Prólogo

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A morte é sorrateira, chega como quem não quer nada, faz ali sua morada e, com o tempo, leva de nós o nosso bem mais precioso.
Garrafas e mais garrafas de bebidas, comprimidos, drogas injetáveis, aquele era o cenário no qual mamãe vivia. Era uma viciada assumida, quando estava fora de si, ela falava coisas absurdas, fazia coisas absurdas que pareciam ser pagadas de sua memória durante o sono. Ela não precisava daquilo, ela sabia que não.
Mas, vamos falar novamente sobre a morte: levou aquela mulher num único sopro, assim como leva muitos outros. Nem deu a chance da despedida, do último "oi", do último "adeus".
Mamãe nunca foi flor que se cheire, mas, tirando todos os homens que frequentavam a nossa casa e os surtos, tirando as noites de gritaria que pareciam nunca ter fim, ela era uma pessoa agradável. Sempre fazia tudo por mim e Alice. Tomávamos sorvete aos domingos e passeávamos pelo trecho ao redor no lago nos sábados, fazíamos programas em família, gostávamos de ir ao cinema, teatro, à praia... Quando a minha mãe estava sóbria, o mundo até parecia ser um lugar bom.
Naquele dia, a minha irmã me olhou com olhos de chuva, como se o mundo inteiro estivesse sendo alagado pela sua angústia. Eu não conseguia sentir nada diferente daquilo. E agora? A quem pediríamos ajuda?
Onde iríamos?
O que nos esperaria dali em diante?
Com tantas perguntas ecoando em minha cabeça, a única coisa que eu conseguia dizer era um longo e sonoro
"NÃO!".

Helena - Dançando na LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora