Chapter 4

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A pontada de dor era familiar para Neil. Era óbvio, com todas as cicatrizes que cobriam seu corpo, que ele e a dor eram velhos amigos. Andrew sentou-se na ponta dos pés em frente ao vaso sanitário onde Neil estava sentado.

"Fique quieto", disse Andrew, limpando o corte no lábio. O algodão embebido em água oxigenada ficava cada vez mais vermelho a cada mancha. Finalmente, ele ficou encharcado e Andrew teve que pegar um novo. "Tome um banho. Vou ligar para Kevin."

Neil pegou sua manga. "Não conte a ele."

Andrew odiava a aparência suplicante de seus olhos. Tão diferente de como eles pareciam naquela sala do Starlight Lounge. Era como se todo o gelo neles tivesse derretido em duas piscinas azuis e frias. Infinito e profundo em que Andrew poderia ter afundado para sempre. "Você quer que eu ligue para Jean?"

Ele olhou para as mãos e pensou sobre isso. Neil não via Jean desde que escapou do Ninho. Como Jean sabia onde ele estivera naquela noite, Neil só conseguia adivinhar. Ele encontrou os olhos muito escuros de Andrew e assentiu.

Andrew desapareceu do banheiro e foi até a sala. Ele puxou o telefone do bolso e procurou nas informações recentes o nome de Jean. Ele apertou ligar e esperou. O telefone tocou seis vezes antes de Jean atender.

"Andrew?"

"Eu estou com ele. Ele está perguntando por você. Você pode nos encontrar?"

Jean respondeu com bastante hesitação que sim. Com todo o caos acontecendo no Ninho com o ferimento de Riko, ele seria capaz de escapar por uma hora sem ser notado. Andrew disse a Jean para encontrá-lo na frente da lanchonete na mesma rua. Ele desligou o telefone e voltou ao banheiro. Neil ainda estava sentado na tampa do vaso sanitário com os braços em volta do peito. Andrew suspirou e foi pegar um cobertor no sofá. Ele colocou o edredom vermelho sobre os ombros nus de Neil.

"Jean está vindo, mas tenho que ir encontrá-lo." Não havia nenhuma maneira de Andrew enviar uma mensagem de texto para um maldito Raven com seu endereço. Ele prefere dar dois tiros no próprio pé do que se expor a esse tipo de possível traição. "Você consegue tomar banho sozinho ou precisa de ajuda de novo?"

Neil não disse nada, apenas olhou para as mãos.

"Olhe para mim."

Neil levantou lentamente o olhar.

"Não importa", disse Andrew. Neil parecia confuso, então continuou: "Não importa o que ele fez com você ou o que ele iria fazer ou o que ele poderia fazer aos outros porque você não estava lá. Você ainda é uma pessoa e sempre merecerá o direito de escolher quais decisões tomar. Você escolheu revidar. Não deixe que aquela voz em sua cabeça o convença de que você fez a escolha errada." Andrew sabia o quão maligna aquela vozinha no fundo da sua cabeça poderia ser. Ele lutou contra isso todos os dias. E todos os dias ele reconquistava um pedaço de si mesmo que havia oferecido há muito tempo. Seria uma pena ver Neil, depois de tudo que passou, tomar a decisão de parar de lutar.

"Posso tomar banho sozinho", disse Neil, baixinho.

Andrew assentiu e se levantou. Ele deixou Neil sozinho e pegou as chaves no balcão. A caminhada até o restaurante Cherry & Plum não demorou mais do que alguns minutos. Ele esperou por Jean por quinze minutos antes de finalmente aparecer. Jean parecia estressado, apesar de sua aparência bem cuidada. Ele usava um casaco preto sobre uma calça cinza escuro. Um lenço vermelho circulava em seu pescoço e estava enfiado em seu casaco.

"Onde está Neil?"

"Vou levar você até ele... com uma condição."

"Qualquer coisa."

Don't break the glass - AndreilOnde histórias criam vida. Descubra agora