Capítulo V - Feliz Halloween - Parte 2

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Por Haruno Sakura.

Quando era criança, meu pior medo era perder meus pais, quando crescia ele se alimentou das questões relacionais que fui construindo ao longo da vida ninja e, no final, com meus 25 anos, todos os blocos da muralha que se formou ao meu redor pareciam tremer perante um inimigo que sequer sabia o nome.

E, o pior, estar em um lugar que nem sequer sabia onde era. Os cheiros, a sensação, as luzes, parecia tudo menos a comunidade de Kaisen, parecia outro mundo.

— Não pode se esconder por muito tempo, Sakura Haruno.

Voltei para a realidade, tentando controlar minha respiração e ansiedade. Precisava agir ou morreria sem ter nenhuma resposta para aquelas perguntas e, pior que isso, perderia Neji para quem quer que fosse aquele ser de capa. O problema era meu estoque de chakra.

— Você parece uma ratinha assustada — sua voz se intensificava à medida que sentia o chakra de Neji se aproximando silenciosamente — Lutou em uma guerra, cuidou de ninjas feridos, de corpos mutilados, mas não consegue encarar um homem como eu, por que é tão dependente deles, Sakura, por que?

Engulo o bolor de raiva, sentindo a saliva descendo amarga. Era uma ninja médica, meu primeiro dever era me afastar do campo de batalha para cuidar dos feridos após a batalha, isso era uma regra básica - algo que passei a ignorar quando despertei o Byakugou -, quantas vezes me deixaram de lado por causa daquela regra?

Porém não era fraqueza, não era dependência, era precaução. Não é mesmo?

Balancei a cabeça devagar, adentrando mais entre as árvores, sempre alerta. Todavia, ainda não estava longe o suficiente para não conseguir ouvi-lo.

— Sakura, Sakura, pobre, pobre mulher, cresceu sob as asas do Uchiha e do Uzumaki, tornou-se um ponto fraco da barreira dos heróis da grande guerra. Uma única flor pode desgraçar uma muralha, mesmo por sua beleza, suas raízes são venenosas. E assim que eu a vejo, uma flor venenosa, que vai levar o falcão e a raposa a sua ruína.

Apertei as mãos em punhos, seguindo por entre os arbustos, sentindo as lágrimas deslizando suavemente pelo meu rosto quente.

Isso não era verdade, queria gritar com todas as minhas forças. Naruto e Sasuke eram tudo em minha vida, meus melhores amigos, dois amores não correspondidos e que, no final, acabei unindo-os sem perceber. Eles mereciam uma vida feliz, eu também mereço ser feliz e não sofrer por algo que estava além de mim.

— Vou quebrar seus dentes um por um — sussurro, afastando as lágrimas com força, ouvindo barulho de buzinas mais a frente, onde a floresta terminava. Era um campo aberto, com algumas pessoas transitando pelo que parecia ser uma calçada de pedra acinzentada, trajando roupas de civis - algumas muito esquisitas para serem de civis comuns. Não dava pra me misturar entre eles.

Espiei por cima dos meus ombros, conseguindo ver a cabeleira de Neji um pouco atrás. A voz do desconhecido tinha desaparecido, todavia, ainda conseguia sentir a presença dele. O sol deslizava pelas brechas das árvores e arbustos, mas não suficiente para denunciar minha localização, eu precisava correr, precisava encontrar Shikamaru e Lee rápido.

— Encontrei você!

Arregalei os olhos sentindo a presença do desconhecido do meu lado. Ele tinha os olhos castanhos envolvidos por uma energia esverdeada, incomum até para mim, com as mesmas criaturas ao redor, só que, diferente das que tinham na comunidade Kaisen, aquelas eram bem, bem maiores e assustadoras, e elas estavam vindo para cima de mim.

///

— Sentiram isso?

Nanami parou, suspirando enquanto amarrava a gravata na palma da mão, encarando o platinado olhando para a direção oposta do beco. Shibuya era um bairro badalado, vivia de festas, comércio, lojas de conveniência, praticamente de tudo tinha entre prédios grandes, médios e portas estreitas que davam acesso a outra Shibuya, a mesma que eles perambulavam naquele momento.

