58. SEOKJIN: NÃO TEM SENSO DE HUMOR

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- Você quer deixá-los em paz? Eles só estão tomando café, pelo amor de Deus... - uma mulher disse, criando um silêncio tenso ao nosso redor enquanto todos os outros clientes observavam.

Levei o café preto aos lábios, já um pouco morno, e terminei sem desviar os olhos da cena. Não era incomum que um casal ou um grupo nos insultasse baixinho e reclamasse da nossa presença, do nosso fedor ou até mesmo de nos deixarem entrar. O que foi estranho é que alguém veio em nossa defesa, como aquela mulher sentada com seus dois filhos pequenos. Por causa do cabelo preso em um rabo de cavalo, do rosto pálido e das olheiras, ela tinha todas as qualificações para ser mãe solteira.

Daquelas que já estavam fartos de tudo e que já não se importavam em gritar com um grupo de trabalhadores que ali pararam para tomar café. Os homens foram bastante claros ao demonstrarem que estavam enojados conosco, e por vários motivos: porque Yoongi era um lobo e, além disso, gay. Eu tinha decidido me limitar a ficar olhando para eles enquanto comia, esperando que percebessem e se assustassem, mas eles eram um grupo de cinco e todos juntos se achavam muito homens.

- E por que você não cala a boca? - um deles perguntou à mulher.

- Yoongi... - murmurei, deixando a xícara sobre a mesa antes de me levantar.

Fomos para a mesa dos trabalhadores e aí a coisa mudou. Não era a mesma coisa ver meu lobo bebendo seu copo de leite como uma criança ou olhando a TV, do que vê-lo de mau humor, na sua frente com seus enormes braços cruzados e rosnando baixinho.

- Há algum problema com meu lobo ou com a senhora? - perguntei em tom sério. - Porque se houver algum problema, podemos conversar na rua. Não podemos manchar o lugar com sangue ou não nos deixarão voltar...

- Foda-se. - respondeu um deles.

Murmurei e sinalizei para Yoongi para sairmos. Claro, não íamos deixar assim. Procurei a van com o mesmo logotipo dos coletes deles, furei os pneus, arranhei o capô e quebrei as janelas para pegar uma lata de lixo e jogar dentro. Meu lobo não podia fazer nada porque estava proibido de fazê-lo, mas isso não o impediu de rosnar com uma cara muito feia quando os homens voltaram e viram o desastre.

- Vocês vão para o inferno, literalmente...- sorri.

Depois de uma breve briga em que meu lobo deixou todos caídos no chão e sangrando, pois eles ia atacar seu companheiro e era seu direito defendê-lo, dei-lhe um carinho na barriga e um beijo feliz nos lábios. Dizer que não adorava ter um gangster com braços maiores que a minha cabeça só para mim...seria mentir. Eu não estava fazendo nada que não tivesse feito antes, não é que aquele poder estava me consumindo, não, eu sempre fui aquele guerrilheiro e favelado, mas agora fazia isso com a certeza de que era intocável.

Era uma sensação muito estranha para alguém que sempre esteve sozinho e que de vez em quando colocava a mão no bolso onde escondia a faca. Agora eu me sentia completamente seguro com Yoongi, tanto que quase perdi o bom hábito de portar a faca, olhar pela janela para ver se alguém estava me espionando ou acelerar o passo ao passar por um grupo perigoso na rua. Não importava mais o que acontecesse, porque eu tinha meu lobo.

Obviamente, nunca mais vimos o grupo de trabalhadores na cafeteria, mas vimos a mãe solteira, a quem às vezes cumprimentavamos com um aceno de cabeça. Não sabia o que a levara a nos defender, se talvez ela tivesse sido uma cão de caça e entendesse um pouco os lobos ou se, pelo contrário, era uma daquelas pessoas que não gostavam de injustiça. Fosse o que fosse, ela conquistou meu respeito.

O resto da semana, infelizmente, não foi tão emocionante. Tive onze alunos na palestra de PIHL, cinco deles da semana anterior, que queriam que eu terminasse de contar tudo o que sabia sobre relacionamentos com lobos. Que deixei para o final, depois de fazer meu discurso básico de advertência. Aí, no domingo, Namjoon passou para conversar um pouco e discutir sobre série pessoalmente, acabando bufando, revirando os olhos e terminando de comer as pizzas que trouxera. Mas não foi a única visita surpresa que recebi, Jaebum também passou para conversar, confessando que havia escolhido a moto.

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