Uma mão toca meu ombro com delicadeza. Ignoro o contato.
— Por favor, diga que veio me levar a julgamento e me prender — imploro. — Eu mereço a mesma sentença da Arconte Hydro.
Neuvillette suspira.
— Na verdade, vim pedir que se deite na cama. Não a deixei em meu quarto para que se encolhesse num canto e ficasse por horas, sem comer ou descansar.
— Vá embora — peço. — Não quero feri-lo como a Alhaitham. Ou…
— Não me atacará, Claire. Eu sei que não.
— Como tem tanta certeza?! — Finalmente o encaro, com meus olhos inchados e o rosto ainda molhado.
O juiz se abaixa e, para minha surpresa, senta-se ao meu lado, ao chão.
— Não posso deixá-la sozinha nesse estado.
— Estarei atrapalhando suas obrigações.
— Eu as adiei.
Arregalo os olhos.
— Você fez o quê? — pergunto, incrédula.
— Tenho que saber definir minhas prioridades como juiz, Claire. E você é a principal delas. Seu caso deve ser resolvido junto de tudo o que a envolve e seu…
— Crime.
— …deslize. Seu deslize é um sinal óbvio de que devo me apressar com isso.
— Matar alguém não é um deslize.
— Então acredita que Raven cometeu tantos crimes num dia?
— Não, ele não teve culpa se não… — Ah. Abaixo a cabeça. — …conseguiu manter o controle.
Nem eu me imaginava altruísta ao ponto de querer ser punida por algo que fiz e não querer que outra pessoa fosse punida pela mesma ação.
— Raven está preso, ainda assim.
— Porque ele não tem capacidade para interagir com humanos sem feri-los. E devo lembrá-la quem trouxe Alhaitham até aqui?
Respiro fundo, cansada.
Alhaitham estava exausto, e nem imaginávamos o motivo. E mesmo depois de trazê-lo, quem suturou a ferida em seu ombro fui eu. Nada mais justo.
— Eu quase o ataquei também.
— Mas não atacou.
Encaro o juiz nos olhos. Não é possível que ele realmente esteja fazendo pouco caso do meu crime.
— Ao menos me diga que esse agora será o meu cárcere privado.
— Não vim aqui para mentir para você.
Dou de ombros.
— Continuo acreditando que merecia um julgamento.
— Ninguém sabe que matou alguém.
— E gosta de esconder isso das pessoas que confiam em você? — Arqueio uma sobrancelha.
— Ainda estamos investigando o ocorrido e, ao que consta, o cientista que você matou havia sido registrado como morto há anos.
Como?
Coço por sobre a roupa meu ombro que anteriormente seringado.
— Parece então que eu corrigi isso. — Dou uma risada sem graça e minha visão começa a nublar mais uma vez. Tenho dores de cabeça de tanto chorar e nunca me senti tão vulnerável.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Underwater
FanfictionUma instituição de pesquisas secretas que fora destruída quando a água do mar primordial subiu deixou seus vestígios: humanoides com afinidades aquáticas que detestam humanos. Como o único protetor de Fontaine, o mais novo substituto da Arconte Hydr...