar mais ali. Mas não dei tanta sorte quando fui para a cozinha. Harry estava sentado ligando a TV.
- Quer uma partida de Street Fight ou tem medo de perder para o campeão mundial? - Assim que viu meu rosto ele largou o controle da TV.
- Obrigada, mas prefiro ficar no meu quarto. - Me fiz de forte e subi os degraus da escada, eles pareciam infinitos, igual o caminho até o meu quarto.
   No momento exato em que tranquei a porta uma avalanche de emoções me tomou. Não sabia o que fazer, mais tinha em mente que a culpa não era minha. Não sei de onde veio essa certeza mais ela se instalou dentro de mim. Em menos de um minuto estava de roupa trocada, cara lavada e indo para o andar de baixo.
- Acho que quero jogar. Se prepare pra perder. - Harry riu e me jogou o controle.
- Vamos ver então.
 

Mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora