Underwater

Prólogo

— Experimento n°18: a cobaia não demonstra sinais de agressividade, marcas pelo corpo ou qualquer coisa que a identifique como não-humana. Em mais alguns testes, poderemos afirmar se possui ou não capacidade para conviver entre os humanos e melusines sem ser percebida — o estudioso disse, gravando em um aparelho projetado por seu grupo para guardar informações por voz.

Deixando o dispositivo sobre a mesa central, o estudioso se aproximou da aberração com forma humana com um bloco de notas, escrevendo qualquer coisa que a apontasse como diferente das outras.

— Você é... perfeita! — Rodeou o tubo de observação aquática, admirando sua "obra-prima". — Quando a diretora souber que eu consegui criá-la, serei promovido e poderei aprofundar ainda mais meus estudos em espécimes diferentes da sua e... Ah! — A forma abriu os olhos, o encarando.

Seus olhos possuíam as escleras escuras e íris como as de uma cobra – douradas e com um risco em seu centro.

— Ok, talvez não seja tão perfeita assim. Mas parece... suficiente. Consegue esconder pelo menos essa parte escura?

Ela não se moveu. Não realizou sequer um movimento brusco. Apenas seu respirar abaixo da água era notável.

O estudioso soltou um suspiro frustrado.

— Parece que terei de juntá-la aos outros. — Atirou o bloco de notas à mesa, perdendo o ar entusiamado de segundos atrás. — Eu cheguei tão perto. Talvez se eu...

Um alarme soou. Um alarme terrível. O pior alarme que poderia soar dentre tantos outros alarmes.

O nível da água estava subindo.

A profecia estava se concretizando.

Todos iriam morrer.

— Droga! — Ele pôs o bloco em uma bolsa de couro junto do dispositivo para gravação de voz, olhando uma última vez para sua última criação. — Um de nós morrerá hoje. E não serei eu. Se não tivesse sido uma falha como tantos outros, poderia vir comigo, Cheshire.

A forma não respondeu. O seguiu com os olhos enquanto a abandonava por ali, para ser possivelmente dissipada pela água do mar primordial junto de tantos outros.

Cheshire. Esse era o nome escrito na plaquinha de seu tubo, junto do número do experimento.

Cheshire, experimento n°18.
Aquela que quase deu certo.