39. O EXÍLIO: UM DIA POR VEZ

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Quando Yoongi veio me buscar naquela manhã, estava sentado ereto no banco do passageiro, atento a cada pequeno movimento que eu fazia e ao tom da minha voz, tomando cuidado para não me provocar ainda mais, mas também preparado para reafirmar sua autoridade sobre mim. Ele sabia que eu poderia ficar muito zangado e queria me mostrar que não desistiria da questão do telefone. Porém, entrei no Jeep com muita calma e respondi ao seu olhar antes de apontar para a estrada e perguntar-lhe: - Vamos?

O lobo rosnou afirmativamente e começou a dirigir enquanto eu pegava um cigarro e abria a janela. Passado o nervosismo e a tensão daquele primeiro contato, começaram os pequenos testes para verificar como estava a situação entre nós. Ele agarrou meu pulso enquanto subíamos as escadas para casa e se certificou de que eu não o rejeitasse. Ele esperou que eu lhe servisse o jantar e verificou que era a mesma quantidade de sempre e que não estava tirando comida dele.

Quando terminou, ele me acompanhou até a cama e deitou-se ao meu lado, aproximando-se e grunhindo para que eu pudesse acariciá-lo, verificando se eu estava frio e distante dele. Até que finalmente, ele me virou e me fodeu para ver se eu resistia. Depois de tudo isso, o lobo finalmente se acalmou e adormeceu ronronando, vitorioso, com um sorriso nos lábios em meio à inflamação. Eu não estava bravo com Yoongi. Bem, sim, estava, mas não da maneira que ele pensava.

Fiquei ferrado por ter que ceder a algo que não queria, como o novo celular, mas pude entender que o lobo tinha algumas exigências, como cama cheirando ao seu cheiro de macho ou que ele quisesse encher a casa com a porra das plantas. Todos nós tínhamos nossos limites e eu era um homem com muitos, muitos limites, muitos para não ceder um ou dois em troca. Mas só porque era Yoongi. Além disso, eu tinha a leve sensação de que lhe devia uma.

Afinal, Yoongi ainda não sabia que seu parceiro nunca estaria na Matilha, e isso era um golpe muito duro para qualquer lobo. Por isso "esqueci" da questão do smartphone e deixei passar como se não fosse nada. Até fez Yoongi sorrir ao me ver ao lado dele à tarde, quando este finalmente saiu da cama para vir beber seu enorme copo de leite na cozinha.

- Vou comer algo e comprar comida. - anunciei, oferecendo-lhe o celular. - Guarde caso eles liguem para você.

Yoongi rosnou, como se não gostasse da ideia, franzindo a testa e olhando intermitentemente para o telefone e para mim, mas eu já estava me despedindo e saindo pela porta antes que ele reclamasse. Meu plano era passar o mínimo de tempo possível com aquele smartphone e assim atender o mínimo de ligações possível. Para mim, esse nem era meu telefone, era apenas do Yoongi. A única vez que, infelizmente, não pude evitar de levá-lo comigo foi quando fui trabalhar.

- Hoje é sexta-feira, você não prefere ficar com ele esta noite, já que os solteiros vão estar no Lua Cheia e talvez precisem de você para alguma coisa? -perguntei ao lobo antes de descer do jipe.

- Yoongi estará com Taehyung no porto. - ele respondeu. - É o celular do Hobi.

Suprimi uma careta de aborrecimento e me despedi com um beijo rápido antes de sair do carro. Naquela noite não joguei no lixo, apenas deixei dentro do armário e saí para fazer as coisas. Quando voltei ao escritório, duas horas e meia depois, estava com uma Coca-Cola na mão, que deixei na lateral da mesa antes de recostar-me na cadeira e procurar no bolso o maço de cigarros. Acendi meu cigarro e soprei a fumaça em direção à tela escura da televisão, inclinando-me para ligá-la.

Eu ainda estava mudando de canal quando ouvi um zumbido e revirei os olhos. Não liguei, nem me levantei da cadeira, apenas esperei o barulho desaparecer depois de um tempo e fiquei em silêncio. Se Yoongi sabia que iria passar a noite com Taehyung, o resto dos lobos também deveria saber e não precisavam ligar para aquele telefone. Quem quer que fosse, não entendeu e, uma hora depois, ligou novamente.

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