Capítulo 5

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Amélia, ao entrar, sente-se envolvida por uma mistura de cores alegres e sombras sinistras. Dentro da loja, os manequins exibem roupas infantis em tamanhos adultos em tons vibrantes, criando um contraste com a sensação de monotonia e controle que paira no ambiente. Amélia percorre os corredores, sentindo-se pequena em meio às araras repletas de peças idênticas às de crianças reais.

A senhora Draytons guia Amélia pelo labirinto de roupas, escolhendo cada peças com cuidado, como se estivesse montando não apenas um guarda-roupa, mas também uma imagem cuidadosamente planejada. Enquanto Amélia segura as roupas em suas mãos.

Ao experimentar os novos trajes, Amélia nota o olhar crítico da senhora Draytons, que parece mais interessada em moldar uma aparência aceitável para ela do que entender sua verdadeira essência. As roupas, embora novas, carregavam consigo a sensação de uniformidade, como se cada peça fosse escolhida não para agradar Amélia, mas para satisfazer um padrão estabelecido.

Enquanto isso, o interior da loja ecoa risos descontraídos vindos de uma jovem menina, que experimenta roupas em um provador próximo, talvez ao lado, acompanhada por uma mulher de roupas de baba, que aparentava ser muito mais jovem do que ela. A aparente normalidade do ambiente contrasta com a atmosfera sufocante que Amélia sente ao redor dela.

Ao sair da loja, Mildred carregava todas às sacolas cheias de roupas cuidadosamente escolhidas, Amélia observa a cidade movimentada lá fora. A rua agitada parece submergir em um mundo apenas seu, totalmente a parte da realidade. Uma sensação de desconexão persiste, como se ela estivesse presa entre duas realidades distintas.

Enquanto a senhora Draytons a conduz pelas ruas, Amélia reflete sobre as palavras da nova mãe e as promessas vagas que ecoam em sua mente. A ideia de oportunidades e uma vida melhor contrasta com a sensação de estranheza e a falta de controle sobre seu próprio destino.

Enquanto caminhavam pela loja, as paredes pareciam fechar-se ao seu redor, como se os tons vibrantes das roupas infantis tentassem esconder a verdade sombria que espreitava por trás de fachada. Cada peça que a senhora Draytons escolhia para a jovem era como uma camada a mais, uma tentativa de a moldar.

Ao experimentar os novos trajes, que variavam desde, um curto vestido de bolinhas, de tecido leve, ornando em babados colocados nos ombros e na cintura. Um macacão listrado com suspensórios, de listras, e uma saia rodada, de cores suaves e delicadas.

Diante do espelho, Amélia se via refletida em uma versão desconhecida de si mesma. As roupas, apesar de novas e aparentemente impecáveis, pareciam não ser corretas para se usar, um visto de vergonha a consumia, e não conseguia apagar a sensação de desconforto, como se estivessem vestindo uma máscara que servia apenas agradar.

Observando a jovem rindo no provador ao lado, uma pontada de inveja se misturava com a sensação de isolamento. Enquanto tentava se encaixar nas expectativas de Mildred, questionava se algum dia teria a chance de ser verdadeiramente fiel novamente a si mesma.

Ao sair da loja, mesmo com tudo, Amélia sentia uma gratidão profunda pelo casal Draytons por proporcionar roupas limpas e novas. Ao contrário das peças do orfanato, que muitas vezes vinham de doações e eram repassadas de uma criança para outra, essas roupas eram verdadeiramente suas. Mesmo que fossem curtas e delicadas, e de um estilo totalmente diferente do que desejaria, era a primeira vez que possuía algo que ninguém mais havia tocado ou usado. Mas não poderia deixar de se sentir pequena e dependente.

A senhora Draytons, com seu sorriso calculado, continuava a guia-las pelas ruas. Cada passo era como um afastamento de quem costumava ser. Enquanto caminhava, a voz sussurrante em sua mente pedia paciência, mas a sensação de deslocamento persistia. Não sabia se poderia confiar nas palavras suaves e no carinho dos Draytons ou se estava apenas sendo desconfiada demais em acreditar que seria conduzida para um destino desconhecido.

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