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Meu coração parecia estar alojado em meu estômago desde o dia em que minha mãe falecera. Batia com uma mistura de ódio e arrependimento, uma dualidade que me consumia por dentro. Eu me culpava por sua morte, pois sabia que a culpa era totalmente minha. Era eu que deveria ter cuidado dela adequadamente, especialmente depois que meu pai nos abandonou. E eu tinha fracassado.
Após a discussão com a Sra. Draytons, eu me vi obcecada novamente pela minha própria limpeza, como se pudesse lavar minha culpa e trazer de volta minha mãe.
Mas não importava o quanto eu me lavasse com sabão, eu nunca conseguia me sentir verdadeiramente limpa. E em vez disso, comecei a entender que nada nunca poderia me limpar, que a limpeza do arrependimento estaria para sempre sobre mim. E que o sabão era o cheiro dela. E quanto mais eu me lavava, mais eu acabava me machucando. Quanto mais limpa, mais suja.
Lembro-me que o tempo era confuso na minha infância. E com os dias, eu acabava sempre acreditando que as coisas sempre haviam sido assim. Minha mãe costumava me botar em sua cama. Na cama de casal onde deveria dormir com o homem que eu chamava de pai, mas, na verdade, quem dormia era eu. Quando meu pai chegava do trabalho, o sol já estava entrando pelos furos da persiana, ele apalpava a cama e encontrava no caminho para o corpo da minha mãe a minha carne enrolada sobre os lençóis de pano.
"Eu tenho pesadelos," dizia ela. "Fui obrigada a trazê-la para a nossa cama." Era o que sempre pronunciava. Não sei ao certo até quando ele desistiu. Apenas passou a dormir por um tempo no sofá azul e imundo da sala, e logo depois se transferiu para a minha pequena cama.
Minha mãe sempre parecia estar à espreita, pronta para capturar qualquer sinal de afeto no ar. Mas esses momentos de ternura eram rápidos, dissipados rapidamente pela presença dela na porta da cozinha, seus olhos cheios de acusação enquanto encontrava uma desculpa para me afastar dele. Meu pai nunca contestou. Na verdade, eles raramente discutiam. Ele simplesmente se calava e partia para o trabalho, onde atuava como guarda noturno. Era mais fácil assim.
Meu pai caminhava com uma sombra fantasmagórica onipresente, definitivamente à espreita. Eu sentia uma raiva profunda. E continuei cultivando esse sentimento pelos homens depois dele.
Sentia que podia tocar a fragilidade das pessoas com a ponta dos dedos, mas com ele, nunca sequer tive coragem suficiente de vencer a distância estabelecida entre nós. Porque de algum modo, eu sabia que meu pai era uma vítima fatal da minha mãe, como igualmente eu também era. Queria que ele fosse embora, mas não conseguia imaginar a ideia de viver sem a presença indefinida dele.Quando ainda era pequena, costumava ouvir a todo momento dizerem como eu havia sido uma criança irritante, e que quando falava, gostaria de aparecer, como era covarde, egoísta, imbecil e calculista. Eu sorria e mentia dizendo que não me importava, mais ainda me importo. Pedia a Deus que me desse outra personalidade ou vida, uma que não criasse antagonismo com todo mundo. Mas infelizmente estou presa como ao qual nasci, e mesmo assim, tenho certeza que não foi minha culpa. Acho que por isso agora, costumo sorrir tão raramente, não me importo mais que as pessoas vejam o que tanto costumava esconder.
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Uma noite, diferente das outras, decidi não ir para a cama dela. Em vez disso, deitei-me na cama de solteiro que agora pertencia ao meu pai. Quando minha mãe veio me buscar, dei um grito, surpreendendo-a. Adormeci sentindo-me vitoriosa. No entanto, em algum momento durante a noite, despertei em meio à escuridão total. Uma sensação sufocante tomou conta de mim, impedindo-me de respirar normalmente. Gritei desesperada, e só então ela veio até mim, carregando-me de volta para sua cama. Pude vislumbrar sua satisfação através da cortina. Ela havia vencido novamente, como sempre.
Mas desta vez, algo era diferente. Senti nela sua fúria latente, querendo mais do que minha simples rendição. Ela desejava minha submissão completa, tal como o casal Draytons. Ao me deitar em sua cama, ela abriu a camisola, sem se importar com o barulho dos botões se soltando.
Ainda me recordo como se fosse ontem, o barulho, a escuridão, e o momento que eu entendi o que ela queria de mim quando me mostrou seu enorme seio. Um seio esbranquiçado como leite. Que cheirava a sabão caseiro, como tudo nela. Gosto de pensar que fui obrigada, mas sei que parte de mim, a parte que renego em mim, não queria decepcionar -lá.
Quando meu pai chegou do trabalho eu ainda mamava o leite que me envenenaria por toda a vida. Com nojo, ele me encarou, e notei a derrota naquele olhar sem palavras que cruzou o quarto enquanto ela roncava com a cabeça atolada sobre a cama. E logo na manhã seguinte, ele havia me abandonado, me deixando sozinha para ser devorada por ela.
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Admirável Mundo.
AdventureEm um sombrio futuro distópico, nossa heroína, Amelia, perdeu a mãe em circunstâncias misteriosas e é enviada para um novo lar adotivo. No entanto, ao chegar, ela descobre que este não é um lar comum. Ela é recebida por um casal mais velho, os Drayt...