O convite.

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Após muito refletir sobre Liam e o que poderia fazer, uma ideia começou a se formar em minha mente. Estávamos quase prontos para sair até o povoado, onde meu pai queria falar com os cidadãos e explicar o que havia acontecido. Percebi que aquela era a oportunidade perfeita para colocar meu plano em prática.

— Pai, posso te pedir mais uma coisa? — perguntei, tentando esconder a ansiedade com uma empolgação leve, quase teatral.

Ele me observou por um momento, os olhos estreitados, desconfiados. — Meghan, você pode até pedir, mas não sei se atenderei seu pedido. — disse ele, erguendo a sobrancelha, como se tentasse ler os segredos por trás das minhas palavras.

Dei uma volta ao redor dele, fingindo uma reflexão calma, enquanto meu coração martelava no peito, carregado de intenções que eu sabia que ele talvez não compreendesse.

— Com tudo o que está acontecendo... — comecei, a hesitação em minha voz cuidadosamente calculada. — Eu pensei que poderia ser uma boa ideia ter um guarda ao meu lado. Alguém que me protegesse sempre que eu precisasse. — Mordi os lábios, como se temesse revelar demais, mas já sabia exatamente aonde queria chegar.

Ele ficou em silêncio por um momento, avaliando minha proposta. — Até que não é uma má ideia, Meghan. — murmurou, mas logo emendou com uma preocupação visível. — O problema é saber em quem confiar... Não posso simplesmente entregar sua segurança a qualquer um. — Seus olhos se estreitaram, e ele passou a mão pela cabeça, como se estivesse considerando o peso de suas decisões.

Me preparei para o próximo passo, sabendo que o nome que eu diria carregava mais do que apenas a confiança de um guarda. Havia algo mais, algo que eu ainda não estava pronta para admitir, nem para mim mesma.

— Na verdade, pai... — hesitei, mas continuei. — Tem um guarda em quem confio. Ele já me ajudou muito, e sei que posso contar com ele. — Aquelas palavras carregavam um peso oculto, como se guardassem segredos que apenas eu conhecia.

Meu pai ergueu a sobrancelha novamente, agora claramente interessado. — Quem seria esse guarda? — Sua voz carregava uma curiosidade afiada.

Engoli em seco, a tensão crescendo. — Liam. — disse em um sussurro, quase inaudível, como se o próprio nome carregasse mistérios que eu não estava pronta para desvendar por completo.

O nome flutuou no ar, carregado de algo que não podíamos nomear, e senti o olhar do meu pai se aprofundar, como se tentasse enxergar através de mim, tentando descobrir os segredos que eu ainda escondia.

O rei ficou pensativo por um longo instante, e o silêncio entre nós se tornou quase sufocante. Eu podia ver nos olhos dele que havia algo mais por trás de suas palavras, mas ele finalmente decidiu falar.

— Liam é um bom guarda. Não sei os motivos para o seu interesse nele, mas vou considerar sua sugestão assim que voltarmos do povoado. — disse ele, ainda refletindo, estendendo a mão para que eu entrasse na carruagem.

Apenas dei de ombros, mas a sensação que me envolvia era desconfortável. Nossa relação parecia frágil, como se eu precisasse tomar cuidado com cada palavra, como se um simples deslize pudesse nos afastar ainda mais.

Chegamos ao povoado, e o clima estava carregado de receio. Podia sentir nos olhares das pessoas a desconfiança e a incerteza. Elas estavam claramente abaladas.

Meu pai, com uma expressão que tentava transmitir confiança, deu alguns passos à frente e, com a voz firme, começou a falar:

— Queridos cidadãos de Aldovia, venho aqui para me desculpar. Fiquei ausente por muitos anos e confiei a outros o cuidado com os assuntos do reino. Infelizmente, pessoas em quem depositei confiança abusaram de seu poder e começaram a nos roubar, inclusive de vocês, meu povo. Foi minha filha, a futura rainha de Aldovia, que descobriu esses traidores. Já estou devolvendo a maior parte do dinheiro que foi tomado, mas isso levará tempo. Contudo, como rei de vocês, eu juro que as coisas irão melhorar. — A multidão ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo suas palavras, enquanto ele fazia uma pausa antes de continuar. — Também estou aqui para convidar todos vocês. Daqui a três dias, haverá um grande baile em comemoração ao aniversário de Meghan, e todos estão convidados.

A tentativa de confiança em sua voz ecoou pelo povoado, e logo as pessoas começaram a aplaudir e gritar elogios, felizes com o convite. Mas eu sabia que, por trás daqueles sorrisos, ainda havia um peso de incerteza.

