#4

7 1 0
                                    

16h33.
No final do meu turno resolvi ir na livraria onde a Charlotte trabalha. Preciso avisar que nosso passeio foi cancelado. Atravesso a rua correndo.
Abro a porta. Félix o gerente me cumprimenta com a cabeça.
- E aí. - Digo a ele. Félix me chama até o balcão.
- Os livros que você encomendou já chegaram. - Félix tira de trás do balcão meus pacotes. Finalmente chegaram!!
- Obrigada, obrigada Félix! - O gerente de meia idade careca sorri.
- Não foi nada.
Félix percebe que eu vim atrás da Charlotte.
- Ela está na seção de aventura.
Passo por entre as
prateleiras. Até avistar Charlotte na seção de viagem e aventura.
- Charlie? - Chamo. Charlotte está de pe na escada no alto da prateleira organizando livros. Assim que chamo ela, Charlotte se desequilíbra. Grito quando elacaí da escada.
Corro até a Charlie que se recupera do tombo.
- Deus, Charlotte! Você tá legal? - Ela não responde. Me agacho ao seu lado no chão.
- Fala comigo. - Charlotte finalmente segura a minha mão pra se erguer.
- Acho que estou viva. Isso é um bom sinal né? - Concordo com ela. Puxo minha amiga devagar até a mesa de madeira branca no meio das prateleiras.
- O que aconteceu? Você caiu de repente, tá se sentindo bem? - Ela dá de ombros.
- Você me deu um susto. Ontem li It a Coisa e agora fiquei traumatizada com qualquer coisa que fale.
Bom, agora tá explicado.
- Sinto muito se me pareço com o It, um palhaço do demônio, e ainda assassino de crianças e se isso te fez cair da escada. - Digo sarcasticamente. Charlie faz bico. Sorrio e dou um tapa de brincadeira nela.
- Fala logo o que você veio fazer aqui tão cedo? Ainda falta meia hora para a gente sair. - Charlotte pergunta. Esse é o problema, não vai ter passeio nenhum.
- Falando no passeio. Não vai rolar. - Charlotte fica sem ar e bate as mãos na mesa.
- Como assim "não vai rolar"? - Esfrego a parte de trás do pescoço de ansiedade.
- Matt tem um jogo hoje, e ele emprestou o carro pro Jay. - Ela bate a cabeça na mesa.
- Nós conversamos com o seu irmão faz sete meses Skye. Ele não pode simplesmente dizer que não dá pra ir do nada.
Como se ela não conhessese ele. Matt faz o que quer e quando quer.
- Claro, como se isso fizesse diferença Charlotte. Ele disse que não vai levar gente e ponto.
Charlotte não está nem um pouco convencida disso. A cara que está fazendo é de uma idéia que vai me meter em confusão.
- Podemos ir de ônibus. Vamos voltar antes das 22h, ele nem vai perceber nada. - Faço que não.
Isso vai dá ruim. Ah se vai.
- Eu não posso ir hoje, Dylan tem que ir no jogo também, é um jogo importante pro Matt. - Ela assente enrolando uma mecha de cabelo nos dedos.
- Vocês não têm televisão em casa não? As vezes acho que os seus irmãos vivem na pré-história. - Rio. Ela tem razão.
- Obvio que a gente tem TV Charlotte. Mas o jogo não vai passar na TV. E o time do Dylan vai jogar contra o Lions, por isso ele precisa ir no jogo. - Charlotte revira os olhos.
- Quem liga pro time do Dylan Skye? Ele que vá sozinho. - Balanço a cabeça negativamente.
- Por que você odeia ele Charlotte?
Desde que somos a amigas os dois ficam se bicando o tempo todo.
- Além dele ser o Dylan? Nenhum.
Esses dois ainda vão se casar.
- Quando vamos poder ir na biblioteca então? - Depois a ansiosa sou eu. Amanhã seria um bom dia, Owen vai me substituir no turno da manhã. Ou seja folga.
- Amanhã de manhã estou liberada. Posso falar para o Matt que Janet precisa de ajuda com o bebê. Ele não vai me negar isso.
Charlotte está com a boca aberta, as narinas também e até seu piercing está mais visível.
- QUE BEBÊ? - Olho para ela confusa.
Que? Fico olhando pra Charlotte ainda confusa.
- Não precisa gritar desse jeito, não sou surda. - Charlie me ignora.
- Você disse que a Janet tinha outro bebê? Ela adotou? - Bato a mão na testa. Não é possível alguém ter o Q.I de uma almôndega.
- Ela tem duas filhas, a mais nova deles tem dois meses Charlotte, você não viu a barriga grande dela não? - Charlie dá de ombros. Meu. Deus.
- Achei que ela tivesse engordado. Enfim, amanhã nos vamos certo? - Confirmo. Se o Matthew descobrir vai ser problema da Skyler de manhã.
