Capítulo 1

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Admirável Mundo.

" A janela da moralidade e da ética comum tornam os sentimentos indesejáveis. Eu costumava acreditar que a vida seria fácil e que meus maus comportamentos infantis , de alguma forma seriam relevadas pelo universo, achei que soubesse o que eu queria, quem eu era, e quem eram as diferentes versões de mim mesma. Por mais que eu tente manter o foco no presente, é difícil não evocar a imagem do que havia acontecido, minha mãe havia morrido, e isso é um fato inegável, nunca imaginamos que podemos perder a única pessoa que realmente possa gostar verdadeiramente de nós, e isso me considera uma daquelas pessoas incapazes de saber, o que será um verdadeiro amor. "

Ao descer pontualmente do trem na estação, às 9h15 da manhã, os passageiros saíram como se estivessem se libertando de um embrulho a vaco. Havia gente de todas as classes, mais , em meio a elas , os pobres eram os mais fáceis de reconhecer, os empobrecidos sempre continuam andando, como se a relocação fosse uma espécie de combustível.

Seu rosto, marcado por uma história que ninguém desejaria, trazia as cicatrizes da vida difícil que enfrentava até agora. As rugas do frio e da insegurança, inscritas em sua pele, eram testemunhas silenciosas de sua jornada. Segurou fortemente a única bagagem junto a si , como se fosse o último elo com sua antiga vida, uma vida que agora precisava deixar para trás, estava temerosa. Não demorou muito na plataforma, o frio piorará, e embora estivesse protegida , nevava muito. Tentando observar o casal ao longe, segurando uma placa com seu nome, bateu os pés retirando a neve do sapato, e sacudiu os braços para manter-se aquecida. Caminhou na direção do casal que a adotaria, não sabia muito sobre eles, apenas que eram um casal gentil e solidário, afinal, quem gostaria de adotar uma jovem à beira da maior idade.

Amélia não havia aprendido a falar muito bem, nem tampouco a ler, porque raramente havia frequentado a escola. Não tinha ideia de onde estava, observou ao longe as letras desbotadas da placa à sua frente, sabia que estava em alguém lugar, ao Norte, afastada da humanidade.

A menina com marcas avermelhadas, e o enrugado de seus dedos, decorrente do frio e da falta de luva, congelava ainda mais suas mãos. Tudo em Amélia era subnutrido, desde suas duas canelas aos seus braços, a menina não sorria com frequência, mas quando sentia a necessidade de o revelar, seu sorriso era faminto e gentil.

A senhora se levantou juntamente com o homem ao seu lado, deixando a placa que carregavam, sobre o banco que sentavam, ao vê-los ao longe, seu coração bateu forte no peito, misturando-se com o som da neve sob seus pés. As palavras não eram necessárias naquele momento; o olhar da jovem refletia uma mistura de ansiedade e medo.

Seu estômago borbulhava, bem como o vã da esperança, temia que no momento que eles a vissem mais de perto, eles mudassem de ideia. E em meio a tudo, seu pensamento não conseguia deixar de voltar para a mãe. Roia as unhas, embrulhada em um casaco inútil.

- Você deve ser Amélia Müller? - Disse o homem , ao que Amélia olhou em seus olhos, sabendo que este seria o primeiro passo de gentileza, ao casal que fazeria parte de sua vida. - Deixe que eu segure sua bagagem. - Ofereceu ao que a menina hesitou em lhe entregar a mala.

- Vamos para o carro, ele está logo ali. - Afirmou a mulher, que apenas a observava em silêncio, com um sorriso amável e afável sobre a face.

Amélia acabou entrando,cautelosamente, ao que a senhora Draytons a conduziu por uma de suas mãos, ao lado do marido, que carregava a pequenina maleta arranhada e chamuscada. Dentro continha rasgadas roupas dobradas, e um caramelo ursinho, que havia ganhado de sua mãe. Já dentro do carro, tentava encobrir sua magreza e sua palidez, e às visíveis marcas de machucados em seus lábios. Observava atentamente todo o caminho que percoriam, sobre a janela embaçada, o assento do veículo era confortável e relaxante, o carro seguia em frente , com Amélia temendendo suas curvas.

Era um dia cinza, com pingos de chuva ao redor de carro, descendo por entre os vidros.

- Estamos quase chegando. - Disse a mulher. - Sua nova casa. - Amélia limpou em movimentos circulares com a palma da mão o vidro embaçado e respingado, olhando para fora. Estava intrigada, nunca havia estado em um carro tão luxuoso antes.

