Amélia, ao chegar ao quarto juntamente com a senhora, se afasta, engatinhando para fora do colo materno. Seu movimento de retrair seus ombros, se dirigindo rapidamente para o canto do quarto, buscando um refúgio contra a presença da mulher.
A senhora Draytons, percebendo a resistência de Amélia, a coloca cuidadosamente no chão. Os olhos e nariz úmidos de lágrimas e ranho, expressam um misto de desespero e raiva, ela os limpa com a mão, com força. Ao tocar o solo, ela se afasta, lançando um olhar de súplica à senhora.
- Por favor, me deixe em paz. Você não é minha mãe. - Sussurra Amélia, a voz embargada pelo choro anterior. Ela demonstra uma determinação frágil, mas sua expressão pede por um momento de alívio, um breve intervalo desta horrível opressão. - Saí daqui! - Grita ao aumentar seu tom de voz.
- Sente-se em algum lugar - convidou a Sra. - Num assento de verdade. Não está certo você, aí, ajoelhada no chão.
Mildred permanece na entrada do quarto, apenas observando. Seu semblante calmo contrasta com a expressão de Amélia, que agora se encolhe, chorando alto.
O choro ressoa abafado por sua pele, no ambiente, carregado de uma mistura de frustração, medo e revolta. A criança, encolhida no canto, parece encontrar nesse gesto uma forma de proteção, como se ao diminuir seu espaço físico, pudesse resistir à influência opressiva ao seu redor.
- Isto sempre acontecerá não é? E eu nunca poderei ir embora. - A jovem olhou nos olhos de Mildred, que parecia escuta-la tão sinceramente. - Nunca seremos uma família, e vocês nunca serão uma para mim.
- Eu entendo. Mais vamos ser claros: você nunca sairá daqui, Amélia. Apenas irá a aceitar como todos fizeram.
- Você não sabe disso e vamos ser claros: eu não ligo.
Mildred se aproxima da janela, retirando uma chave do bolso e tranca-a com um clique suave, criando uma barreira física adicional para protegê-la de fugir, ou de qualquer possível interferência externa. Em seguida, ela pega um pequeno paninho, cuidadosamente em seu bolso, e se aproxima da jovem.
Ao receber o pano estendido por Mildred, recusa o gesto de cuidado com um movimento brusco. Ignorando a oferta de consolo, ela joga o pano para longe, repelindo qualquer tentativa de amenizar sua situação.
O tecido, agora descartado no chão, simboliza a rejeição não apenas ao pano, mas também à tentativa de suavizar o momento. Seus olhos, ainda úmidos e brilhando com a intensidade das emoções, revelam sua dor.
A mulher se acomoda em uma cadeira de balanço próxima, dando início a um movimento suave e ritmado.
Para complementar esse gesto, Mildred pega uma pequena caixinha de musica. Ao abrir, uma melodia suave enche o quarto, criando um contraste tocante com as emoções tumultuadas de Amélia. A música, com sua melodia delicada, parece ser mais um eco de terror do que consolo.
Enquanto a melodia preenche o espaço, Mildred mantém seu olhar fixo em Amélia, sua expressão materna é serena, transmitindo uma mistura de compreensão e carinho. Logo assentiu, desviando com rapidez o olhar para a janela.
- Se isto é tão importante para você, eu saio. - Levantou-se saindo do quarto. Tudo se calou; nenhum acréscimo, nenhuma palavra a mais.
Mildred, ao sair do quarto, não demora a ouvir a música sendo automaticamente silenciada, substituída pelo som inconfundível da caixinha sendo jogada no chão. O barulho do objeto sendo descartado ecoa, o clique da porta sendo apenas encostada, cria uma sensação de isolamento, tornando o quarto um refúgio claustrofóbico.
Amélia, agora mais distante da presença da senhora, sente uma avalanche de sentimentos. Seus pensamentos se voltam para a mãe que algum dia teve, para a ausência de carinho em sua vida. Recorda-se de memórias fragmentadas de um passado sofrido, permeados por negligência.
Um lar deveria ser o lugar pra onde você volta quando o mundo desmorona, e não de onde você se esforça pra escapar.
