Lembranças!

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— Meg, vem brincar!

— Já vou! Você corre muito rápido, mais devagar, Jorge! — disse quase sem fôlego, tentando alcançá-lo.

Enquanto corríamos por uma campina cheia de flores, os raios de sol dançavam entre as pétalas, trazendo de volta lembranças de verões passados. Avistamos um casal de pombas brancas dentro de uma pequena gaiola.

— Mamãe, por que elas estão presas? — Jorge perguntou, os olhos cheios de curiosidade.

— Elas estavam feridas. O papai as resgatou meses atrás, cuidou delas, e agora chegou a hora de soltá-las — respondeu a mamãe, lembrando-se de como o papai passara horas tratando das pombas, sua voz suave acalmando os pequenos pássaros.

— Por que não podemos ficar com elas? São tão lindas! — insistiu Jorge, fazendo sua melhor cara de "cachorrinho abandonado", como fazia quando queria algo muito.

Mamãe sorriu, os olhos brilhando com ternura e sabedoria.

— Se você quiser muito, muito mesmo, algo, deixe-o ir. Se ele voltar para você, é porque sempre foi seu. Se não voltar, é porque nunca foi seu, meus queridos — disse mamãe, enquanto nos beijava suavemente na testa, como fazia quando nos confortava em noites de tempestade.

Com uma pomba em cada mão, eu e Jorge as soltamos. Assistimos enquanto elas voavam, seu voo leve como as memórias de tardes ensolaradas, brincadeiras no quintal e risos que ecoavam pela casa. O vento sussurrava ao nosso redor, trazendo à tona ecos de risadas passadas, e o mundo parecia desacelerar.

Mas, de repente, tudo ao meu redor começou a desaparecer.

— Mamãe? Cadê você? Mamãe? — comecei a correr, o desespero crescendo em meu peito, lembrando-me da segurança de seus abraços.

— Mamãe...?

— Ela está acordando!Chamem o Rei!

Enquanto variava, percebi que estava de volta ao castelo, no meu quarto.

— O que aconteceu? — perguntei à primeira pessoa que vi.

— A senhorita caiu do cavalo, vossa Alteza — respondeu o médico real, sua expressão impassível não escondia a preocupação.

— O que aconteceu com o cristal? — perguntei, ainda atordoada pela queda, a dor pulsando em meu corpo e na alma. A lembrança do voo das pombas e da liberdade que eu tanto desejava ecoava em minha mente, trazendo uma tristeza profunda.

— Mandei que os guardas matassem aquele cavalo! — disse o Rei, entrando no quarto com uma expressão fria.

— Por quê? Por que você faria isso? Você é um monstro!!! — gritei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto a raiva e o desgosto fervilhavam dentro de mim. A perda da liberdade, a perda de quem eu era, tudo isso me esmagava.

Comecei a arremessar tudo o que estava à minha frente, buscando uma saída para a fúria que me consumia.

— Pare de criancice, Meghan, você já é quase uma adulta. Por conta da sua fuga, você terá um guarda sempre com você onde você for — disse ele, desviando das coisas que eu jogava, seu tom desdenhoso apenas alimentando minha revolta.

— Já disse a você, não irei me casar!!! — gritei, a irritação explodindo em mim como um vulcão prestes a entrar em erupção.

— Você não tem escolhas, Meghan. Aceite logo isso, e tudo ficará bem! — ele respondeu, aumentando a voz e socando a parede, como se sua frustração fosse mais importante que minha dor.

— VOCÊ É UM MONSTRO!!! — gritei, a tristeza se entrelaçando à raiva, cada palavra carregando o peso de todas as perdas que eu não podia suportar.

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