45. O EXÍLIO: SENDO BOM

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Na sexta-feira, no café da manhã, verifiquei meu e-mail e vi que ainda não havia mensagens. A essa altura eu tinha certeza de que a turma estaria vazia e que minhas tentativas de conseguir um lugar para mim no mundo dos charlatões e golpistas não teriam sucesso. Estalei a língua e enfiei o telefone no bolso do short antes de pegar minha enorme caneca de café frio. Yoongi olhou para mim do outro lado da mesa da cafeteria, com seu copo de leite vazio na sua frente.

- O bigode, fera. - eu disse ao lobo, referindo-me ao fato de ele ter manchado e agora ter uma sombra branca acima do lábio.

Yoongi lambeu como uma criança e depois enxugou com a mão. Balancei a cabeça em aprovação e recompensei-o com uma carícia da minha perna contra a dele debaixo da mesa, ao que o lobo ronronou baixinho, quase inaudível. Os Machos não gostavam de fazer isso em público, a menos que esse público fosse a Matilha. Não foi algo que eu tenha lido, aprendi por pura observação. Os lobos reservavam ronronados e demonstrações de afeto para a privacidade, onde não se importavam em parecer vulneráveis.

No resto do tempo, sempre mantinham aquela fachada de homens sérios e intimidadores, algo com o qual eu poderia honestamente me identificar.
Um comentário baixo interrompeu meus pensamentos. Virei o rosto para olhar para o homem que nos observava a algumas mesas de distância e que dissera: - Não acredito que deixaram você entrar aqui. Que porra nojento.

Terminei meu café e me levantei da mesa, fazendo sinal para Yoongi fazer o mesmo. Antes de pagar, abordei o homem mais velho que estava tomando café no meio da tarde com sua esposa frígida. Os dois olharam para nós e começaram a ficar com medo, algo que geralmente acontecia quando um lobo com uma cara muito feia se aproximava. De repente eles não eram mais tão corajosos.

- Você tem algum problema comigo vindo aqui com meu lobo? - lhe perguntei e o homem olhou para nós dois, fechou os lábios finos de víbora, acabando engolindo as palavras e balançando a cabeça.

Sua esposa parecia prestes a ter um ataque cardíaco, olhando em volta com uma cara assustada, como se estivesse tentando chamar a atenção dos outros clientes para vir em seu socorro.

- Uau, Yoongi, parece que eles vão nos convidar para um café hoj. - eu disse ao lobo, acariciando seu abdômen por baixo da camiseta curta e justa.

O lobo rosnou em resposta com sua cara de gangster. Com um sorriso, levei-o embora e saímos para a rua bonita e fresca. O céu estava coberto de nuvens e uma brisa suave carregava um cheiro agradável de umidade, então Yoongi me acompanhou nas tarefas daquele dia. Fomos até a lavanderia para lavar as roupas e depois paramos para pegar nosso pedido diário. De volta em casa, o celular começou a vibrar na minha calça e, sem olhar o número, entreguei ao lobo.

- Yoongi aqui. - ele respondeu. Após um breve silêncio, abaixou a cabeça e assumiu uma expressão preocupada. - E Youngjae? Eles se dão muito bem. - meu lobo assentiu lentamente e choramingou baixinho.

Fingi ignorar a conversa, pegando as chaves para abrir a porta do prédio antes de entrar. Era a mesma conversa de todos os dias: Seokjin ligava para Yoongi para contar que eles haviam falhado em mais uma de suas tentativas estúpidas de alimentar Taehyung, Yoongi ficava triste e se preocupava mais, com seus gemidos lamentáveis e sua cara triste.

- Taehyung não quis as pizzas que Jinho trouxe para ele e as deixou intactas na loja de doces. - Yoongi me explicou quando desligou o telefone.

Murmurei, já com um cigarro nos lábios, e continuei desembrulhando o papel alumínio da bandeja de carne com arroz e legumes.

- Yoongi está muito preocupado com ele. -  o lobo continuou, sentando no banquinho na minha frente, esperando que eu lhe entregasse sua colher e sua cerveja gelada. - Todo a Matilha está.

HUMANO (Sope)Onde histórias criam vida. Descubra agora