44. O EXÍLIO: E UM LOBO FAMINTO

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Depois da nossa conversa, nunca mais recebi nenhum bilhete do Seunghyun. A última noite de sábado foi tranquila e no dia seguinte eu simplesmente tive que aturar as reclamações lamentáveis de Yoongi sobre não acompanhá-lo na porra da festa. Era incrível como ele passava de um gangster perigoso a um cachorrinho que não parava de me abraçar e se esfregar na minha cabeça para se consolar.

- Yoongi, já conversamos sobre isso. - o lembrei no supermercado.

Era hora de fazer as compras do mês e eu precisava do Jeep para carregar as sacolas, então o lobo me acompanhou naquela tarde, como costumava fazer quando íamos para um lugar com ar condicionado, onde não estava quente e abafado. As pessoas nos viam e tentavam nos evitar ao máximo, algumas senhoras mais velhas até paravam os carrinhos e se viraram com expressão assustada. Em cinco minutos já tínhamos dois seguranças nos seguindo por todo o supermercado, alertados pelos clientes.

Eles não podiam nos expulsar, porque não estávamos realmente fazendo nada de errado, mesmo que não fosse por falta de vontade. Yoongi estava muito focado em me seguir de perto, grudado nas minhas costas e me acariciando, para prestar atenção nisso. Limitei-me a olhar os produtos, procurar ofertas e selecionar os mais baratos. Me sentir como um maldito criminoso mesmo quando estou fazend compras não era nenhuma novidade para mim.

A jovem no caixa evitou até nos olhar nos olhos, passando os produtos rapidamente antes de murmurar o preço de tudo. Entreguei a ela algumas notas e ela verificou se eram de verdade antes de guardar. Os guardas nos acompanharam até o estacionamento, onde nos observaram colocar tudo no jipe e deixar o carrinho ao lado dos demais antes de voltar para dentro. Dei  comida para Yoongi quando chegamos em casa, fiz um sanduíche para mim e comi na frente dele enquanto olhava o celular. Ninguém havia se inscrito nas minhas aulas ainda e eu estava começando a ficar preocupado.

Se não desse certo, teria que começar a vender novamente sobras e roupas até o final do mês. Estalei a língua, fui pegar um cigarro e fumei na porta de emergência enquanto o lobo terminava sua bandeja de peru. Quando ele terminou, se deitou no sofá, de bruços e grunhindo para chamar minha atenção para que eu pudesse fazer sua massagem na parte inferior de suas costas. Olhei para ele e fiz uma cara de raiva. Yoongi se acostumava a pedir as coisas muito rapidamente.

Ao acordar do cochilo de duas horas, me procurou ainda sonolento e grunhiu novamente para me pedir outra coisa, dessa vez com uma boa ereção em sua virilha cada vez mais molhada. O lobo adormeceu novamente durante a inflamação, deitado em cima de mim e roncando perto do meu ouvido. Acariciei suas costas com uma mão e olhei para o teto, ouvindo o programa de reparos domésticos que estava passando na TV. Não pensei em nada, apenas fiquei ali deitado, sentindo o peso do lobo e sua respiração, até que, em determinado momento, resolvi afastá-lo e ir ao banheiro.

- Yoongi, você tem que ir para a festa. - eu o acordei logo depois.

O lobo então iniciou seu ritual de rosto triste, cabeça baixa e gemidos baixos.

- Hobi deveria poder ir com Yoongi. - ele murmurou, me lançando olhares rápidos pelo canto dos olhos enquanto se vestia.

- É assim que as coisas são, Yoon. - respondi, interrompendo-o quandonsentei para calçar os sapatos,  na beira da cama. - Talvez quando você receber sua parte dos benefícios, teremos dinheiro suficiente para eu largar o emprego e ter mais tempo.

- Yoongi pode vender televisão. - ele sugeriu. - TV grande e cara. Eles darão muito dinheiro por ela.

Parei de amarrar os cadarços dos sapatos e fiquei em silêncio por alguns segundos. A verdade é que eu não tinha nada para fazer naquela noite, pois não trabalhava aos domingos, mas menti para não ter que ver a Matilha, ou Goeun, ou os outros Maxhos, ou Seokjin.

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