As construções são grudadas umas nas outras, todas as casas são grandes e inundadas de edifícios. Havia neve suja e árvores e concreto por toda parte, prédios cinzentos de 25 andares, acima das ruas principais, continham grandes letreiros com placas de lemas.

O homem de meia-idade encosta o carro de vagar, sobre a calçada saindo dele sem hesitação, abrindo a porta do passageiro. Nota-se que é um homem sério, desde o seu corte de cabelo, aos óculos pretos que carrega, e principalmente da maneira que escolheu como se comportar, é um homem de porte baixo, com sua barbas aparadas em ângulos retos, com seus fios do cabelo começando a se tornarem grisalhos, inclusive os da sombrancelha.

Diferentemente das outras casas da região, a mansão colonial marrom de três andares dos Draytons, era afastada de qualquer outra, contendo sua própria arquitetura. Quase como uma mancha branca em meio ao preto. Ela contém sólidas paredes de tijolos, que eram enobrecidas por detalhes em madeira talhada com esmero. A entrada principal, coberta de neve, não deixava de mostrar sua imponente porta de carvalho entalhado à mão, dando de certa forma boas-vindas a Amélia.

Ao entrar, as amplas salas exibiam seus móveis de época, como candelabros de cristal reluzentes e tapeçarias opulentas. O lustre de bronze no hall principal lançava uma luminosidade dourada que dançava pelas paredes de painéis de madeira escura, adornadas com retratos de antepassados. Os pisos de mármore polido ecoavam o barulho de seus passos. A casa era rodeada por um jardim bem cuidado, com roseiras exuberantes e jardins com arbustos podados com precisão.

- Você deve estar congelando. - Afirmou a mulher adentrando o Hall principal, oferecendo - se para retirar o úmido casaco da menina.

- Um belo banho quente ajudará, - Disse o Homem com a voz meiga, calma, colocando a mala sobre o chão, ao lado da porta. - a propósito sou o Sr. Draytons, e está é minha esposa Mildred. Estamos felizes em tê-la conosco, Amélia. - Se afastando, com um simples e singelo assento de cabeça e um sorriso agradável.

Ao se aproximar, retirando seu casaco, e acariciando suas costas e logo depois passando a mão por seus cabelos. A mulher notará a magreza, e os machucados na mão de Amélia, juntamente com seus lábios secos e feridos.

- Sua casa é linda. - Afirmou baixo, em um tom inocente, tomando coragem em espiar o local, que a surpreendia desde sua chegada. Afastando - se de todo aquele afeto que estava se tornando a vir a ser intimidante, já que havia pressão em estar em um ambiente aparentemente tão rico, que não se comparava em nada, com a sujeira que ela carregava.

- Obrigada. - Agradeceu Mildred com preocupação estampada em seus olhos, sorrindo fraco em seguida, levando a jovem até a cozinha, não querendo transmitir os seus receios a jovem que mal havia chegado em seu lar. Um suspiro cansado escapou por meio dos lábios da órfã, já que a fome que sentia estava se tornando insustentável.

- Gosta de leite quente ? - Disse a mulher, que não demorou em retirar uma garrafa da geladeira, ligando o fogo, e fervendo o líquido sobre o ardente fogo. Amélia apenas concordou em silêncio, com timidez. E com ar de cuidado, encheu o copo, que havia colocado sobre a mesa.

- Está uma delícia. - Dizia com uma voz adocicada, ao consumir o leite com uma velocidade imprecionante, em apenas um gole.

- Que bom , querida. Apenas tome com mais calma, tudo bem ? Sei que deve estar faminta, mas pode vir a se engasgar. - Orientou , não demorando em encher novamente o copo da pequena menina.

- Concordo plenamente. - Disse o senhor Draytons, se fazendo presente no ambiente. Colocando um pouco do líquido da jarra em seu próprio copo, e mexendo com a colher um pouco do açúcar do saleiro despejado.

Amélia teve uma criação de tamanha independência, nunca fora muito amada e protegida a ponto de só perceber a crueldade do mundo quando é tarde demais para que desenvolva as habilidades necessárias do enfrentamento, nunca teve a propensão a obedecer ordens e pedidos superiores, mesmo que fossem pedidos que viessem para o seu bem.

Mas assustada apenas por estar em um ambiente desconhecido, não tardou em obedecer, afinal, eles estavam a alimentando, e que mal faria apenas beber um pouco mais de vagar. Amélia bebeu o líquido quente, e a obediência da garota apenas fizeram o senhor e a senhora Draytons sorrir, com Mildred Draytons lhe oferecendo uma generosa fatia de pão.

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