22. O VÍNCULO: É UMA MERDA

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Meu trabalho como porteiro era muito simples. Fiquei ao lado da porta, encostei as costas na parede, acendi um cigarro e impedi o primeiro grupo de mulheres que queria entrar sem mais delongas. Usavam vestidos muito curtos e decotados por baixo dos casacos molhados da chuva fraca, estavam maquiados e calçavam salto bem alto porque, como todos sabiam, os lobos eram muito altos. Mesmo assim, eram apenas um grupo de amigas querendo tentar algo novo e perigoso.

- Ingressos. -perguntei em tom seco enquanto soprava a fumaça para o lado.

- Nunca paguei uma entrada no Lua Cheia. - disse uma delas, olhando-me de cima a baixo com certo desprezo, desconfiando que eu realmente trabalhava lá.

- Você nunca esteve na Lua Cheia. - assegurei-lhe. - Cem dólares cada.

- Cem malditos dólares? - gritou outra. - Você está louco? Eles deveriam nos pagar para entrar!

- Fora. - respondi, apontando para as escadas que levavam à calçada. - Se não gostar, vá a um clube humano e seja convidada para um drink.

Houve um debate silencioso entre elas, algumas trocaram olhares, cochichos que não queriam que eu ouvisse. Finalmente, elas enfiaram a mão nos casacos e tiraram o dinheiro. Sem surpresa, elas sabiam quanto custava a entrada e vieram preparadas. É isso, ou eram mulheres que carregavam cem dólares na bolsa como se não fosse nada. Seja como for, elas pagaram, então coloquei o carimbo no formato de uma cabeça de lobo uivante em cada um dos pulsos e elas finalmente entraram. Todas usavam perfume e desodorante, então não iriam pegar nenhum lobo. Sim, naquela noite descobri o quanto aprendi sobre os lobos e seus gostos depois de passar tanto tempo no Fórum, lendo as bobagens dos ômegas. 

Conseguia distinguir perfeitamente os clientes habituais daqueles que vinham simplesmente para experimentar: pela atitude, pelas marcas no corpo, pelo cheiro ou pela maquiagem. E, curiosamente, eles conseguiram me reconhecer também.

- Nossa, você pegou um bom, hein. - me disse uma mulher de estética gótica, com gargantilha e septo no nariz. Quando lhe pedi para entrar, ela olhou para mim com ódio e desprezo por estar no seu caminho, até sentir o cheiro no ar e compreender. - Beta?

Contei as notas nojentas que ela me deu, alisando-as antes de enfiá-las no bolso da jaqueta. Coloquei o carimbo e respondi: - Sub-Alfa.

Ela arregalou os olhos rodeados de delineador, deu uma mistura de riso e uma careta de nojo lhe escapou.

- Filho da puta sortudo... - eu a ouvi dizer baixinho antes de entrar.

Depois teve quem tentou flertar comigo para conseguir a entrada, como Jieun teria feito, mostrando os seios ou com um sorriso brincalhão nos lábios, sempre tentando se aproximar do que deveriam. Eu disse a todos a mesma coisa: - Ou você paga a entrada ou vai embora. Tente me tocar e eu te chuto na boca.

Depois das três e meia ou quatro da manhã, as coisas se acalmaram bastante. As pessoas simplesmente saíram, cansadas de dançar, bêbadas e decepcionadas. Às vezes, um ou outro cheirava a sêmen de lobo e você sabia instantaneamente que um macho da matilha os havia levado ao banheiro ou ao beco, mas a maioria deles cheirava apenas muito levemente; aqueles que sempre saíam frustrados, irritados ou reclamando. Foi divertido vê-los. Por volta das cinco horas, uma hora depois de fechar o clube, Yoongi chegou. Eu o vi aparecer no topo da escada, com sua expressão séria de mafioso e seus olhos felinos muito atentos. Ele desceu os degraus molhados em passos rápido, fazendo o chão tremer apesar de mancar levemente. 

O lobo se aproximou de mim sem dizer nada e começou a me cheirar, encostando o rosto no meu pescoço, no meu rosto e até nas minhas mãos.

- Que diabos está fazendo Yoongi? - eu quis saber, puxando as mãos dele para que parasse de cheirá-las como um maldito lunático.

HUMANO (Sope)Onde histórias criam vida. Descubra agora