Capítulo 13

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Minha mãe nunca se preocupou com a casa, que sempre estava muito suja, nem com a comida, nem comigo ou com meu pai. Preferia passar o dia todo deitada na cama assistindo a talk shows americanos. Às vezes, eu mesma ficava mais de uma semana sem tomar banho, porque ela dizia que a água retirava a proteção natural da pele, um presente generoso de Deus.

Lembro-me claramente dos cabelos escuros dela, tão parecidos com os meus. Seus seios eram enormes, quase parecendo querer escapar do justo suéter de lã fina que usava. Sua saia de tecido longa estava tão desgastada que, se você estreitasse os olhos, poderia ver os desenhos das peças íntimas que costumávamos compartilhar..

Quando meu pai partiu, minha mãe colocou a culpa em mim. Disse que ele se foi porque não conseguia mais me suportar. A partir daquele dia, minha mãe raramente saía da cama, a não ser para beber, se drogar, ou me bater. Foi nesse momento que nós mudamos para um acampamento de trailers.

Minha mãe nunca precisou trabalhar, e eu nunca soube o porquê. Ela nunca me contou nada sobre sua vida antes do meu pai, ou sobre si mesma, e eu nunca pedi para que conta-se. A única coisa que eu sabia era que em qualquer hipótese, ela apenas fazia o que queria. Conforme fui crescendo um pouco, comecei a assumir as tarefas domésticas e, pelo menos, não tinha mais que lidar com a imundície constante.

Costumava diariamente explodir de raiva, mas não demonstrava. Gostaria de gritar, bater os pés e empurrar meu corpo sobre às paredes, e chorar, apenas por causa de suas palavras horríveis e de seus olhares ironizados, carregados de acusações e julgamentos diários.

Eu me questionava incessantemente: "Por que não me deixar em paz? Deixe-me simplesmente dormir, sem lágrimas, sem olhos inchados, e com a ardente vontade de escapar deste mundo!" Mas isso era impossível; eu não me importava se os outros percebessem minhas dúvidas, contudo, ela nunca, nunca deveria vê-las, jamais deveria perceber minhas feridas abertas. Não suportava estar perto dela, quando começava com sua falsa simpatia e suas alfinetadas penetrantes.

Embora eu não frequentasse a escola, meu pai ainda encontrava maneiras de me ensinar o pouco que sabia, como entender as letras do meu nome. Naquela época, as escolas não eram mistas, e as meninas de boas famílias estudavam em colégios de freiras. No entanto, meu pai tinha receio de que eu convivesse com outras crianças e aprendesse coisas erradas, então nunca fui à escola.

Mas em dado momento, muito tempo depois, as autoridades bateram à porta do trailer, conversaram com minha mãe e, embora eu não soubesse exatamente sobre o que discutiram, no dia seguinte, eu me vi matriculada na escola. A decisão parecia inevitável, e a ideia de frequentar a escola pela primeira vez, me trouxe a sensação de uma mistura de emoções desconhecidas e uma sensação de desconforto e medo.

Passei o dia em silêncio, consciente de que minhas palavras muitas vezes soavam como as de uma criança muito mais nova do que eu realmente era. Gaguejava, trocava as palavras de ordem e constantemente cometia erros ao falar. Apenas mordia meu cabelo ou me beliscava para me acalmar.

Antes de sair, minha mãe se agachou diante de mim, colocou uma pequena barra de chocolate no meu bolso e segurou meu rosto com suas mãos enormes, dizendo calmamente: "Se você fizer alguma bobagem, juro que você nunca mais vai à escola. Vou ensinar você em casa. E eu não estou brincando Amélia! " E eu não sabia que era ilegal me deixar em casa, sem alguma instrução educacional. Então apenas acreditei. Se soubesse, não faria diferença, porque minha mãe era a lei. Nem Deus poderia com ela, e disso eu sabia bem.

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