Capítulo 4

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A realidade de um órfão envolve ansiar constantemente pela liberdade, na esperança de que alguém venha buscá-lo em algum momento. É difícil esconder este ressentimento em ser mais um órfão em meio a milhões, dormindo em dormitórios destinados às garotas no terceiro piso (de 12 a 18 anos) com uma cama dívida.

Um leito de ferro com colchões finos e cheios de grudes cobertos com tecidos encardidos que, embora fosse emborrachado, cheiravam a xixi. Em posições panorâmicas sob as beirais do velho edifício de tijolos em grandes quartos retangulares lotados e mal iluminados mesmo durante o dia, sufocante e abafado em dias ensolarados de verão, e gélido com correntes de ar frias e úmidas em dias chuvosos sem sol.

Compartilhamento das gavetas das cômodas, em que apenas poderiam ter duas mudas de roupa, sendo dois macacões de algodão azul e duas blusas brancas de seda, lençóis pouco lavados e roupas íntimas. Você receberia meias, sapatos e galochas, uma capa de chuva e um casaco leve de lã. Se estragasse, ficariam a viver sem nada à própria sorte, nada era substituído, apenas roubado entre elas mesmas.

Havia se passado apenas um dia desde seu novo status de tutela mudado pelo município. Amélia como uma boneca esfarrapada de olhos esverdeados, em sua primeira noite na mansão colonial marrom de três andares dos Draytons, acordou nadando na madrugada sobre a cama, aos gritos, afogando-se em uma cachoeira de lençóis. E aos poucos, com a chegada da consciência, parecia afundar em sentimentos. Passou-se um bom tempo antes de seus gritos pararem; os gritos da órfã com os sons do mobíli traziam uma atmosfera assustadora.

Com o silêncio generalizado na mansão, a órfã, ainda tremendo, percebeu uma presença sutil no quarto. Ao escutar seus gritos, Doom Draytons, seu novo pai, sentou-se na cama, acariciando, e a abraçando com delicadeza. Ele chegou em meio aos gritos e apenas saiu quando notou sua sonolenta calma. Com o olhar ensopado, Amélia chorava em suas mangas, coçando os olhos com força ávida. Logo depois das três horas, retornou a se deitar com calma com o cheiro de gel capilar do senhor.

Temerosa, em vivos turbilhões de sensações, entre danças de pesadelo e o consolo de atrair uma atenção tenebrosa do abraço paterno de Doom. O aroma do gel capilar parecia ter acalmado seus temores, envolvendo-a em um sono mais sereno após as horas tumultuadas.

Ao descer as escadas, segurando as barras do corrimão, quieta, usava as vestes de dormir amassadas, estava descalça, e seus cabelos eram curtos, escuros e bagunçados, que caiam soltos sobre os ombros. A senhora Draytons sentada olhava para a aliança, mexendo nela com o polegar e girando-a em círculos ao redor de seu dedo. Ao observar o anel em sua mão, completamente compenetrada em sua ação. Ao levantar a cabeça de vagar, não pareceu surpresa ao notar Amélia surgindo pelo corredor. O que apenas a fez se levantar em seguida, se aproximando.

- Está mais calma, querida ? - Ela se refere aos gritos da noite tumultuada; inclina para dar um beijo na cabeça de Amélia, cujos olhos se abaixam em resposta. A jovem assente levemente, mas a incerteza ainda paira em seu olhar, como uma sombra possesora.

A senhora Draytons estende um ursinho amassado em direção a Amélia, um gesto que carrega uma mistura de autoridade e expectativa. " Achei em sua mala, achei que gostaria de tê-lo novamente. " Diz, enquanto seus olhos penetrantes fixam-se na órfã. Amélia, com mãos trêmulas, começa a alisar as rugas do tecido, com suas palavras escondidas em meio ao silêncio tenso da sala de estar grandiosa.

- Espero que não fique chateada comigo, por mexer em suas coisas. Precisava analisar se houvesse algo a ser salvo. E este ursinho, me pareceu bem satisfatório. Quero lhe dar o melhor que possa te proporcionar uma bela estadia. Está mansão agora é seu lar. - Sussurra a senhora, como se lesse seus pensamentos não ditos.

- Não estou brava. - A jovem hesita ao responder, com angústia. Mas não deixando de pensar " Porque diabos ela mexeu em minhas coisas ?''