O amor nunca ao menos se esforçou a abraça-la e dizer que a amava, ou sentado ao seu lado e lhe dado conselhos.Ela agarra objetos próximos, qualquer coisa que esteja ao alcance de suas mãos trêmulas, e os arremessa com força. O som dos brinquedos quebrando ecoa no quarto, misturando-se ao ruído de objetos se chocando contra o chão. Cada peça que se parte é uma expressão tangível da tormenta interior que a consome.
O ambiente, antes tão meticulosamente organizado, transforma-se em um caos de destroços. Amélia, no auge de sua raiva e desespero, se vê envolvida por um frenesi de destruição.
Seu corpo, tenso e trêmulo, busca na violência contra os objetos uma forma de alívio, cada impacto, cada som de quebra, soa como uma válvula de pressão para liberar o que se acumula dentro dela.
Entretanto, mesmo após a momentânea catarse de sentimentos, a sensação de invasão e a impotência se mantém. Ao quebrar os objetos desesperadamente, nada mais fora do que seu anseio por controle, por autonomia, mas também revela a falta dessa mesma autonomia em sua nova realidade.
Amélia, agora cercada pelos destroços de sua explosão emocional, deita-se no chão. Seu corpo, tenso pela raiva e desespero, agora repousa numa posição vulnerável, o chão é frio.
Seus olhos úmidos e expressivos, demonstram seu anseio por consolo e afeto maternal, desejando um abraço que possa sumir com a sua solidão, ela se encolhe no chão. Apenas um colo que possa oferecer mais do que uma ilusão de ternura. Sua respiração, agora soa mais tranquila.
Amélia, num gesto de vulnerabilidade, se abraça. O vazio emocional se manifesta, e a sensação de solidão se torna mais intensa na ausência do colo maternal que ela tanto anseia. A luz filtrada pelas cortinas entreabertas destaca as lágrimas em seus olhos e os cacos ao seu redor, criando uma atmosfera de melancolia.
A senhora Draytons, ao adentrar o quarto, é recebida por um cenário de desordem e destroços. Seus olhos percorrem o ambiente, registrando os objetos quebrados e os vestígios da explosão emocional que o quarto testemunhou.
- Meu deus ! - Exclama, seu olhar contém uma grande preocupação e estranheza, passando-os pela figura vulnerável, que repousa seu corpo delicadamente sobre o chão. - O que houve Aqui? Todos os móveis estão quebrados sobre o chão, Amélia !
A senhora Draytons, aproxima-se com firmeza, recolhendo a do chão, envolvendo-a em seus braços maternos. A postura rígida da jovem cede ao conforto do colo acolhedor, e as lágrimas, agora, encontram uma tela nos ombros da mulher que a segura. Num suave movimento de ninar, Mildred a embala, criando um ritmo tranquilizador e a cada balanço é um gesto de consolo.
Enquanto envolve-a em seus braços, a senhora Draytons utiliza suas blusas macias para secar delicadamente as lágrimas que ainda escorrem pelo rosto da jovem.
A mulher, com firmeza, a leva ao quarto do casal, depositando-a no meio da cama. A órfã, mesmo com lamento de desconforto, se submete, encontrando-se no espaço que pertenceria apenas ao casal.
Se deitando no meio, sua expressão é de desconforto, a mamãe, apesar das reclamações silenciosas, mantém uma postura decidida. Seu olhar, ao se encontrar com o de Amélia, transmite uma mensagem ambígua. Ela acaricia o rosto da jovem, a fazendo imergir cada vez mais em seu sono.
Mildred, ao abrir a mesinha ao lado da cama, pega uma chupeta e delicadamente a coloca na boca de Amélia, que, imersa no sono, aceita-a passivamente, chupando-a como uma criança pequena.
A chupeta, com sua textura macia, encontra a boca de Amélia, que a recebe como um refúgio inconsciente. Seus lábios, inicialmente tensos, cedem à sucção ritmada, enquanto a pequena peça de plástico se torna uma espécie de muleta emocional. A expressão serena de Mildred contrasta com a vulnerabilidade de Amélia, evidenciando sua obsessão em cumprir oque talvez acredita que deveria assumir como papel neste momento.
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Admirável Mundo.
AdventureEm um sombrio futuro distópico, nossa heroína, Amelia, perdeu a mãe em circunstâncias misteriosas e é enviada para um novo lar adotivo. No entanto, ao chegar, ela descobre que este não é um lar comum. Ela é recebida por um casal mais velho, os Drayt...