54. O DOUTOR WOLF: E SEU AMIGO BETA

609 74 64
                                    

A viagem de carro foi longa, tensa e silenciosa. Namjoon não tirou os olhos da estrada e não falou mais comigo além do 'olá'. Eu estava no banco do passageiro, encostado na janela, o cotovelo apoiado na beirada e a cabeça apoiada no punho enquanto o ar da montanha batia em meu rosto. O Beta nem tinha ligado o rádio ou a música, então era possível mastigar o silêncio profundo enquanto os minutos passavam aos poucos. Olhei para a paisagem de altos pinheiros no escuro enquanto dirigíamos pela estrada, sem nenhuma iluminação além dos faróis do SUV. A certa altura, me cansei daquela situação e, depois de tirar um cigarro do maço e acendê-lo, eu disse-lhe:

- Nós dois sabemos que você não precisa que eu faça algumas verificações, Namjoon. - soprei a fumaça pela janela aberta e estendi a mão para fora. - Você me convidou apenas para ficar calado e com raiva ou quer conversar sobre alguma coisa?

O lobo não respondeu, apenas continuou olhando silenciosamente para frente até que eu balancei a cabeça e dei outra tragada. Alguns minutos depois, ele me disse: - Taehyung parece melhor agora. Você está ajudando ele muito.

Naquela ocasião fui eu quem deixou um silêncio dramático e estúpido enquanto fumava antes de responder: - Sim.

- Porque?

- Você sabe por quê. - murmurei sem desviar o olhar da paisagem de árvores borradas.

- Não, não sei mais.

Movi minha cabeça para olhar para ele com o canto dos olhos enquanto dava outra tragada.

- Então pense um pouco sobre isso, Namjoon. Você é um lobo esperto, tenho certeza que vai descobrir.

O Beta apertou o volante com mais força, mas não deixou transparecer mais nada em sua expressão séria. Ali terminou a nossa conversinha até que, quarenta minutos depois, ele desviou da estrada principal e entrou num trecho de terra batida. Em menos de cinco minutos chegamos a uma espécie de clareira com árvores e cabanas de madeira. Namjoon saiu do SUV e foi até a parte de trás para voltar com duas lanternas e uma pasta nas mãos. Ele não me disse nada enquanto me entregava uma delas e começava a caminhar em direção às escadas que separavam aquela área da parte superior onde ficava o acampamento.

Era uma noite escura e, embora a lua lançasse alguma luz, havia pouco para se ver, exceto formas escuras. Eu o segui por alguns degraus de tábuas barulhentos e bastante inseguros até um caminho de cascalho que já tinha visto dias melhores. Ali a estrada se dividia e havia uma placa de sinalização velha e desgastada para a qual apontei minha lanterna.

- O que verificamos primeiro? - lhe perguntei e lobo rosnou baixinho e foi direto para a parte central.

Havia um círculo de pedras onde, presumi, eles fariam a grande fogueira para aquecer as nuvens de algodão, contariam histórias sob as estrelas ou cantariam canções cafonas. Ao seu redor ficavam as cabines principais, algumas mais altas para se adaptarem aos desníveis do terreno, com grandes degraus e corrimãos de madeira. As casas não eram muitas, mas pareciam ter resistido ao longo dos anos. Namjoon foi para a principal, a maior e com mais bandeiras estaduais. Ele tirou um maço de chaves do bolso da calça de basquete e apontou a lanterna para elas enquanto eu apoiava as costas na parede de tábuas e olhava para o fundo.

- Onde os filhotes vão dormir? - perguntei. - Eu quero colocar fogo.

Namjoon me ignorou novamente, colocou uma das chaves e depois de se esforçar um pouco, abriu a porta com janelinhas de vidro. Afastei-me da parede e o segui para dentro, apontando a lanterna um pouco para todos os lados. Era a casa de recepção e informações, com um quadro na entrada onde dizia: "Posto dos Aventureiros". Estava decorado como uma família de classe média que nunca havia saído da cidade na vida imaginou que seria uma pequena cabana na floresta. Ou pelo menos tinha sido, porque agora só havia poeira, vasos de flores vazios e postes desgastados com mapas da área ou das atividades que o acampamento oferecia.

HUMANO (Sope)Onde histórias criam vida. Descubra agora