— Não senti nada — Getou deu de ombros, jogando a cabeça de uma maldição longe, vendo se desintegrar à medida que ia de encontro ao chão — E muito comum, não deveria estar surpreso Satoru.

— A energia condensada é tão poderosa que não conseguiríamos sentir nem um de nível especial — Nanami inspirou com calma, ajeitando os óculos com a mão livre — Só quero terminar e ir pra casa, os alunos estão nos esperando mais a frente.

— Tá, mas eu senti alguma coisa, algo diferente — Gojou revirou os olhos, colocando as mãos na cintura enquanto observava o movimento da rua principal um pouco distante de onde estavam — Pode ser ela, mas....

Geto riu baixinho com as palavras do melhor amigo, balançando a cabeça devagar enquanto se aproximava do platinado.

— Vamos focar em maldições e menos em mulheres? Por favor — colocou a mão direita no ombro de Gojo, fazendo-o olhar para ele e para Nanami — Essa é nossa realidade, ela é só uma imaginação sua de quem não pega ninguém a milênios, ok?

Satoru suspirou, dando um sorriso cúmplice para o moreno, dando tapinhas leves na mão do melhor amigo, caminhando ao seu lado para mais fundo do beco. Talvez fosse realmente coisa da sua cabeça.

///

Continuei correndo, minhas pernas latejavam pelo esforço que estava fazendo, mas era melhor que morrer.

Quando aquelas coisas vieram pra cima de mim sai correndo sem olhar pra trás. Conseguia sentir a energia se aproximando enquanto desviava dos civis pela rua, tentando processar todas aquelas informações novas que surgiam bem diante dos meus olhos. Realmente não estava mais no mundo shinobi.

Atravessei a rua, pulando pra desviar de carcaças metálicas, usando um poste de luz para impulsionar o corpo para cima dos prédios cheios de espelhos, conseguindo ter uma ampla visão de onde estava. Era uma cidade.

No horizonte o sol ainda estava quente, quase tocando na linha para, finalmente, se pôr em um show de cores quentes e frias. Tirei alguns fios de cabelo do rosto, olhando para todos os lados quando me toquei que ainda estava em perigo, porém não vi mais.

Respirei fundo, ocultando o que restava de chakra, usando o batente do prédio para apoiar minhas costas, tentando controlar minha respiração. Tinha atendido mais de cem pessoas em Kaisen, sem um descanso de, no mínimo, 4 horas, minhas reservas estavam no limite, sem usar o selo do Byakugou, sem ele estaria perdida.

— Por que Sasuke e Naruto? — paro para raciocinar, tentando ignorar o barulho da rua — Ele teria falado daquela forma só pra me atingir? Ou teria outro propósito?...

"Sas...uke... Sas...ke"

Sinto meu corpo trêmulo sentindo a mesma energia bem do meu lado. Espiei pelo canto do olho enquanto ouvia o nome de Sasuke ser pronunciado por aquelas coisas. Engulo o bolor de asco, dando uma cambalhota para longe do parapeito do prédio. As criaturas se aglomeravam pela beirada do telhado do edifício bem feito, gesticulando as palavras S e K, balançando o corpo que mais parecia o de uma centopeia.

— Tenho que me afastar daqui, não posso envolver os civis nisso...

— Deveria se preocupar mais com você do que com a escória desse mundo.

Cerro as mãos em punhos vendo a figura masculina surgir por cima da centopeia, guiado por outra criatura com asas esguias, como as de morcegos.

— Eles são inocentes, assim como eu, eles não merecem seu ódio sem motivo!

No meio da escuridão que o capuz fornecia ao homem vi uma fileira de dentes aparecer, formando um sorriso doentio, seguido de uma gargalhada.

— Inocentes? Ninguém neste mundo e no nosso mundo são inocentes, inclusive você, você que me rejeitou! — Ergo uma sobrancelha. Então, eu o conhecia da guerra? Mas quem! — Deveria ter morrido na guerra, Haruno Sakura.

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