Infelizmente em Casa!

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Eu jamais imaginei que meus pés tocariam novamente esse solo maldito. Aos 7 anos, fui enviada para um convento, a mando de meu querido Rei, ou assim pensei. Na época, não questionei suas intenções, nem os sussurros que ecoavam pelos corredores do castelo. As freiras, com seus rostos velados, me ensinaram a temer o que não podia ver, e a conviver com o silêncio sufocante. Dez anos se passaram, e agora, com 17, retorno para este lugar que, embora familiar, parece envolto em uma escuridão que não consigo compreender.

Há algo diferente, algo oculto nas sombras do palácio que um dia chamei de lar. Não sinto o calor acolhedor da infância, apenas uma presença fria e sinistra que me envolve enquanto caminho hesitante. O vento sopra de forma estranha, trazendo consigo memórias que eu nunca tive, segredos que nunca ouvi, mas que agora parecem querer se revelar.

Então, como se surgida das brumas do esquecimento, uma jovem moça me aguarda do lado de fora. Seu olhar não é de surpresa, mas de expectativa. Como se ela soubesse mais sobre mim do que eu mesma. Seus olhos brilham com uma estranha intensidade, e seus lábios se curvam em um sorriso enigmático.

Ela me encara. A reverência parece inevitável, mas não é o que me amedronta.

— Alteza... — Sua voz é suave, mas afiada como uma lâmina. No momento em que essa palavra escapa de seus lábios, o vento se cala, como se o próprio tempo prendesse a respiração.

Meu coração dispara, o peso do que está por vir sufoca o ar ao meu redor. O que me aguarda atrás das portas do palácio? O que mais foi escondido de mim todos esses anos? E, mais importante… por que agora?

Eu senti um arrepio percorrer minha espinha quando seus lábios se curvaram em um sorriso delicado, mas perigoso. O vento se calou, a terra pareceu segurar sua respiração, e por um instante, até mesmo o tempo hesitou. A jovem diante de mim se apresentou com um olhar que conhecia mais de mim do que deveria.

— Seja bem-vinda, Vossa Alteza. Meu nome é Lucy — disse ela, com uma reverência perfeita, porém fria. — Serei sua criada, estou aqui para servi-la.

Cada palavra era dita com uma suavidade controlada, quase calculada. Senti meu coração acelerar, como se algo invisível se movesse ao nosso redor, algo que eu não podia ver, mas podia sentir. Lucy se ergueu e me encarou com olhos que continham segredos que não ousavam se revelar.

— Obrigada, Lucy — respondi, tentando manter o tom firme, mesmo com a dúvida e a tensão crescendo dentro de mim. — Poderia me levar até o Rei? Gostaria de vê-lo...

Aquela pergunta, tão simples, parecia esconder mais do que eu poderia imaginar. Eu precisava vê-lo, precisava de respostas, e, no fundo, precisava sentir que ele ainda era o mesmo Rei que me enviou embora tantos anos atrás. Mas o sorriso de Lucy se manteve, enigmático, quase como se ela já soubesse o que viria a seguir.

— Infelizmente, o Rei não está recebendo visitas agora, Vossa Alteza — ela disse, e sua voz era como um sussurro que ecoava pelos corredores vazios. Algo em suas palavras fez meu estômago se apertar. — Mas haverá um jantar esta noite. O Rei solicita sua presença.

Minhas mãos tremiam ligeiramente, e o ar ao meu redor parecia cada vez mais denso, como se o próprio palácio estivesse vivo, esperando, observando. O que estava acontecendo? Por que ele não me receberia?

Lucy me observava atentamente, cada movimento meu parecia calculado em seus olhos, como se ela esperasse por algo, algo que eu ainda não compreendia. E, de repente, a pergunta que eu não queria fazer tomou forma em minha mente: "*Era realmente o Rei quem me mandava de volta?*"

O que me aguardava naquele jantar? O que estava sendo cuidadosamente ocultado sob camadas de segredos antigos e silêncios pesados?

Por que agora?

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