Me despeço da minha melhor amiga, então pego minha bicicleta rumo a casa.
17h45.
Chego em casa exausta. Teve um acidente na avenida principal, o bloqueio foi geral, ninguem conseguia passar. Levei mais que o dobro de tempo parada no sol, esperando que o trânsito andasse pra tomar um atalho.
Entro pela porta da garagem, a nossa casa tem dois andares, a escada na frente é protegida pela área de telhas, o nosso jardim da frente tem algumas flores, nos últimos verões pintamos a casa de branco nas escadas e portas, e o resto de azul claro. Dessa vez devíamos pintar de cinza cimento.
Entro dentro de casa, Matt esta fazendo abdominais no chão, que exibido.
- Precisa esfregar na minha cara que sou sedentária? - Matt ri mas não perde a concentração.
- Não tô fazendo isso. Só fiz cem até agora. - Jogo a almofada do sofá nele. Jay está na cozinha fazendo um sanduiche de pasta de amendoim e geléia de uva. Só de ver me deu fome. Fico encarando antes que o Jay desse uma bela mordida.
- Quer um? Posso fazer. - Faço que sim. Não sou boba nem nada. Jay começa a preparar meu sanduiche. Largo meu avental marrom no cabide atrás da porta dos fundos. Matt entra na cozinha todo suado.
-Faz um desses pra mim mano. - Jay ergue as sobrancelhas. Coitado. Nem conseguiu comer ainda.
- Cadê o Dylan? Ele sumiu. - Jay pergunta. Ele entrega os sanduíches. Vou até a geladeira e pego o galão de leite.
- Ele tá no quarto bravo comigo. - Matt diz e se serve de leite num copo.
- E não é pra menos, você não deixou ele ir jogar. Se pra mim já é uma babaquice imagine pra ele. - Jay senta na mesa, precisa fazer a barba.
- Ele sabe bem por que eu não quero que ele jogue hoje. - Fico quieta. Melhor não me envolver nisso.
- Eu também sei mano. Ele tá destruindo nessa temporada e você não quer perder. - Matt se engasga com o leite e começa a tossir muito. Corro e bato nas costas dele. Será que é esse o motivo da briga toda?
- O que...você...disse? - Matt consegue dizer entre uma e outra tossida. Matt faz um sinal pra que eu pare de bater nas suas costas.
- Nada, só a verdade. Se não concorda deixa ele jogar então. - Matt faz que não.
- Ele sabe dos meus motivos Jay. Jamais diria pra ele jogar por ter medo de perder. Você Sabe.
Com isso Matt sai da cozinha. Parecendo triste? Sei lá.
- Não acho que ele tem medo de perder. - Digo enquanto dou uma boa mordida no meu sanduiche.
- Não tem outra explicação para ele não deixar o Dylan jogar Skye só pode ser isso.
Término meu lanche.
E subo pro meu quarto pra me arrumar.
18h18.
Nem fico surpresa em ver o Dylan deitado na minha cama com os pês pra fora. O Dyaln está vestindo uma camisa do Lions assinada pelo Matt. Podia ser pior, ele podia estar com a camisa do Westree.
- Vai, fala o que aconteceu. - Dylan suspira.
- O time não ficou nem um pouco feliz em saber que eu não vou jogar. Eles tão muito putos comigo. - Me deito na cama junto dele. Não é pra menos que estão bravos.
- Você disse que foi o Matt que não deixou né? - Ele soca meu travesseiro.
- Não. Não disse nada sobre essa merda toda. - Soco o braço dele.
- Como assim não disse nada Dylan? Quer que o time pense que você é irresponsável? - Ele suspira triste.
- Claro que não porra. Mas não dá pra queimar o filme do meu irmão. - Tento retrucar mas Dylan se levanta.
- Quer saber...que se foda essa porra, esquece o que eu disse.
Dylan sai do meu quarto.
Começo a me arrumar. Escolho um vestido preto liso e um casaco de tricô creme, e meus fiéis All Stars. Vou até o banheiro, me olho no espelho. Meu cabelo que normalmente fica um pouco em baixo do pescoço, agora já tá na metade das minhas costas, preciso cortar urgentemente. Prendo o meu cabelo em um rabo de cavalo alto, lavo meu rosto com um sabão e passo um pouco de base e um batom suave na boca.
Desço para a sala. Jay tirou a camisa preta lisa e colocou uma verde néon e uma calça preta. Mas o cabelo...
- Jay, esse seu cabelo tá um pouco bagunçado. - Ele passa a mão no cabelo e ajeita de lado a franja.
- Agora sim.

Mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora