Capítulo V

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Eu não sou sua irmã. É apenas uma coincidência cada uma dessas coisas que Raven diz ser verdade… ou se assemelhar à verdade.

— Me chame de Claire. — Ofereço minha mão para ele, como uma oferta de também um novo começo.

O jovem me encara, tão surpreso que para de se ferir. Então aperta minha mão, um brilho genuíno e baixo de alegria atinge seus olhos.

— Raven, veja bem. — Indico o lado de fora, com Neuvillette e Sigewinne nos observando. — Eles querem nos estudar. Devido nossas… condições, não seremos julgados de fato ou presos. — Só então me recordo de estar dentro de uma cela com ele. — Ah. Quero dizer, bem, eles vão nos estudar para entender meus problemas com água e os seus com pessoas. Em breve, você será solto.

Ele assente, mais calmo.

Essa calma não dura muito, porque seu corpo logo se enrijece e ele volta a se coçar.

Tem alguma coisa errada.

Pego suas mãos nas minhas e outro flash me atinge.

Novamente, no corpo de um garotinho, vejo um tubo de teste repleto de água. E uma criatura pequena dentro, de cabelos pretos e olhos fechados, descansando em posição fetal.

Sacudo a cabeça para sair do que quer que seja isso e puxo Raven contra mim, o abraçando para evitar novas feridas.

Um homem de cabelo escuro e olhos claros, consideravelmente velho, entra no cômodo e imediatamente entendo o que deixou Raven assim.

Um humano.

— Neuvillette — cumprimenta, antes de olhar para nós dois.

O experimento me abraça com força, como se eu fosse sua única esperança de manter algum controle e isso, de certo modo, me abala.

Não há dúvidas. Ele realmente tenta.

— Wriothesley — o Iudex cumprimenta de volta. — Alguma atualização?

— Alguns mensageiros meus chegaram em Sumeru para contactar qualquer estudioso que esteja disposto a nos ajudar com o que quer que estejamos lidando. — Passa a mão pelo cabelo, um tanto frustrado. — É difícil acreditar que um garoto tão jovem tenha matado tantas pessoas.

A pressão do aperto aumenta. Seus punhos se fecham, o tornando um tanto quanto desconfortável.

— Tenho a ideia de que a cena que vemos agora revela uma tentativa de autocontrole excepcional — diz o Iudex.

— Se não estivesse funcionando, eu diria que seria melhor o senhor correr, Duque — a melusine diz e não consigo distinguir se seu tom é sério ou de brincadeira.

— Acredita mesmo que Neuvillette deixaria algo acontecer a mim? — Wriothesley cruza os braços, divertido.

— Não vejo como Raven poderia ser uma ameaça enquanto contido aqui, mas caso fosse necessário, evacuaríamos imediatamente a Fortaleza Meropide e eu me certificaria de que ninguém se ferisse.

— Às vezes esqueço de sua incapacidade de identificar brincadeiras.

A pressão aumenta ainda mais e temo não conseguir respirar caso haja mais um aumento dela.

— Bem, como têm tudo sobre controle, vou me retirar. Qualquer coisa, não hesitem em me contactar.

O "Duque" retira-se, por fim, e, distante o suficiente, sinto que tenho muito mais liberdade para respirar do que antes.

— Como se sente? — pergunto, sem o soltar.

Ele não responde. Ele não me solta. Espera que eu encerre o abraço. E eu o faço.

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