Capítulo trinta e sete - Confiança.

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      No primeiro disparo tudo ficou em silêncio, as pessoas ficaram em silêncio e em por alguns segundos o coração de Thomas parou. Sentiu-se morto com o medo sem nem ao menos ter sido atingido pela bala.
  
    No segundo disparo, sentiu-se um pouco mais vivo, uma descarga de adrenalina percorre seu corpo. Os ossos tremeram. E foi no terceiro disparo que todos se deitaram no chão.

      Foram os quinze segundos mais insanos de toda vida de Thomas, já havia passado por muitas coisas que o ocasionou o medo da morte, como por exemplo, a primeira vez que voou de helicóptero e a primeira vez que viajou de navio. Nunca se sentiu tão em perigo quanto hoje.

       Em sua cabeça só se passava uma coisa, Zendaya sozinha dormindo na cama deles. Dormindo, alheia de tudo o que estava acontecendo. Ou o pior, e se Trevor tivesse a encontrado primeiro. Se tivesse sido covarde em matar uma mulher indefesa? Zendaya não era indefesa, estava longe de ser. Era mais corajosa que ele, mais forte que ele, mas estava dormindo, vulnerável a qualquer ataque. O peito apertou.

— E-eu não co-con-consigo res-pi-pirar. — Thomas levou as mãos ao peito, era quase como se estivesse tendo um enfarto.

— Rápido, liguem para a polícia. — Róger diz baixinho, abaixado ao lado do Príncipe. — Vamos, se acalme.

— E-e-eu de-dei-deixe-ei a Z-zen-zen-ze… — Bastava um pico de nervosismo e a gagueira voltasse. Thomas detestava ser gago, detestava o olhar das pessoas quando ouviam sua gagueira.

— Você deixou sua namorada dormindo? — Róger perguntou tentando facilitar a comunicação, Thomas concordou com a cabeça e fungou um pouco deixando as lágrimas grossas escorrerem sobre seu rosto. Mais um disparo foi ouvido, Thomas ofegou. — Não vamos deixar nada acontecer, tudo bem?

      E se já tivesse acontecido? E se quando ele chegasse em casa não houvesse mais uma Zendaya para ele chamar de linda ou beijá-la até adormecer. Thomas sentia seu coração doer. Uma dor física insuportável, sentia culpa também, culpa por colocar pessoas a sua volta em perigo.

       Barulho de coisas quebrando. Xingamentos. Silêncio.

— Vamos Alteza, protocolo de segurança. Temos que retirá-lo daqui. — Um homem alto diz, postura firme,  impecável. — O caminho está livre, faremos todos os procedimentos com a polícia local, mas temos que tirá-lo daqui. — Thomas levantou com muita dificuldade, as pernas estavam extremamente bambas, pareciam ser feitas de gelatina.

      No saguão avistou Trevor no chão, imobilizado pela polícia. Os olhares se encontraram antes que Thomas fosse escoltado para fora do estabelecimento. Foi do lado de fora que teve certeza que perderia seu emprego e possivelmente seu restaurante favorito. A mídia estava em massa do lado de fora, câmeras apontadas para o príncipe que usava seu uniforme simples, a camisa amarela, bege e verde musgo, a calça verde musgo, o boné e a touca de proteção nos cabelos. Os braços ainda sujos de farinha. Não tinha vergonha de ter arranjado um emprego, estava ligeiramente feliz por isso, principalmente por estar rodeado por pessoas tão adoráveis que zelam pela sua privacidade e bem estar. Odiou ser príncipe mais uma vez.

    Durante todo o caminho se manteve em silêncio, sentia sua cabeça latejar e seu corpo febril. Fazia tempo que suas emoções não o deixavam fisicamente doente, sentiu-se fraco e frágil.

    O choque veio ao chegar em frente à sua casa. A imprensa ali, estacionada. Cercando o jardim, havia carros de polícia. Thomas não esperou o carro parar para saltar para fora, o coração saiu pela boca. As roseiras, os gnomos de jardim, os arbustos, o casal de esqueleto se amando juntamente com os cães esqueletos, a obra de Halloween que representava a sua família, estava em pedaços no gramado esburacado. Ele prometeu tirar a decoração de Halloween, mas Zendaya pediu para que ele a deixasse mais um pouco, gostava de ver a representação da família feliz que havia construído. A placa “O amor mora aqui” estava partida ao meio, suja de terra. A janela estava quebrada.

Like in a Fairy Tale • TomdayaOnde histórias criam vida. Descubra agora