Mas ao mentir, seu tom carregava o peso da incerteza. A mansão deveria ser seu novo lar agora, mas sentia que não poderia confiar no que seus olhos viam, principalmente no que ouvia naquele lugar desconhecido. Até às falas da senhora, não pareciam verdadeiramente verdadeiras. Onde a ternura momentânea de Doom Draytons contrastava com a frieza e a observação de sua nova mãe.

Entre os suspiros do tecido do brinquedo sendo alisado, a senhora Draytons rompe novamente o silêncio com palavras cuidadosamente escolhidas: "Às vezes, a mudança pode ser desconcertante, Amélia. Mas esta casa é generosa, e com o tempo, você se acostumará com as regras e com nossas expectativas."

Amélia ergue os olhos brevemente, capturando o olhar penetrante da senhora. "Aqui, você encontrará oportunidades que jamais sonhou. " A promessa paira no ar, mas sua natureza exata permanece evasiva, como uma sombra fugidia. " Eu lhe garantirei isso. "

Na imensidão silenciosa da mansão, enquanto Amélia abraça o ursinho, sorrindo forçadamente, finalmente escolhendo quebrar o silêncio tenso. ''Eu de verdade, não consigo evitar me sentir .. des - deslocada." - Sua voz, embora firme, trazia um eco de vulnerabilidade, uma nota de incerteza que se exacerbou no amplo corredor.

- Eu entendo como se sente, mas você irá se adaptar. - Amélia espera pelo fim da frase, mas ela para de falar. Fazendo com que a jovem simplesmente desista de dizer algo,como se fosse complicado demais tentar encontrar palavras para transparecer o que pensa. Na verdade, Amélia prefere se expressar em termos mais vagos por medo de se aprofundar demais nas coisas. Sempre temerosa em deixar a mostra algum sentimento a mais do que o outro.

A senhora Draytons, com um sorriso meticulosamente composto, olha para Amélia e diz: "Querida, está tarde, eu gostaria muito que conhecesse a cidade. Podemos fazer compras, o que acha? Faça sua higiene pessoal, estarei te esperando aqui em baixo"

- Parece divertido. - Engoliu um seco, abrindo um sorriso tenso, que não mostrasse seus dentes.

A senhora Draytons continua, com uma expressão serena. - Doom está ocupado com alguns assuntos urgentes relacionados aos negócios. Ele lamenta profundamente não poder acompanhá-la hoje, mas podemos ter um tempo, apenas nós meninas. - Mildred mexendo na aliança, sorri. - Não demore. - Ajeitando seu pijama amassado, dando novamente carícias em seus cabelos, o rodando entre seus dedos, formando cachos.

Amélia percorre em meia lua os andares superiores, correndo pelos corredores com seu ursinho de pelúcia. Seu desejo apenas era ansiosamente subir, sem ser chamada ou tocada novamente. Uma voz sussurra, "Amélia, seja paciente consigo mesma, dê uma chance."

...

- À realidade se torna tão insignificante com as nossas grandes ambições aqui, não acha querida? - Dizia ao caminhar sobre a calçada da rua, segurando as mãos de Amélia. Ação totalmente ignorada pelos moradores que passavam ao seu lado, fazendo exatamente isto com seus possíveis filhos. Amélia se afastava, tentando se libertar das mãos da senhora que a segurava, mas cada vez que se afastava, ela a segurava com mais força.

- Sim, senhora Draytons, acredito ser verdade. - Por dentro, ela se perguntava se suas ambições realmente se alinhavam com as promessas feitas nas falas imponentes do casal. Dizendo baixo para si mesma. '' Às vezes, parece que as ambições aqui sufocam as coisas simples e reais. A liberdade, por exemplo, parece tão distante. ''

Ao chegar em uma loja de roupas, Amélia analisa suas paredes coloridas de concreto que exibem uma pintura desbotada com o logotipo da loja, um design extremamente trabalhado. A janela frontal é grande, revelava às tantas árvores da região.

Acima da porta de entrada, uma placa metálica exibe o nome da loja em letras cartoons, que destacam as letras e a coloração em detrimento da estética. De decorações alegres e imagens vibrantes que caracterizam típicas lojas de roupas infantis; mas também transmitindo uma sensação de uniformidade e conformidade.

Uma luz fraca, proveniente de lâmpadas fluorescentes embutidas no teto, ilumina timidamente a entrada, lançando sombras acentuadas sobre o logotipo desgastado. Se prestar um pouco mais de atenção, se nota uma fachada atmosfera sombria e controladora da sociedade distópica, onde a individualidade é suprimida em prol da ordem rígida.

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