Capítulo IX

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Uma mão toca meu ombro com delicadeza. Ignoro o contato.

— Por favor, diga que veio me levar a julgamento e me prender — imploro. — Eu mereço a mesma sentença da Arconte Hydro.

Neuvillette suspira.

— Na verdade, vim pedir que se deite na cama. Não a deixei em meu quarto para que se encolhesse num canto e ficasse por horas, sem comer ou descansar.

— Vá embora — peço. — Não quero feri-lo como a Alhaitham. Ou…

— Não me atacará, Claire. Eu sei que não.

— Como tem tanta certeza?! — Finalmente o encaro, com meus olhos inchados e o rosto ainda molhado.

O juiz se abaixa e, para minha surpresa, senta-se ao meu lado, ao chão.

— Não posso deixá-la sozinha nesse estado.

— Estarei atrapalhando suas obrigações.

— Eu as adiei.

Arregalo os olhos.

— Você fez o quê? — pergunto, incrédula.

— Tenho que saber definir minhas prioridades como juiz, Claire. E você é a principal delas. Seu caso deve ser resolvido junto de tudo o que a envolve e seu…

— Crime.

— …deslize. Seu deslize é um sinal óbvio de que devo me apressar com isso.

— Matar alguém não é um deslize.

— Então acredita que Raven cometeu tantos crimes num dia?

— Não, ele não teve culpa se não… — Ah. Abaixo a cabeça. — …conseguiu manter o controle.

Nem eu me imaginava altruísta ao ponto de querer ser punida por algo que fiz e não querer que outra pessoa fosse punida pela mesma ação.

— Raven está preso, ainda assim.

— Porque ele não tem capacidade para interagir com humanos sem feri-los. E devo lembrá-la quem trouxe Alhaitham até aqui?

Respiro fundo, cansada.

Alhaitham estava exausto, e nem imaginávamos o motivo. E mesmo depois de trazê-lo, quem suturou a ferida em seu ombro fui eu. Nada mais justo.

— Eu quase o ataquei também.

— Mas não atacou.

Encaro o juiz nos olhos. Não é possível que ele realmente esteja fazendo pouco caso do meu crime.

— Ao menos me diga que esse agora será o meu cárcere privado.

— Não vim aqui para mentir para você.

Dou de ombros.

— Continuo acreditando que merecia um julgamento.

— Ninguém sabe que matou alguém.

— E gosta de esconder isso das pessoas que confiam em você? — Arqueio uma sobrancelha.

— Ainda estamos investigando o ocorrido e, ao que consta, o cientista que você matou havia sido registrado como morto há anos.

Como?

Coço por sobre a roupa meu ombro que anteriormente seringado.

— Parece então que eu corrigi isso. — Dou uma risada sem graça e minha visão começa a nublar mais uma vez. Tenho dores de cabeça de tanto chorar e nunca me senti tão vulnerável.

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