79. NÓS: A MATILHA

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Seokjin estava trabalhando em seu escritório, como sempre. Quando abri a porta sem avisar, surpreendi-o com a cabeça baixa e com um cigarro fumegante entre os dedos indicador e anular. Ele instantaneamente ergueu seus olhos ocres, olhando para mim por baixo de suas sobrancelhas pretas. Atravessei a soleira com uma expressão calma e indiferente no rosto e fechei a porta atrás de mim antes de me aproximar de uma das cadeiras. Não tinha um cheiro tão forte de Alfa porque a janela que dava para a rua estava aberta para deixar sair aquele cheiro de fumaça, enchendo o escritório de um frescor muito diferente do calor que agora reinava no prédio cheio de aquecedores e pessoas.

- Puro, Seokjin? -  foi a primeira coisa que perguntei, referindo-me ao cigarro entre seus dedos.

O Alfa continuou a me encarar com uma expressão muito séria, depois sentou-se um pouco e recostou-se.

- Parei de fumar por causa da Goeun. - ele me disse com sua voz lenta e grave. - Ela odeia o cheiro de tabaco.

- Que romântico. - murmurei, pegando meu próprio maço para encontrar um cigarro e colocando-o nos lábios antes de acendê-lo. - Fumar secretamente no escritório e não me deixar fazer isso é a típica hipocrisia que espero de você.

- Se você veio só para me insultar, é melhor ir embora.

- Não, não estou aqui apenas para insultar você. - respondi, soprando a fumaça em direção ao teto antes de me recostar um pouco na cadeira. - Me disseram que alguns Machos estão perdendo o respeito por você, Seokjin.

O Alfa não respondeu de imediato, mexeu um pouco os lábios como se estivesse pensando seriamente no que dizer e acabou dando uma tragada no cigarro, soprando a fumaça azulada para o lado.

- Isso te deixa feliz, Hoseok? - ele me pergunto.

- A verdade é que sim. - admiti. - Eu estava começando a pensar que fui o único que percebeu como você é um idiota.

Seokjin assentiu lentamente. Eu estava falando muito sério, mas, aparentemente, ele não queria mais ficar com raiva de mim. O lobo inclinou o rosto em direção à janela e deu outra tragada.

- Use a porra do cinzeiro. - foi o que ele disse, fazendo um gesto vago com a mão em direção à tigela de vidro que roubara da cozinha.

Sentei-me o suficiente para estender a mão e bater no cigarro antes de derramar alguma coisa. Afundando de volta no encosto, estalei a língua e separei os lábios, deixando escapar um pouco de ar. Isso estava me custando muito mais do que eu pensava. Eu esperava encontrar o zangado Seokjin, aquele que mudaria minha opinião e me mostraria que eu estava cometendo um erro, porque ele merecia passar por momentos difíceis. Infelizmente, o razoável era um pouco mais difícil de odiar. Só um pouco.

- Você queria se desculpar, não é? - perguntei-lhe.

O Alfa olhou para mim com o canto dos olhos.

- Sim. - ele disse. - Era isso que eu queria fazer.

- Ok, vá em frente. - o encorajei.

Seokjin não fez isso de imediato, talvez suspeitando que fosse uma armadilha e que eu só queria humilhá-lo um pouco mais antes de sair com um sorriso nos lábios e bater a porta. Não vou mentir, teria feito isso em outro momento, talvez há alguns meses, mas não agora. O Alfa respirou fundo e se aproximou da mesa para despejar a cinza do cigarro na tigela, depois ficou com os braços apoiados e a mão levantada, quase próxima ao rosto.

- Eles sequestraram minha companheira e eu fiquei muito preocupado. Eu só era capaz de pensar o pior e ouvir você falar como se não desse a mínima para ela me deixou com muita raiva. Eu sei que tudo o que você disse era verdade, sei que esperar era a coisa mais razoável a se fazer, e sei que cometi um erro gravíssimo ao querer ir salvá-la sozinho. Eu sei que você estava apenas tentando me impedir de fazer algo estúpido subindo no capô do meu carro e sei que sem você eu estaria morto. Sinto muito por bater e ameaçar você e me arrependo de todo o coração, Hoseok. - ele parou ali, engoliu em seco e, desviando o olhar por um momento, deu outra tragada no charuto antes de soltar a fumaça. - Claramente não era minha intenção expulsá-lo da Matilha. - ele continuou, olhando para mim. - E acho que não é mais um segredo o quanto...eu valorizo ​​sua opinião e seus conselhos.

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