Enquanto andávamos pelo povoado, percebi que, apesar do alívio momentâneo, muitos ainda sofriam. Trouxemos cestas de comida e roupas para distribuir à população, tentando ao menos aliviar um pouco suas dificuldades. As horas passaram enquanto caminhávamos entre o povo, e o tempo parecia arrastar os problemas e as mágoas de uma nação que precisava de mais do que promessas.

Quando voltamos para o castelo, já exaustos, meu pai, de repente, parou e chamou meu nome.

— Meghan. — Sua voz estava carregada de algo mais profundo.

Me virei para ele, surpresa. — Sim, pai?

Ele me olhou, seus olhos brilhando com uma tristeza que ele tentava esconder, mas a voz o traiu. — Apronte-se para o jantar esta noite. Faz tempo que você só come em seu quarto... Sinto sua falta, filha. — disse ele, sua voz tremendo levemente, deixando transparecer uma fragilidade que raramente vi.

Fiquei quieta por um momento, tentando compreender o que ele realmente estava tentando me dizer. — Tudo bem, pai. — respondi suavemente, ainda sem saber ao certo como lidar com a distância que se formou entre nós.

Enquanto me afastava, sentia o peso dos segredos e do que ficou por dizer entre nós. Algo estava mudando, e eu não sabia se estava pronta para enfrentar o que vinha pela frente.

Fui para o meu quarto, perdida em pensamentos sobre tudo que estava acontecendo. Meu pai tinha dito ao povoado que fui eu quem descobriu o problema com os impostos, mas aquilo não fazia sentido. Eu só tinha mencionado a ele que os impostos estavam aumentando toda semana; não sabia quem estava por trás disso, e ele mesmo foi quem descobriu a fraude. Por que ele disse que fui eu? O mistério me incomodava profundamente, mas, ao mesmo tempo, não conseguia entender suas motivações.

Enquanto Lucy me ajudava a me aprontar para o jantar, meus pensamentos vagavam sem rumo, tentando processar tudo. Eu também pensava em Philip, tentando encontrar as palavras certas para escrever a ele, torcendo para que ele viesse ao baile. Meus sentimentos estavam confusos, um turbilhão que eu não conseguia controlar. Amor, dúvida, frustração... tudo se misturava de forma caótica.

— Vossa Alteza está pronta para o jantar. — disse Lucy, interrompendo meus pensamentos.

— Obrigada, Lucy. Já vou descer. — respondi com a voz tristonha, sem conseguir esconder minha melancolia.

Lucy fez uma reverência silenciosa e saiu, deixando-me sozinha por um momento. Aproveitei esse tempo para me recompor e desci para o jantar. A mesa já estava repleta de comidas deliciosas, mas meu apetite parecia ter ficado preso em algum lugar distante. Meu pai ainda não tinha chegado, e o vazio da sala ecoava a distância que sentia entre nós.

Quando ele finalmente entrou, levantei-me e fiz uma reverência antes de nos sentarmos. O silêncio entre nós era espesso, quase sufocante. Por mais que houvesse muito a ser dito, as palavras não encontravam seu caminho.

Finalmente, decidi quebrar o silêncio. — Pai, por que mentiu para o povo dizendo que fui eu quem descobriu o responsável? — perguntei, minha voz soando mais vulnerável do que eu gostaria.

Ele continuou comendo, sua expressão distante. — Mas foi você, Meghan. Você descobriu que a população estava sendo roubada. Eu só dei o crédito a você. — disse ele, quase ausente em suas palavras, como se o que dizia não tivesse tanta importância.

Dei de ombros, sem saber como responder. O silêncio retornou, agora mais pesado do que antes. Era como se cada palavra que falávamos fosse cuidadosamente medida, com medo de quebrar algo frágil entre nós.

Tentando mudar o rumo da conversa, meu pai finalmente falou. — Pensei no seu pedido, Meghan. Tudo bem, você pode ter Liam como seu guarda. — disse ele, com um ar cansado e distante.

— Obrigada, pai. — disse, forçando um sorriso que não alcançava meus olhos.

O jantar foi longo, marcado por um silêncio ensurdecedor. Às vezes, parecia que estávamos prestes a falar, mas nenhum de nós sabia exatamente o que dizer. Era como se um abismo invisível tivesse se formado, separando-nos cada vez mais.

Quando finalmente terminamos, nos despedimos em poucas palavras e cada um foi para seu quarto. Enquanto caminhava de volta, pensei comigo mesma: "Amanhã será um novo dia." Mas, no fundo, eu sabia que os segredos e o peso do que não foi dito ainda pairariam sobre nós.

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